Igreja/Espiritualidade: Para lá do sofrimento

Filósofos e teólogos ajudam a mostrar como o Cristianismo encontra um sentido para as dores da humanidade

Lisboa, 05 abr 2011 (Ecclesia) – O livro bíblico de Job, do Antigo Testamento, datado pelo menos do século V a.c., pode ajudar os leitores a encontrar uma “resposta à questão do sofrimento”, considera Luísa Maria Alemendra, professora da Faculdade de Teologia da Universidade Católica.

“Com Job todo o leitor crente aprende que a resposta à questão do sofrimento está dentro de si mesmo, na sua capacidade de não desesperar, mas antes de esperar e de esperar sempre em Deus”, refere a especialista em Sagrada Escritura, em texto publicado na edição de hoje do semanário Agência ECCLESIA (ver notícia relacionada).

Para Luísa Maria Alemendra “o Livro de Job, embora colocando perguntas, algumas delas sobre o sofrimento, é sobretudo o Livro da grande procura de Deus que, percorrendo caminhos tortuosos e dificeis, desagua numa esperança última que só Deus é”.

A professora da UCP obteve o grau de doutoramento em Teologia Bíblica com uma tese sobre o livro de Job, intitulada «Um debate sobre o conhecimento de Deus. Composição e interpretação de Jb 32–37».

O dossier que a Agência ECCLESIA apresenta esta semana inclui ainda a visão de um filósofo sobre o Cristianismo e a sua relação com o sofrimento.

João Rosa defende que “o sentido último do sofrimento só pode ser testemunhado na primeira pessoa”.

“Só o sofredor, o homem das dores, a «mater dolorosa», os vindos da grande provação, estão capazes de falar do sofrimento. A maior parte não o faz. Escutemos o silêncio. Todas as outras palavras são quase obscenas”, indica.

A carta apostólica «Salvifici Doloris», de João Paulo II, referia que o sofrimento humano “suscita compaixão, inspira também respeito e, a seu modo, intimida”.

“Nele, efetivamente, está contida a grandeza de um mistério específico. Este respeito particular por todo e qualquer sofrimento humano deve ficar assente no princípio de quanto vai ser explanado a seguir, que promana da necessidade mais profunda do coração, bem como de um imperativo da fé”, escreveu o Papa polaco, falecido em 2005 após um longo período de doença e visíveis dificuldades físicas.

A proximidade da celebração da Paixão de Cristo, um dos momentos culminantes do calendário litúrgico católico, multiplica as manifestações ligadas ao sofrimento do próprio Jesus e remete para a vivência de dor de cada ser humano.

As iconografias do «Ecce Homo», do Senhor da Cana Verde e do Senhor da Paciência, que evocam a flagelação de Jesus, correspondem a espiritualidades centradas na meditação dos sofrimentos do Senhor, que igualmente enalteciam o valor do sofrimento como caminho de salvação, convidando os fiéis à identificação com Cristo na aceitação das injustiças deste mundo.

Estas iconografias foram interpretadas nas artes eruditas e populares ao longo dos séculos e são ainda hoje alvo privilegiado de culto.

OC

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