Refugiados: Crise é «oportunidade» para a Europa «se reencontrar com o seu ideal fundante de solidariedade»

Frisa Rui Marques, coordenador da Plataforma Portuguesa de Apoio aos Refugiados

Lisboa, 29 set 2015 (Ecclesia) – Rui Marques, coordenador da Plataforma Portuguesa de Apoio aos Refugiados (PAR), diz que o desafio que está a ser colocado à Europa é "uma oportunidade" para o projeto europeu se “reencontrar com o seu ideal fundante de solidariedade”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o antigo alto-comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural comentou a forma como a crise dos refugiados está a ser abordada pela União Europeia e os diferentes Estados-membros.

Falou também sobre alguns dos projetos que a Plataforma Portuguesa para os Refugiados, composta por cerca de 120 organizações da sociedade civil, já tem em andamento.

Para Rui Marques, o modelo de quotas obrigatórias que foi seguido pela União Europeia “não é o caminho ideal”.

O que seria desejável era que “no contexto europeu, da solidariedade entre os 28 países”, estes pudessem “de uma forma voluntária disponibilizar-se para acolher, segundo as capacidades de cada um, um determinado número de refugiados”.

Para aquele responsável, a União Europeia não fez mais do que “reagir a uma circunstância que ficou fora de controlo”, quando seria preciso “dar mais um passo”, ou seja, apostar na “prevenção”.

E neste particular, o coordenador da PAR destaca a importância de privilegiar três áreas: "Trabalhar a pacificação dos países de origem, como a Síria; apoiar os países de trânsito, como a Líbia, o Líbano, a Jordânia e a Turquia, e ter uma política proactiva de acolhimento dos refugiados, ainda nos países de trânsito”.

No entanto, para lá da questão humanitária mais imediata e urgente, Rui Marques adverte que o que está verdadeiramente em causa é uma “oportunidade para a Europa se reencontrar consigo mesma”, com um projeto que nasceu da ideia de “solidariedade entre os povos”.

“É uma oportunidade extraordinária, mas claro que se continuarmos a agir como nos últimos meses perderemos essa oportunidade e perderemos mesmo a Europa”, salienta o antigo líder do ACIDI, que baseia este argumento em alguns sinais que já permitem antever essa desagregação do Velho Continente.

Primeiro, o facto de a solução a adotar para a crise dos refugiados ter “demorado tanto tempo” e “não ter sido consensual”, já que alguns países, como a República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia, “se opuseram a uma política de acolhimento”

Depois a “rutura do Espaço Schengen” – segundo o coordenador do PAR, a “reposição de fronteiras” que se está a verificar “é uma rutura brutal do projeto europeu”.

“Ao voltarmos a uma lógica de egoísmos nacionais, em que cada um defende os seus interesses e não age de forma concertada com os restantes países, desfaz-se o projeto europeu em pouquíssimo tempo”, referiu Rui Marques.

Sobre os projetos da Plataforma que já estão em curso, aquele responsável destaca o “PAR Famílias”, em que uma instituição anfitriã, paróquia, centro social, junta de freguesia ou empresa se responsabiliza durante dois anos por cuidar de uma família de refugiados, do seu acolhimento e integração.

“Temos já muitas instituições que se têm vindo a disponibilizar mas faço aqui o apelo a outras que queiram apostar a sério na solidariedade e neste modelo de integração comunitária”, refere Rui Marques.

Para participar neste esforço, basta entrar no site da PAR e preencher um formulário de inscrição, e as dúvidas podem também ser esclarecidas através do email par@ipav.pt.

A Plataforma Portuguesa de Apoio aos Refugiados tem ainda aberta uma conta bancária para onde podem ser canalizados fundos para ajudar duas organizações que estão a trabalhar no Médio Oriente a favor dos refugiados: a Cáritas e o Serviço Jesuíta aos Refugiados.

O projeto em causa chama-se “PAR Linha da Frente” e tem como número de identificação bancária o 0036 0000 9910 5913 826 45.  

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