Igreja/Portugal: Afastamento dos jovens é reflexo de «um certo desencanto»

Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios considera essencial «retomar» o dinamismo cristão no país

Barcelona, Espanha, 31 mar 2017 (Ecclesia) – O responsável pelo setor pastoral das Vocações e Ministérios em Portugal diz que a dificuldade da Igreja Católica em chegar aos jovens é reflexo de um país onde a vivência cristã está atualmente em “fase descendente”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, durante um simpósio em Barcelona promovido pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) e dedicado aos desafios das novas gerações, D. Virgílio Antunes salientou que o diagnóstico a fazer não pode ser dissociado do atual contexto social, cultural e religioso do país.

O presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios recorda que a Igreja em Portugal passou de uma fase em que “oficialmente” os portugueses eram “quase todos católicos” para um momento “bastante difícil”, de perda de “dinamismo”, de “confiança” e de “esperança”.

Ver “igrejas a ficar vazias” ou com assembleias envelhecidas, constituídas maioritariamente por “pessoas mais idosas”; constatar a diminuição do número de jovens e de crianças na catequese e nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, neste caso “sobretudo no ensino secundário”.

Olhar para os próprios valores presentes na sociedade, “que se pensava coincidirem com a comunidade cristã” e depois constatou-se que “não é bem assim”.

Todo este cenário, de “um certo desencanto”, representou como que o “desmoronar de uma realidade que porventura era um pouco fictícia, que não correspondia às convicções interiores de fé das pessoas, mas que era uma realidade que aparecia”, salienta D. Virgílio Antunes.

“Retomar” o dinamismo da Igreja Católica em Portugal, “concretamente no que à juventude diz respeito”, é um dos grandes desafios que se colocam nesta altura.

“Temos muitos sinais positivos de que a juventude está numa fase de busca, de busca de Deus, de busca de valores” mas ao mesmo tempo ela “tem muita dificuldade em fazer essa busca dentro da estrutura eclesial”, aponta o bispo de Coimbra, que considera importante buscar inspiração nas “boas práticas” que existem.

Neste contexto, D. Virgílio Antunes considera que o simpósio do CCEE em Barcelona deixou várias propostas que permitirão construir uma pastoral vocacional mais adequada e próxima dos mais novos.

Por exemplo no que diz respeito ao “acompanhamento” dos jovens, que muitas vezes esquecia o nível “pessoal” e se concentrava nas “comunidades mais alargadas”.

Também na promoção de um trabalho mais intergeracional, com lugar à participação dos “mais velhos”, e na busca de “novas linguagens”, de “novas formas” de comunicar com os jovens.

“Precisamos de estar atentos à evolução da sociedade e da própria Igreja, à cultura dos jovens e dos adultos, para podermos enquanto Igreja que evangeliza e que está próxima, ter as formas e os meios, as linguagens, as metodologias adequadas para este acompanhamento”, aponta D. Virgílio Antunes.

O prelado acredita que o próximo Sínodo dos Bispos da Igreja Católica, que vai ser dedicado ao tema dos jovens, irá trazer “perspetivas novas” para a atuação neste setor.

“Iremos sempre na linha de uma maior consciência do lugar da fé na vida de cada pessoa e de cada jovem e comunidade, da dimensão espiritual da vida que muitas vezes está afastada. Tornámo-nos muito materialistas e a dimensão sociológica marca às vezes mais do que a dimensão espiritual da vivência da fé”, conclui aquele responsável.

PR/JCP

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Agência ECCLESIA

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