Proposta de reconciliação num país onde há «bullying, violência, indiferença, racismo e preconceito»
Lisboa, 04 mar 2016 (Ecclesia) – O coordenador nacional das Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE) explica que promovem uma “justiça restaurativa”, ajudam a lidar com as “emoções básicas do ser humano”, num país onde há “bullying, violência, indiferença, o racismo e o preconceito”.
“As ESPERE promovem a justiça restaurativa que, mais que condenar, procura responsabilizar e recuperar o ofensor, e tentar que a vítima não se transforme também ela num ofensor, caindo assim no ciclo vicioso da violência, do olho por olho, dente por dente”, revela o padre Albino Brás, coordenador nacional das Escolas de Perdão e Reconciliação, dos Missionários da Consolata.
Na mais recente edição do Semanário digital ECCLESIA, dedicado às ESPERE, o sacerdote observa que em Portugal existe, por exemplo, o “bullying, em crescendo, nas escolas”, violência intrafamiliar, no namoro e no casal e nos bairros sociais periféricos “acumulam-se raivas de pobreza e exclusão”.
“Temos a indiferença, o racismo e o preconceito, que também matam”, alerta, num artigo de opinião publicado hoje.
O padre Albino Brás sublinha que “a condição humana, na sua essência”, é o denominador comum entre as pessoas que são iguais na “capacidade de amar e de odiar, de sentir raivas, rancores” mas “nem sempre sabem lidar com essas emoções básicas do ser humano”.
O coordenador nacional das Escolas de Perdão e Reconciliação observa que a violência “é um dos maiores problemas da humanidade” e o mais comum é que a resposta seja “o endurecimento das penas e dos castigos, numa quase idolatria da justiça punitiva”.
“As prisões em Portugal, para dar um exemplo, estão cheias e pouco se investe na reinserção dos presos na sociedade”, comenta o sacerdote do Instituto Missionário da Consolata.
Foi por iniciativa do padre Albino Brás que as ESPERE chegaram a Portugal em 2013 e, neste momento, existem duas equipas de dinamizadores, uma em Lisboa e outra no Porto, onde já realizaram ao todo cinco cursos.
Segundo o coordenador nacional das ESPERE, mesmo com uma origem num contexto civil, essas escolas foram, aos poucos, sendo “acolhidas em ambientes religiosos, não só da Igreja Católica, mas de outras Igrejas cristãs e de outras religiões, incluído o islamismo”.
O maior desenvolvimento é contextos da Igreja Católica com o “grande apoio” de muitas congregações religiosas que acolhem essa “reflexão e Cursos de Perdão e Reconciliação”, como a Companhia de Jesus (Jesuítas) que “abriram” as suas universidades e centros Loyola de Fé e Cultura, colégios e paróquias em muitos países da América Latina.
As ESPERE nasceram com o objetivo de colaborar com os esforços de paz na Colômbia e surgiram na sua capital, Bogotá, na primeira década do século XXI por iniciativa do missionário da Consolata, o padre Leonel Narvaez Gomez.
O projeto começou com os primeiros reintegrados na sociedade – ex-guerrilheiros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) – que “precisavam” de pedir perdão às suas vítimas e, também, de se perdoarem.
“Hoje são milhares os que através da ação das ESPERE abandonaram a guerrilha e reintegraram-se na sociedade, onde muitos são promotores das Escolas de Perdão e Reconciliação”, explica o padre Abílio.
As Escolas de Perdão e Reconciliação têm atualmente núcleos ativos em 18 países, a maioria na América Latina, como Brasil, México, Chile, Argentina; na América do Norte, nos Estados Unidos, em África, no Uganda, na Europa estão presentes em Portugal e ainda na Síria e no Iraque.
CB/OC