Suíça: Mudanças socioeconómicas dificultam emigração portuguesa

O coordenador nacional da Pastoral das Missões na Suíça diz que a maioria dos emigrantes portugueses que entram atualmente no país encontra “grandes dificuldades”, devido a um mercado de trabalho “saturado” e cada vez mais competitivo. 

Radicado em território helvético há mais de uma década, o padre Aloísio Araújo, em declarações à Agência ECCLESIA, elege a adesão dos suíços ao espaço Schengen, em 2008, e a crise económica que afeta a Europa como pontos de viragem para uma nação que até há bem pouco tempo era vista como um destino ideal para quem procurava novas oportunidades de vida.

“Quem está cá há bastantes anos está bem, mas hoje com a abertura das fronteiras aos países da Comunidade Europeia, chegam não só portugueses mas também pessoas dos países de Leste ou do norte da Europa, que procuram emprego, não encontram ou trabalham precariamente, porque o mercado está saturado e os salários também desceram”, realça.

Segundo aquele responsável, nesta situação estão “perto de 11 mil portugueses” que entraram em território suíço – só no último ano – e que diariamente “têm batido à porta das missões portuguesas, em busca de alimentação e dormida”.

O sacerdote admite que, neste momento, “não há capacidade de resposta” para atender a todos os pedidos de ajuda.

“Encaminhar alguém, as famílias fazem e as missões também, mas passado um ou dois meses, torna-se muito complicado”, aponta.

Apesar de todas estas dificuldades, que “preocupam as autoridades locais e a própria Conferência Episcopal Suíça”, a comunidade portuguesa na região continua a crescer.

Os últimos dados revelados pelo governo helvético apontam para a existência de 205 mil emigrantes portugueses no país, número que, segundo o padre Aloísio Araújo, deverá ser um pouco mais alto, à volta dos “220 mil”, já que “muitos não estão registados” nos serviços.

“Ao longo deste ano, a administração central vai realizar um novo recenseamento junto da população suíça e de todos os emigrantes para chegar a números mais concretos”, adianta o coordenador nacional da Pastoral das Missões, para quem a Suíça é hoje uma autêntica “Babilónia de culturas”.

Neste ambiente global, os emigrantes mais jovens são aqueles que têm tido menos problemas de integração, já que chegam com “cursos técnicos ou superiores” e “sabem o que estão à procura”.

“Nestes últimos meses, tive vários encontros com gente jovem que chegou de Portugal, enfermeiros, arquitetos, músicos, uns já encontraram emprego, outros estão à espera, gente com formação, que vem ao nosso encontro e que nos valoriza muito”, acrescenta o sacerdote.

Um fator que tem ajudado a mudar o perfil do emigrante português na Suíça e que contribuiu para o rejuvenescimento da própria comunidade cristã, a nível local.

“As nossas comunidades cresceram muito, a igrejas estão cheias de jovens, os suíços até têm esta expressão: Nas igrejas suíças vemos cabelos brancos e nas portuguesas só temos cabelos escuros e novos”, confidencia o padre Aloísio Araújo, que acompanha 15 missões espalhadas pelo país.

Presta também serviço pastoral em cinco paróquias do cantão de Lucerna, na parte alemã do território suíço, a pouco mais de 100 quilómetros da capital Berna.

São muitas as famílias que chegam com crianças em idade escolar e que procuram depois a missão para terem catequese em língua portuguesa.

Os pais, por sua vez, procuram integrar-se no quotidiano das paróquias, emprestando os seus talentos aos diversos projetos que a Igreja vai desenvolvendo.

“Aqui na missão de Lucerna temos um organista e ensaiador português, formado em direção de orquestra, que depois de acabar o curso em Portugal fez um mestrado em São Petersburgo, na Rússia, e depois seguiu para a Suíça em busca de trabalho, e está cá há cerca de um ano e meio”, exemplifica o sacerdote.

Natural da arquidiocese de Braga, o missionário português chegou à Suíça através de um convite do bispo auxiliar da diocese de Lausana, para responder à escassez de pastores que afetava algumas comunidades daquele cantão, situado na parte francófona do território helvético.

Depois de sete anos de missão, assumiu o cargo de coordenador nacional da Pastoral das Migrações, preparando-se agora para iniciar um segundo mandato, integrado numa equipa com 19 sacerdotes, cinco portugueses e os restantes provenientes de outros países de língua oficial portuguesa.

Mostrando-se “apaixonado pelo país” e pelas pessoas que tem a seu cargo, o padre Aloísio Araújo espera que o futuro permita à Igreja portuguesa continuar a ajudar os emigrantes a integrarem-se no “mundo desconhecido”, especialmente através do “acolhimento, da formação e da celebração da fé”.

Com o intuito de promover o conhecimento da realidade migratória dos portugueses, a Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) promove entre 20 e 22 de janeiro o 12º encontro de formação de agentes sociopastorais das migrações, que contará a presença do subsecretário do Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes.

O fórum, que marca também o início das comemorações dos 50 anos da fundação da OCPM, conta com a parceria da Agência ECCLESIA e da Caritas Portuguesa.

JCP

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