Diocese de Portalegre-Castelo Branco, património e história

Ruy Ventura

O território atualmente incluído na diocese de Portalegre – Castelo Branco provém várias entidades distintas que o tempo e as autoridades eclesiásticas se encarregaram de aglomerar. Sem recuarmos além da Baixa Idade Média, ou seja, a tempos anteriores à reconquista cristã do Portugal a sul do rio Mondego, no século XII, reconheceremos a herança da grande e antiquíssima diocese de Egitânia (Idanha a Velha), mais tarde sediada na Guarda, e, a rodeá-la, a das zonas administradas pelo mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (Arronches), pelos Templários e pelos Hospitalários (Priorado do Crato). Só em meados do século XVI, após a longa fixação a sul do Tejo do bispo da Guarda, D. Jorge de Melo, agastado por ter perdido para um filho do rei a rica abadia de Alcobaça, as influência de D. João III e de sua mulher D. Catarina levaram à separação dos territórios transtaganos, criando-se o pequeno bispado de Portalegre em 1549, pela bula do papa Paulo III “Pro Excellenti Apostolicae Sedis”. O território albicastrense permaneceu, então, na dependência egitaniense. Na segunda metade do século XVIII (1771), por instâncias do Marquês de Pombal, é criada a diocese de Castelo Branco, com os arcediagados sediados na nova cidade, em Abrantes e em Monsanto. Esta nova entidade viria a ser extinta em 1881, integrando-se no território portalegrense. A igual dignidade das duas cidades e dos dois territórios terá levado o Vaticano a alterar, em 1956, a designação do bispado, que passou a denominar-se “Diocese de Portalegre – Castelo Branco”.

Com base nesta estrutura dinâmica, que foi variando ao longo dos séculos, até chegar à realidade que hoje podemos vivenciar, a comunidade dos crentes foi edificando um conjunto de edifícios e criando um património material e imaterial que é expressão de uma fé com matizes variados. Resulta de uma herança que cruza o cristianismo gregoriano dos reconquistadores com o moçárabe das populações autóctones, que entrança expressões católicas com outras que provieram do islamismo popular, do judaísmo e do “novo cristianismo” dos convertidos – sincera ou forçadamente – depois do final do século XV. É ainda manifestação da influência de diversas ordens monásticas, militares ou mendicantes, pregadoras ou de clausura, como os Templários e a Ordem de Cristo, os Hospitalários ou Malteses, os Franciscanos, os Dominicanos ou os Jesuítas, os eremitas com diversas orientações.

 São múltiplas as expressões materiais que foram geradas ao longo de tão longa e diversificada história. Da mesquita-catedral de Idanha a Velha à bela igreja de Santo António dos Assentos, em Portalegre, há muito que ver, contemplar e viver no território da diocese.

Na cidade de Abrantes, destacam-se as matrizes dedicadas a São Vicente (séc. XIII) e a São João Batista (séc. XVI), bem como o templo dedicado a Santa Maria do Castelo, hoje museu regional, ainda gótico. Na fidalga Alter do Chão, deve-se sublinhar o santuário do Senhor Jesus do Outeiro (séc. XVIII); na sua freguesia de Cabeço de Vide, merece referência a ermida do Espírito Santo (séc. XVI). Em Arronches destaca-se, sem dúvida, a imponente igreja matriz, reconstruída no século XVI num estilo de transição entre o manuelino e a renascença. Em Castelo Branco, entre o muito que há para ver, têm preponderância a concatedral de São Miguel e o jardim do Paço Episcopal dos bispos da Guarda, bem como o santuário de Nossa Senhora de Mércules, já nos arredores; nas suas freguesias, destacam-se a matriz de Alcains e a igreja paroquial de Tinalhas. Na vila de Castelo de Vide, onde marca presença o bairro judaico com a antiga sinagoga, é imponente a igreja de Santa Maria da Devesa, inaugurada já no século XIX, mas também merece visita a capela da Senhora da Penha, de onde se beneficia de um panorama sublime. Constância é coroada pela bela igreja de Nossa Senhora dos Mártires. No concelho do Crato o ponto cimeiro é o mosteiro de Santa Maria da Flor de Rosa, sede nacional dos Hospitalários e da Ordem de Malta, fundado ou refundado no século XIV pelo pai de São Nuno de Santa Maria (que aí pode ter nascido). No município de Gavião, a discreta ermida de São Brás, em Belver, é um dos pontos cimeiros, com as suas relíquias vindas da Terra Santa. Em terras de Idanha, além da singular matriz, deve destacar-se o santuário da Senhora do Almortão; nelas se situam algumas das igrejas mais antigas da diocese: a mesquita-catedral de Idanha a Velha, que remonta ao século VI; as arruinadas igrejas românicas de Monsanto e, nos seus arredores, a românica capela de Vir-a-Corça, vizinha de vestígios de antigo eremitismo. No termo de Mação, tem relevo a igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição. Na vila de Marvão, merece visita a igreja do convento da Estrela, onde são ainda observáveis bons exemplos de arquitetura gótica. Em Nisa, além da matriz, deve-se contemplar a capela da Senhora da Redonda, em Alpalhão, bem como o Calvário de Amieira e a igreja paroquial de Montalvão, ainda medieval. Em Oleiros é a matriz que nos merece atenção. Nos arredores de Ponte de Sor, tem importância simbólica a capela da Senhora dos Prazeres. Em Proença a Nova, o viajante deve deslocar-se à igreja paroquial, dedicada à Assunção de Maria. Já no Sardoal, não podemos ignorar a matriz de Sant’ Iago e São Mateus nem a capela da Misericórdia. Quanto à Sertã, é imprescindível a igreja de São Pedro (matriz), que remonta aos tempos da reconquista, bem como a capela de São João Batista, integrada no castelo. Em Vila de Rei, a igreja matriz é um templo moderno que o tempo poderá vir a valorizar. Já na região de Vila Velha de Ródão, ganha relevo a igreja da Senhora do Castelo, pela proximidade em relação à fortaleza templária do Ródão. No concelho de Portalegre, por fim, tem primazia da catedral, construída na segunda metade do século XVI, onde existe um dos maiores conjuntos de pintura maneirista do país; além dela, merecem o nosso tempo os santuários barrocos do Senhor do Bonfim, da Senhora da Penha e de Sant’ Ana, bem como os conventos de São Francisco (séc. XIII), de Nossa Senhora da Conceição (séc. XVI) e de Santa Clara (séc. XIV) e a igreja dos Assentos, projeto contemporâneo de Carrilho da Graça; faz ainda parte do património religioso o espólio impressionante da Casa-Museu José Régio.

Ruy Ventura

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