D. Pio Alves, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais
Por estes dias, esta expressão andou e anda ainda na boca de muita gente: ora como mera verificação de alteração de calendário; ora para cumprir apenas um rito social; ora para desejar que os doze meses que aí vêm sejam realmente novos.
Consciente dos palpites cinzentos ou negros que andam no ar, confesso a minha resistência a juntar à expressão qualquer outro adjetivo, tal como próspero ou feliz. Fiquei-me pelo bom e, nalguns casos, fecundo. Temi agredir alguém com demasiado otimismo!
Mas, na realidade, bastaria ter ficado pelo desejo de um ano verdadeiramente novo: ancorado num sereno realismo e, por isso, aberto à esperança.
Existe esse caminho? Estou convencido de que existe: importa assumi-lo e, com todo o respeito possível, ajudar os mais vulneráveis a descobri-lo e a caminhar por ele.
Viver na novidade dessa Sociedade tem, contudo, condições. Há, certamente, funções diferenciadas, mas todos têm a mesma radical dignidade, que nunca pode ser ofendida. Não há, por isso, lugar para castas, seja de que tipo forem. Todos são, simultaneamente, sujeitos de direitos e deveres: direitos para serem reclamados; deveres para serem cumpridos.
O livre exercício dos direitos e deveres responsabiliza, por igual, todos e cada um na construção e/ou reconstrução da Sociedade. Este exercício, porque vivido na legítima pluralidade de opções, estará tão longe de um concordismo massificador como de uma inútil e desgastante maledicência sistemática.
Sempre me impressionou, na leitura do texto do Livro do Génesis que relata a queda original (Génesis, capítulo 3), o protagonismo do dedo acusador. Ali (aqui!) parece que ninguém tem culpa: nem Adão, nem Eva. A pobre da serpente não teve voz para se defender! Só faltou acusar Deus e o dom da liberdade!
Triste teatro quando as legítimas opções dos outros são lidas sempre como disparate! Pobre Sociedade quando tudo serve de pretexto para a maledicência, para a gritaria!
É imprescindível aprender com os erros cometidos. É dos livros que não tem mais razão, necessariamente, quem tem mais poder ou quem fala mais alto. Manda o bom senso que, quanto maiores são as dificuldades, mais se torna necessário juntar esforços e consensualizar legítimas opções. Caso contrário, por mais metas financeiras e económicas que possam ser alcançadas, não vamos lá!
Iremos lá se todos, também os cristãos, quisermos e soubermos cultivar a verdadeira novidade de um ano que começa.
D. Pio Alves, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais