A Cáritas é escola de valores

A Cáritas, os portugueses conhecem-na e distinguem-na com sinais de muita generosidade e confiança. Seja para o Sudeste Asiático, para Timor, Angola ou fogos do Verão em Portugal, milhares de pessoas elegem-na como veículo preferencial para a sua participação em muitas acções de solidariedade. Mas a acção da Cáritas, seja em Leiria, em Portugal ou no mundo, não se esgota nas ajudas que mobiliza por ocasião das grandes catástrofes, nem está confinada a uma circunstância ou lugar. Como instituição oficial da Igreja, a Cáritas está ao serviço da ajuda e elevação das pessoas, cuidando de as promover em todas as dimensões. Mas reconhecem-se nela e nos seus objectivos muitas outras pessoas de boa vontade que continuadamente lhe transmitem sinais de apoio e de compreensão. A Cáritas é escola de valores que educa e forma para a justiça e para responsabilidade, promove a consciência colectiva dos problemas sociais, e estimula para a partilha, para a solidariedade interpessoal e para o funcionamento solidário das famílias e das comunidades. Para que ninguém seja excluído das condições mínimas com que se reconhece a dignidade humana, e se criem dinamismos de transformação humanizante da própria sociedade. O próximo dia 27 de Fevereiro é o dia Nacional da Cáritas. Por mais nobre que seja, pode sempre questionar-se o alcance prático de um dia ou semana de uma qualquer causa. Podem até estes dias, de tão banalizados, não escapar a uma indiferença comum e serem submergidos uns pelos outros. Mas há-de dar-se como certo, também, que os horizontes dos homens ficariam mais empobrecidos se, de quando em vez, a proposta de um humanismo novo, e de uma mesa para todos os homens, firmada na justiça e na caridade, não chegasse à praça pública para inquietar consciências e interpelar comportamentos. Os sucessivos dias Cáritas aí estão, pois, para estimular o compromisso real na edificação duma sociedade mais equitativa e humanizada, constituindo também vigoroso apelo à operosidade fraterna para com os mais fracos e marginalizados. Mas à Cáritas cabe também agir nas comunidades cristãs, motivando-as para o compromisso e intervenção na sociedade, ajudando-as a interpretar os sinais de cada tempo, para que possam abrir-se às necessidades dos outros, quaisquer que elas sejam. E não como opção facultativa, mais ou menos dependente do gosto ou das preferências individuais, mas como imperativo inalienável. Até a circunstância de o Dia Cáritas ocorrer invariavelmente no tempo quaresmal, deixará perceber como os valores e propostas que a identificam têm de ser integrados em qualquer projecto individual ou comunitário que se proponha fazer a aproximação às referências maiores da fé. Neste ano da Eucaristia, que comunidade cristã a poderá celebrar e adorar, com seriedade, fechando-se indiferente a esta dimensão essencial? As palavras do papa, em recente carta apostólica sobre a Eucaristia, não deixam lugar a subterfúgios ou dúbias interpretações: “Não podemos iludir-nos: pelo amor mútuo e, em particular, pela solicitude por quem passa necessidade, seremos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Cristo. Com base neste critério, será comprovada a autenticidade das nossas celebrações eucarísticas”. É esta mesma íntima conexão que perpassa pelo lema que a Cáritas Portuguesa escolheu para estes dias, como proposta de reflexão, inspiradora de dinamismos de renovação: “ Partilha o Pão, constrói a Justiça”. Ambrósio J. Santos Cáritas Diocesana de Leiria.

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