D. Bashar Warda, arcebispo de Erbil, é o rosto de uma comunidade empenhada em responder ao «sofrimento» de milhares de pessoas
Lisboa, 18 nov 2016 (Ecclesia) – O arcebispo de Erbil, no Iraque, está em Portugal através da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre (AIS), e revelou como o Jubileu da Misericórdia está a ser vivido numa região que acolhe hoje milhares de refugiados e deslocados.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. Bashar Warda salientou que a sua comunidade “foi abençoada pela oportunidade de viver na prática este Ano Santo”.
“Tendo entre nós os refugiados e deslocados foi uma boa ocasião para todas as pessoas mostrarem a sua misericórdia e rezarem por estas pessoas, apoiarem-nas e acompanharem-nas nas suas necessidades”, frisou o prelado.
Situada no Curdistão iraquiano, a Arquidiocese de Erbil funciona hoje como porto de abrigo para cerca de 10 mil famílias que tiveram de abandonar as suas casas devido à perseguição do Estado Islâmico, muitas delas cristãs e vindas de Mossul e da Planície de Nínive.
“O povo curdo acolhe os cristãos e yazidis porque reconhecem que esta (o Iraque) sempre foi a sua terra, há mais de 1400 anos, e compreendem o seu sofrimento porque eles próprios foram perseguidos e o governo aqui está verdadeiramente empenhado em mostrar um rosto positivo e tolerante”, explicou o arcebispo de Erbil.
Nesse sentido, “todas as fronteiras foram abertas” e procurou-se dar a quem chega “todas as condições logísticas possíveis”.
Segundo D. Bashar Warda, “com o apoio da AIS, dos Cavaleiros de Colombo, das conferências episcopais, dos bispos caldeus, de tantas agências e organizações católicas, foi possível fazer com que estes refugiados e deslocados tivessem condições para ficar”.
“Proporcionámos abrigo, comida, medicamentos, construímos escolas para os mais novos. Todas estas pessoas anseiam agora pela libertação total da Planície de Nínive e de Mossul, para que possam voltar a casa, recomeçar as suas vidas. Mas isso não deve acontecer antes do Verão”, apontou.
No âmbito do Ano da Misericórdia, a Arquidiocese de Erbil lançou em 2015 “um ciclo teológico de misericórdia” que envolve “cerca de 280 jovens deslocados”.
“Estamos no segundo ano desse ciclo, eles vêm todas as sextas-feiras durante cinco horas para estudar espiritualidade, teologia e bíblia. Porque resolver esta questão não depende apenas de dar comida, bebida, abrigo, é também uma questão de dar a Palavra de Deus”, defendeu o arcebispo católico.
Muitas outras iniciativas foram promovidas junto dos refugiados e deslocados de Erbil, envolvendo “jovens voluntários”, para “encorajar as pessoas e integrar as crianças em atividades catequéticas”.
D. Bashar Warda veio a Portugal para participar na apresentação do relatório mais recente da AIS sobre a Liberdade Religiosa no mundo, que revelou uma onda crescente de violência e discriminação sobretudo em países de maioria muçulmana.
O arcebispo de Erbil vai ainda estar no nosso país durante mais alguns dias, para participar num conjunto de conferências e celebrações dedicadas aos cristãos perseguidos.
“É preciso despertar consciências”, os atentados à liberdade religiosa “estão à vista de todos” em “mais de 35 países” e “não podemos mais negar esta realidade e dizer que está tudo bem, não está tudo bem”, sustentou.
D. Bashar Warda estará hoje no Santuário de Fátima para uma celebração eucarística na Capelinha das Aparições, pelas 15h30, e seguirá depois para o Porto onde participará numa vigília de oração pelos cristãos perseguidos, a partir das 21h15, na igreja de São José das Taipas.
JCP