II Concílio do Vaticano: As artes ao serviço da Liturgia

Na área da estética vive-se hoje “um tempo de graça” em que é possível recuperar as raízes da iconografia cristã, “superar o divórcio secular entre a Estética e a Teologia e deixar para trás os equívocos e desencontros que os nossos antepassados tiveram de suportar”, disse D. João Marcos,

Após o encerramento do II Concílio do Vaticano (1962-65), a Igreja colocou mãos à obra nas várias áreas refletidas no encontro magno convocado pelo Papa João XXIII. No fim do tempo da cristandade e com a eclesiologia conciliar, os agentes pastorais têm agora um pilar onde se podem situar: Constituição sobre a Sagrada Liturgia.

Na área da estética vive-se hoje “um tempo de graça” em que é possível recuperar as raízes da iconografia cristã, “superar o divórcio secular entre a Estética e a Teologia e deixar para trás os equívocos e desencontros que os nossos antepassados tiveram de suportar”, disse D. João Marcos, bispo coadjutor de Beja, no último encontro de Pastoral Litúrgica, realizado em Fátima.

Consciente de que não se pode colher sem semear, o II Concílio do Vaticano recomenda para que se formem artistas e se criem escolas e academias de arte sacra onde for oportuno. “Recorde-se constantemente aos artistas que desejam, levados pelas sua inspiração, servir a glória de Deus na Santa Igreja, que a sua atividade é, de algum modo, uma sagrada imitação de Deus Criador e de que as suas obras se destinam ao culto católico, à edificação, piedade e instrução religiosa dos fiéis”, lê-se na referida constituição conciliar.

O bispo-pintor, formado na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, com vasta e preciosa obra de pintura realizada e exposta em muitas igrejas modernas, referiu, aos participantes daquela semana de liturgia de 2015, que desde o início do século XX a Igreja tem encomendado “imagens para o culto a escultores e pintores considerados competentes”, mas que, muitas vezes, “não têm fé cristã nem lhe sentem a falta”. As obras destes artistas, realizadas por vezes com bastante qualidade, “ficam, como é óbvio, prisioneiras da sua subjetividade e vazias do Espírito de Deus, opacas, sem transcendência”.

A Sacrossantum Concilium sublinha a distinção entre belas artes, arte religiosa e arte sacra. Suportado nesta distinção, D. João Marcos realça que desses artistas pode-se “esperar, quanto muito, que façam arte religiosa, mas não arte sacra, e muito menos, imagens de Cristo, da Virgem Maria e dos Santos para serem venerados”.

Como um artista “não é um artesão, um técnico competente que executa bem este ou aquele trabalho”, o bispo coadjutor de Beja sublinha que um artista, “consciente ou inconscientemente, diz-se na sua obra, manifesta na sua obra aquilo que o habita, o que traz dentro de si”.

É fundamental conjugar teologia e estética na obra de arte porque esta é também testemunho eloquente da profunda vivência eclesial do artista. 

LFS

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Agência ECCLESIA

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