Homilia do bispo do Funchal na Solenidade da Ressurreição do Senhor

Páscoa de Cristo, luz e força para uma vida nova!

 “Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria” (Sl 118). Neste dia da Ressurreição de Cristo irrompe dos nossos lábios e do nosso coração um cântico jubiloso de louvor à Santíssima Trindade, celebrando a vitória definitiva do nosso Redentor sobre a morte. A Ressurreição de Jesus é o fundamento e o centro da fé da Igreja. Por isso nos alegramos e proclamamos: O Senhor ressuscitou verdadeiramente. Aleluia!

Hoje, a Igreja prolonga a noite santíssima da Vigília Pascal, celebrando a festa das festas, o grande Dia do Senhor. Tempo de alegria e de esperança para os crentes, que vivem, através dos sacramentos e da presença do Espírito Santo, o dinamismo do Mistério Pascal de Cristo, na Igreja e no mundo.

Luz que vence as trevas

A Liturgia da Palavra deste Domingo projeta uma imensa claridade sobre a História da Salvação, revelando e completando todo o seu alcance e significado. A ressonância do anúncio Pascal provoca admiração pela novidade absoluta do espantoso evento: Cristo Ressuscitou! Aleluia!

O Livro dos Atos dos Apóstolos, escutado na primeira leitura, afirma e sublinha, que, em Jesus, chegou a redenção e a libertação definitiva da Humanidade. A partir de agora, tem início uma nova criação e, pelo batismo, o homem velho tornar-se-á Homem Novo, em Cristo Senhor. “Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele” (Act. 10, 38).

O homem e a mulher, que têm fé no Senhor Ressuscitado, alargam o seu horizonte de esperança. Não podem preocupar-se apenas com os bens materiais que, embora sendo importantes, devem abrir-se à dimensão sobrenatural, eterna e imperecível da vida, como nos lembra a Carta de S. Paulo aos Colossenses: “Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. A vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Col 3, 1-4).

Os cristãos recebem de Jesus Ressuscitado a luz e a força para uma vida nova, centrada no projeto de Deus e com particulares exigências na construção de um mundo melhor, mais humano, solidário e fraterno. Um mundo que se há de libertar das opressões e angústias, que ainda marcam e fazem sofrer uma grande parte da Humanidade. Porém, nesta doação e atenção à família humana, o homem não pode descurar o seu horizonte de transcendência e de eternidade, onde Cristo glorioso nos projeta e acolhe.

Não está aqui! Ressuscitou!

Na madrugada da Ressurreição, uma mulher, Maria Madalena, vai apressadamente ao sepulcro. Está inquieta e, perante o túmulo vazio, corre a chamar Pedro e João. A vida e o dinamismo do Ressuscitado começam, assim, a fazer-se sentir!

“Entraram, viram as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, enrolado à parte” (Jo 20,7). Confirmaram o sepulcro vazio. Lembraram-se, então, das palavras que Ele lhes dissera: “que havia de ressuscitar dos mortos.” Afinal, Jesus já não estava ali, ressuscitou! E acreditaram n’Ele, vivo e ressuscitado!

Depois do encontro com o Ressuscitado, Madalena comunicou a sua experiência pessoal com Jesus, que pronunciara o Seu nome com familiaridade e ternura, e a inundara de imensa alegria e felicidade. “Vi o Senhor!” O laconismo da linguagem de Maria expressa bem a sua profunda e indescritível experiência sobrenatural.

Irmãos: a Ressurreição de Jesus é um facto assombroso, um acontecimento de fé, que nos transcende, embora se confirme a sua historicidade. Os Apóstolos encontraram-se pessoalmente com o Senhor Ressuscitado, contemplaram os sinais da Sua Paixão no Seu Corpo glorioso e comeram com Ele. Receberam o Espírito Santo e foram enviados em missão a pregar ao povo (cf. Atos 10,41-42). “A Ressurreição é um acontecimento dentro da história, que, todavia, rompe o âmbito da história e a ultrapassa”, afirma Bento XVI, no seu recente livro sobre Jesus de Nazaré.

O glorioso Ressuscitado, dinamismo e missão

A partir de hoje têm início as visitas pascais nas nossas paróquias. Tocam os sinos. Os cânticos do “Glória” e do “Aleluia”, que se deixaram de ouvir, durante a Quaresma, marcam agora o ritmo litúrgico do Tempo Pascal. Em toda a Igreja, proclama-se, com uma força jubilosa de alegria e de vitória, a Vida e a Presença de Cristo Ressuscitado, junto dos Seus discípulos.

Toda a natureza participa neste “Aleluia” cósmico, revestindo-se de flores e vida a desabrochar. Surge uma nova primavera de esperança, de amor, de paz e de alegria! A Vida venceu a morte! Aquele “Astro”, que não conhece ocaso, Jesus Cristo Ressuscitado, iluminou o género humano com a serenidade da Sua Luz. (Precónio Pascal).

Neste dia de graça, celebramos, em comunhão eclesial, a “Festa das Festas”, o maior milagre de Jesus: a Sua gloriosa Ressurreição! O mistério Pascal atravessa o coração da nossa história, ilumina-o, dá-lhe renovado vigor e faz nascer uma Esperança viva, na vida dos crentes: “Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos” (Act 10,42).

Impelidos pelo Seu Espírito, seduzidos e encantados por Ele, não podemos guardar só para nós a boa notícia, que nos enche o coração e a vida. Urge partilhar o alegre anúncio Pascal, luz que dissipa as trevas e preenche o vazio existencial de tantas pessoas, que a investigação científica e tecnológica e o bem-estar material não conseguem colmatar. Como recorda o Concílio Vaticano II, o homem ferido pelo mal, ou se exalta como norma suprema e absoluta, ou se deprecia até ao desespero, pelos caminhos da destruição e da morte (cf. Lumen Gentium, 12).

Deixemos, pois, que a Luz da Páscoa entre no nosso coração e na nossa história. Diz-nos o Papa Bento XVI, no seu último livro sobre Jesus de Nazaré, que “sem cessar, Ele bate suavemente às portas dos nossos corações e, se lhas abrirmos, lentamente vai-nos tornando capazes de ver”.

Mensagem Pascal

Caríssimos diocesanos e vós que visitais a nossa terra, nesta quadra da Páscoa, e estais connosco a celebrar a Solenidade da Ressurreição de Jesus, para todos a minha alegre e afetuosa saudação Pascal: Cristo Ressuscitou. Aleluia!

Que o glorioso Ressuscitado vos ilumine e acompanhe, e às vossas famílias, hoje e sempre, pelos caminhos da vida: nos vossos trabalhos, sofrimentos, dificuldades, tristezas e alegrias. Apesar da grave crise mundial, que afeta também a nossa terra e nos afeta a todos, não deixeis apagar a Luz e o Fogo novo que, nesta manhã de Páscoa, o Senhor vos comunicou.

O Mistério Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus é a fonte de toda a Vida, dinamismo e missão da Igreja. Dizei a todos que Jesus está vivo, Ressuscitado, e testemunhai com a vida, a certeza da Sua presença Pascal.

Santa Páscoa! O Senhor Ressuscitou verdadeiramente! Aleluia! Aleluia!

Sé do Funchal, 24 de abril de 2011

D. António Carrilho, Bispo do Funchal

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