“Parece-nos chegada a hora de convocar o concílio ecuménico Vaticano II”: foi no dia de Natal de 1961 que o Papa João XXIII assinou a Constituição Apostólica ‘Humanae Salutis’, com o qual convocava o concílio para o ano seguinte, com a Igreja Católica colocada diante do que denominava como um “duplo espetáculo”: “Um mundo que revela um grave estado de indigência espiritual e a Igreja de Cristo, tão vibrante de vitalidade”.
“Nós, desde quando subimos ao supremo pontificado, não obstante nossa indignidade e por um desígnio da Providência, sentimos logo o urgente dever de conclamar os nossos filhos para dar à Igreja a possibilidade de contribuir mais eficazmente na solução dos problemas da idade moderna”, escrevia o beato italiano, quase três anos depois de ter anunciado a intenção de convocar um concílio [25 de janeiro de 1959], o 21.º da história da Igreja.
Para o Papa, que viria a falecer antes da conclusão deste evento eclesial, “a jubilosa repercussão que teve seu anúncio, seguida da participação orante de toda a Igreja e do fervor nos trabalhos de preparação, verdadeiramente encorajador, como também o vivo interesse ou, pelo menos, a atenção respeitosa por parte de não-católicos e até de não-cristãos demonstraram, da maneira mais eloquente, como não escapou a ninguém a importância histórica do acontecimento”.
João XXIII desejava uma “demonstração da Igreja, sempre viva e sempre jovem, que sente o ritmo do tempo e que, em cada século, se orna de um novo esplendor, irradia novas luzes, realiza novas conquistas”.
“Ao mundo perplexo, confuso, ansioso sob a contínua ameaça de novos e assustadores conflitos, o próximo concílio é chamado a oferecer uma possibilidade de suscitar, em todos os homens de boa vontade, pensamentos e propósitos de paz”, podia ler-se.
O Papa Roncalli apresentava, em seguida, o “programa de trabalho do concílio”, a respeito dos programas “outrinais e práticos mais consentâneos com as exigências da perfeita conformidade à doutrina cristã, à edificação e ao serviço do corpo místico e da sua missão sobrenatural, isto é, o Livro sagrado, a veneranda Tradição, os sacramentos, a oração, a disciplina eclesiástica, as atividades caritativas e assistenciais, o apostolado dos leigos, os horizontes missionários”.
Antes do concílio, decorreu um período de “consultas”, aos cardeais, bispos, congregações religiosas e universidades eclesiásticas. Constituiram-se, então, os diversos “organismos preparatórios”, aos quais coube a tarefa de elaborar os esquemas doutrinários e disciplinares, submetidos à assembleia conciliar.
“Temos, finalmente, a alegria de comunicar que este imenso trabalho de estudo, ao qual deram sua contribuição valiosa os cardeais, bispos, prelados, teólogos, canonistas, técnicos de todas as partes do mundo, alcança já o seu termo”, anunciava João XXIII.
O Papa italiano escrevia que “se o mundo aparece profundamente mudado, também a comunidade cristã está em grande parte transformada e renovada: isto é, socialmente fortalecida na unidade, intelectualmente revigorada, interiormente purificada, pronta, desta forma, a enfrentar todos os combates da fé”.
“A influência benéfica das deliberações conciliares, como vivamente o esperamos, deverá impor-se a ponto de revestir de luz cristã e penetrar de fervorosa energia espiritual não só o íntimo das almas mas o conjunto das atividades humanas”, desejava.
OC