Adriano Moreira aborda primeiro mês do pontificado e diz que Jorge Bergoglio é sinónimo de «esperança» para um território ocidental órfão de «vozes encantatórias»
Lisboa, 12 abr 2013 (Ecclesia) – Adriano Moreira defende que os primeiros 30 dias do pontificado de Francisco mostraram um Papa “habilitado” a lidar com os desafios e dificuldades da Igreja Católica e da sociedade atual.
Em entrevista publicada na edição mais recente do Semanário ECCLESIA, o professor universitário destaca a “autenticidade” que tem regido os comportamentos e gestos de Jorge Mario Bergoglio e a sua “experiência” no tratamento de situações de carência económica e social.
O membro da Academia das Ciências de Lisboa recorda que o mundo ocidental está hoje “a viver uma época de completo desprestígio e decadência”, quer a nível religioso quer político.
Por um lado, “o Vaticano está a ser objeto de ataques fundamentados” em problemas como a pedofilia, a homossexualidade e a luta de poder no meio do clero e da hierarquia eclesial.
Neste âmbito, o Papa argentino tem demonstrado “uma compreensão completa de que é absolutamente necessária a autenticidade, a identificação entre a doutrina e a ação, que implica uma coragem enorme para retificar erros, aceitá-los e combatê-los”, sublinha o docente.
Por outro lado, ao nível da estrutura social, económica e política, “os erros dos governos” têm provocado “uma deslocação da fronteira da pobreza, que ainda no século passado estava ao Sul do Saara, para o Norte do Mediterrâneo”.
De acordo com Adriano Moreira, “a própria organização legal do projeto europeu”, que “na sua maioria” assentava nos valores da “democracia cristã”, como que “desapareceu da organização política europeia, não está a ser observada em muitos aspetos”.
O docente dá como exemplo a preponderância que as grandes potenciais mundiais assumiram na determinação dos rumos económicos, muitas vezes sem “nenhuma cobertura legal”.
“Não sabemos onde estão os centros que determinam a estrutura financeira, com uma subordinação à ganância que era punida pelos códigos penais dos países ocidentais”, lamenta Adriano Moreira.
Também neste plano, o sociólogo sustenta que o “perfil” do antigo arcebispo de Buenos Aires encaixa perfeitamente com as necessidades, já que é proveniente de um continente (América do Sul) habituado a conviver com a desigualdade.
O antigo vice-presidente da Assembleia da República defende ainda que o “poder de palavra” que tem sido revelado por este Papa é essencial para um território ocidental órfão de “vozes encantatórias”, que façam “semear a esperança”.
A análise de Adriano Moreira ao primeiro mês do pontificado de Francisco vai estar em destaque no programa 70×7 do próximo domingo, a partir das 11h30 na RTP2.
PR/JCP
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