Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
Sozinho, na Praça de São Pedro, o Papa abençoou a cidade e o mundo, em tempo de pandemia. Os sinos do Vaticano misturaram-se com o som das ambulâncias de Roma, dando ainda mais vida a uma mensagem clara: estamos todos no mesmo barco. Não aprendemos com as guerras, com a fome, com a miséria, com a crise ambiental, mas talvez aprendamos com este vírus.
“Acorda, Senhor”, disse Francisco. É também um grito para a humanidade, que perdeu o sentido de pertença comum: acorda!
Há que confessar: este momento é assustador. Estamos habituados a correr, toda a nossa vida tem sido definida pela (hiper)velocidade e não paramos por iniciativa própria, apenas porque fomos obrigados. Quero acreditar que muitos vão redescobrir o valor da pausa (e do que alimenta o espírito humano, não apenas a sua conta bancária), mas é preciso evitar que daqui a alguns anos tudo tenha voltado ao mesmo, a crise esquecida, a vida reduzida ao consumo, os ricos mais ricos e os pobres mais pobres…
Também há um plano microscópico que esta pandemia nos revela, e não é o vírus: o meu Eu. Um ser em busca de sentido, muitas vezes ameaçado pela velocidade a que se desenrolam os dias, debaixo do bombardeamento de estímulos e exigências que nem sempre são fáceis de cumprir ou satisfazer.
O que fica de nós quando nos esvaziamos do que nos rodeia? É uma questão fundamental que nos acompanha, de forma particular, nestes dias de isolamento social.
Somos definidos pelo que fazemos? Conseguimos viver sem ruído à nossa volta? Encontramo-nos vazios de nós? E conseguimos desatar os nós que as respostas a estas perguntas levantam?
Esta busca pessoal e comunitária precisa de valores que a guiem e enquadrem, para que as respostas façam sentido e o caminho seja identificável e, acima de tudo, percorrível em conjunto. É aqui que esta crise nos vai definir, como sociedade.