O Papa no centro

A globalização dos factos e depoimentos de todos os dias e a deterioração da informação tem servido para a sucessão de ‘copy paste’ de lugares comuns em relação ao pontificado do Papa Francisco, seja na contraposição ao de Bento XVI, seja nos alertas que as várias intervenções do antigo cardeal de Buenos Aires têm provocado. Por mais ultrapassados que estejam determinados quadros de pensamento, é a eles que instintivamente nos agarramos para tentar compreender aquilo que se passa diante dos nossos olhos, seja porque não conseguimos apreender a realidade na sua totalidade, seja porque já a filtramos com preconceitos.

Não têm faltado, por isso, nas últimas semanas, longas e acaloradas entre «apoiantes» e «críticos» do Papa, entre não-crentes ou céticos em relação à Igreja que se «apaixonaram» pela figura de Francisco e outros não menos céticos, mas em relação ao que o bispo de Roma irá conseguir neste ministério. Não faltou mesmo quem o acusasse de ter abençoado a imigração ilegal e de ter, por isso, culpa nas mortes do recente naufrágio em Lampedusa.

Obviamente, no meio continua o Papa, igual a si próprio, sempre debaixo dos holofotes da opinião pública, dada a exposição mediática inerente ao cargo que ocupa e à popularidade que tem vindo a granjear, algo que o transforma em sinónimo de audiências. As suas palavras e gestos apontam para mais longes, num corpo unitário que não pode nem deve ser lido apenas à luz deste ou daquele fragmento, dos famosos ‘sound bites’ que cada vez mais determinam a opinião pública. É um desafio e a comunidade católica deve assumi-lo, também como serviço à sua própria identidade, à dimensão espiritual que a estrutura e diferencia.

Francisco vai estar mais perto dos portugueses, quando a imagem venerada na Capelinha das Aparições se deslocar ao Vaticano. Numa inversão dos papéis habituais, é o ícone do catolicismo no nosso país que visita o Papa, num momento grande significado, inserido no Ano da Fé. As palavras que se pronunciarem nesta ocasião merecem, por isso, uma escuta e releitura cuidadas, para fugir a interpretações de superfície que se limitem a duas ou três polémicas estéreis e escondam o essencial.

Poderá o Papa continuar no centro das atenções, mas estou certo de que o próprio manterá o rumo que tem seguido, apresentando-se como portador de uma mensagem que não é sua nem fala sobre si, mas aponta ao sentido da vida, da relação entre as pessoas e destas com Deus.

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Agência ECCLESIA

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