A cruz escondida

A história de uma capela que teve de ser construída duas vezes

Uma casa para Deus

Uma comunidade tribal numa das regiões mais pobres da Etiópia mostra que não há limites quando um povo anseia por um lugar de oração. E mostra também que a solidariedade dos benfeitores da Fundação AIS chega aos locais mais improváveis do planeta…

Primeiro as pessoas reuniam-se debaixo de uma árvore para rezar. Depois começaram a erguer paredes entrelaçando ramos e cobrindo-os de lama. A capela foi surgindo frágil, quase como um prolongamento do chão, como se estivesse camuflada. A construção da capela foi um acontecimento. Mais do que o edifício em si, era a prova de que ali havia uma comunidade cristã. E essa era outra construção, a prova da existência de uma realidade bem mais profunda, com outras raízes. O Padre Isaiah Sangwera conhece bem toda a região. Ele e dois outros sacerdotes combonianos são o único sinal da presença da Igreja nesta região. Por vezes, têm de se fazer à estrada por caminhos difíceis, de terra ressequida. “Andamos até 70 quilómetros para chegar à aldeia mais distante”, diz o padre a Madalena Wolnik da Fundação AIS, que esteve na região a captar imagens para um documentário. “Temos de andar para chegar às pessoas…” As pessoas a que se refere o sacerdote são os Gumus. Uma tribo que habita nas terras no noroeste da Etiópia onde a natureza é profundamente austera.

 

Voragem das térmitas

A construção da capela é sinal do trabalho persistente da Igreja numa zona onde as religiões tradicionais são ainda muito fortes. O afecto constrói-se na presença. Chegar às pessoas, levar carinho, conhecer os problemas de cada um, ajuda a fazer comunidade. “É preciso – acrescenta o Padre Isaiah – estar presente para ver o que estão a fazer, como vai a vida cristã e a sua vida social…”Os Gumus são uma tribo. Por ali, a existência de uma capela representa muito. Para este povo semi-nómada, com uma longa história de opressão e marginalização, a capela é um símbolo, uma conquista. Mas a capela construída com as mãos que amassaram a lama e entrelaçaram os ramos não resistiu muito tempo. As paredes de construção alimentaram a voragem das térmitas até ao quase desmoronamento. As paredes de ramos e lama começaram a desfazer-se. Aos poucos, foram ganhando buracos, o telhado começou a ceder e a capela tornou-se um local perigoso. Ninguém podia estar ali em segurança.

 

Caminhada de fé

Era preciso fazer alguma coisa. Os padres combonianos pediram ajuda. São três sacerdotes. O Padre Isaiah, oriundo do Quénia, o padre John, italiano, e o padre Elvis, do Peru. A região é das mais pobres da Etiópia, um dos países mais pobres do mundo. A construção de uma nova capela com paredes de tijolos em vez de ramos teria um custo insuportável para a comunidade. Porém, com a ajuda da Fundação AIS, o edifício ganhou vida. É um marco para a região. “Quando se tem uma capela no meio de uma aldeia, encontramos a presença de Cristo na aldeia…” O Padre Isaiah não esconde a sua alegria. Foi uma caminhada de fé que começou com a população da aldeia a rezar debaixo de uma árvore, apesar do calor por vezes inclemente ou das chuvas torrenciais. Quem diria… “Com o apoio da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre erguemos este novo edifício”, diz agora o padre comboniano com indisfarçável orgulho. “Um novo edifício que é uma casa de Deus onde as pessoas podem reunir-se e adorar. Qualquer um que venha rezar aqui sabe que há a presença de Deus…” E saberá também, diz o Padre Isaiah Sangwera, que a obra só foi possível graças à generosidade dos benfeitores da Fundação AIS. “Que Deus Todo-Poderoso continue a abençoar-vos e que Ele mantenha sempre as vossas famílias seguras. Obrigado!”

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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