A cruz escondida

Comunidade cristã do Paquistão vive alarmada após ataque em Jaranwala

Dias de tristeza e medo

Mais de duas dezenas de igrejas e centenas de casas foram destruídas por radicais muçulmanos a 16 de Agosto em Jaranwala, no Paquistão. Até um cemitério foi atacado e profanado. Mas, apesar do medo e apenas quatro dias depois, os cristãos voltaram a reunir-se e a rezar numa das igrejas atacadas. Onde ainda cheirava a queimado…

Tudo começou por causa de uma acusação de blasfémia. Mais uma vez, bastou isso para acender o rastilho da violência. Foi em Jaranwala, no Paquistão, no dia 16 de Agosto.  A destruição foi de tal ordem que gerou até uma onda de indignação mesmo entre a comunidade muçulmana. De facto, o ataque contra a comunidade cristã foi brutal. Residentes afirmam ter visto um cristão a arrancar folhas de um exemplar do Corão, atirando-as para o chão. Foi o suficiente. Uma multidão de muçulmanos enfurecidos e armados com bastões e pedras começou a atacar igrejas e casas de cristãos, queimando-as, destruindo-as. Usman Anwar, chefe da polícia do estado do Punjab, disse mesmo que os acontecimentos em Jaranwala foram “trágicos”. Logo depois do ataque, o Arcebispo de Lahore, D. Sebastian Shaw, visitou as famílias, rezou com elas e procurou consolá-las. Este bispo, que ainda em Maio esteve em Portugal, tendo participado numa iniciativa da Fundação AIS em Évora, falou numa “destruição terrível”. “As pessoas estão desesperadas, não têm nada. Cabe a nós trazer um pouco de conforto, tornando-nos testemunhas do amor de Jesus”, disse o prelado, assegurando que os cristãos de Jaranwala nunca estarão sozinhos neste sofrimento e que a Igreja cuidará deles.

Rezar junto às ruínas

Apenas quatro dias depois do ataque, os cristãos de Jaranwala deram uma lição espantosa de coragem. Junto a uma das igrejas atacadas, mais de 700 pessoas assistiram à Missa. Foi um momento doloroso, mas cheio de significado. A Missa desse domingo, 20 de Agosto, decorreu na rua, ao lado das ruínas do templo incendiado. O cheiro a fumo ainda persistia no ar. Houve quem não aguentasse as lágrimas. Infelizmente, este tipo de violência contra os cristãos é comum no Paquistão. Tem sido assim desde há demasiados anos. Basta haver uma acusação de blasfémia, normalmente apenas mentiras, injúrias, para que alguém sofra na pele a violência e o ódio dos grupos radicais muçulmanos. É preciso fazer justiça. Os Bispos do Paquistão emitiram mesmo uma declaração pedindo “medidas severas” para os autores dos ataques. “A comunidade cristã tem sido aterrorizada e amedrontada por um pequeno grupo de malfeitores para os fazer crer que os cristãos são, de facto, cidadãos de segunda classe no Paquistão e que continuarão a sê-lo. Pedimos ao Governo que tome medidas firmes para proteger as minorias, para que tais incidentes não se repitam no futuro”, disseram os prelados.  Mas talvez o mais importante da declaração dos bispos paquistaneses esteja na pergunta: “será que se fará justiça?” As lágrimas de dor e de impotência dos fiéis que assistiram à Missa de Domingo, dia 20 de Agosto, ao lado das ruínas da sua igreja destruída quatro dias antes, são a prova de que no Paquistão os cristãos continuam a ser, de facto, uma comunidade desprezada e o mundo parece continuar a ignorar o que se passa neste país no que diz respeito à violação sistemática da liberdade religiosa.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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