Homilia do bispo da Guarda na missa de ano novo

Iniciamos um novo ano, invocando a bênção de Deus para todos os nossos projetos e dando graças pelos abundantes dons que até agora Ele nos concedeu.

A Palavra Deus fala-nos hoje da bênção que Moisés, em nome de Deus, distribuiu por todo o Povo. Essa bênção sabemos hoje que tem um nome e esse nome é Jesus Cristo nascido em Belém. Jesus é, de facto, o Salvador esperado, que encarnou na nossa história, nascido de Maria e enviado pelo Pai, na plenitude dos tempos, como lembra a Carta aos Gálatas, que acabámos de escutar.

Celebramos o Dia Mundial da Paz pela 44ª vez (desse 1968, por iniciativa do então Papa Paulo VI). O tema proposto pela mensagem papal para o dia de hoje é o seguinte: “ Educar os jovens para a justiça e para a paz”.

E não podia haver assunto mais atual do que este para o mundo e em particular para a sociedade portuguesa. De facto, nos tempos difíceis que atravessamos, apostar na educação dos jovens é transformar um peso em oportunida­de de desenvolvimento para o nosso País. É sabido que dos 13% que representa em Portugal o número dos desempregados, 25% é constituído por jovens e jovens qualificados com diplomas que os habilitam para o exercício de uma profissão. E isto não é teoria, pois ainda recentemente depois de presidir a uma celebração de finalistas, no ato de receberem o seu diploma de ensino superior, eles próprios me confidenciaram que metade já tinha contratos para exercer a profissão em Inglaterra. Este é realmente um facto preocupante, pois todos sabemos que só podemos pôr a nossa economia a crescer com o contributo destes e de outros jovens devidamente qualificados.

Por isso, aos jovens queremos pedir-lhes que ajudem, com a sua imaginação e criatividade, a encontrar modelos novos de desenvolvimento para substituir aqueles que nos têm sido propostos e que, como prova a experiência, já deram o que tinham a dar e com consequências desastrosas. Desenvolvimento voltado só para o crescimento material não é verdadeiro desenvolvimento e uma prova disso é a chamada ditadura dos mercados que a todos nos mantém em sobressalto. Queremos encontrar modelos de desenvolvimento em que cada pessoa com todas as suas capacidades e todas as pessoas sejam valorizadas e motivadas para a participação na vida social. Temos de encontrar caminhos em que todos, com os métodos novos que os jovens são capazes de ajudar a descobrir e a concertar, trabalhem  para se conseguir a plena inclusão social. Para isso atrevemo-nos a pedir aos jovens que coloquem como prioridades na sua vida o respeito pela  verdade das pessoas, das coisas e do próprio mundo e a partir daqui repensem o próprio exercício da liberdade. Os jovens são capazes de entender, assim haja quem lho proponha com determinação e convicção, que o exercício da autêntica liberdade não pode alinhar com a prática do relativismo, onde cada um quer ser medida de tudo, o que acaba por confundir-se com o império do interesse pessoal sobre os direitos dos outros e do bem comum. Também são capazes de entender facilmente que sem justiça não pode haver vida social sustentável. E, ao falar de justiça, queremos dizer que os tribunais têm de funcionar e funcionar com retidão; mas temos de ir mais longe. A justiça para além de aplicar as leis, que, com muita frequência, são mais ou menos concertadas em função de interesses e pressões, tem de procurar promover relações de solidariedade, de cooperação e mesmo de gratuidade entre as pessoas.

São estes alguns dos caminhos novos que podem dar futuro à nossa sociedade.

Sintonizados com a mensagem do Papa para este dia, acreditamos nas capacidades das gerações jovens para motivar as grandes mudanças necessárias ao futuro sustentável do nosso mundo. Pedimos, também com o Papa, às instituições da sociedade vocacionadas para intervir na educação da juventude que saibam cumprir a sua missão. E aqui destacamos a responsabilidade das famílias, cujo trabalho de educação nunca pode ser substituído, mas sim tem de ser ajudado de forma concertada, pelos diferentes agentes sociais.

Que o novo ano de 2012 seja um  passo em frente no abrir de caminhos novos à intervenção social responsável de todos os jovens.

D. Manuel Felício, bispo da Guarda

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