Saudação à Rainha Santa em nome do Povo de Coimbra

D. Isabel de Portugal, Rainha Santa!

É com a alma em festa que o vosso Povo de Coimbra, acompanhado de incontável número de forasteiros, vindos dos quatro cantos de Portugal e de além-fronteiras, aqui se reúne, nesta que, durante séculos, foi a praça de entrada na cidade, para saudar a Mulher coroada com o diadema de Soberana, para aclamar a Mulher que, distribuindo rosas que se transformam em pão, obteve por aclamação o estatuto de excelsa Padroeira, para venerar a Mulher em cuja fronte refulge a auréola luminosa que vos dá o mais glorioso de todos os títulos – o nome de Rainha Santa!

Vieram tantos, Senhora! Na grande praça, alguns de mãos erguidas, muitos com uma prece nos lábios, e todos de olhos postos na vossa imagem veneranda, estão crianças e jovens, adultos e idosos, homens e mulheres de todas as condições sociais, de todos os quadrantes do pensamento e dos mais variados campos da actividade humana. Entre tantos outros muitos, estão aqui milhares de jovens estudantes que, em escolas públicas e privadas, em institutos e em faculdades universitárias, se preparam para enfrentar as dificuldades de um futuro que se apresenta num horizonte semeado de preocupantes obstáculos e de inquietantes apreensões. Entre tantos outros muitos, estão aqui milhares de homens e mulheres que, depois de anos seguidos de actividade árdua e competente, se viram, de um momento para o outro, atirados para as filas intermináveis dos que procuram, quase desesperadamente, uma oportunidade de trabalho que lhes permita viverem de cabeça levantada e os realize na sua dignidade de seres humanos. Entre tantos outros muitos, estão aqui milhares de homens e mulheres que, terminado o tempo da sua actividade laboriosa, em vez de esperarem uma última etapa de deleitosa bonança, se vêem colocados perante a penalizante incerteza do dia de amanhã. Entre tantos outros muitos, estão também aqui os que, pelos caminhos desencontrados da vida, levam já consumida a pequena chama da esperança, os que nos contam uma história repetida (o desamparo, as doenças, as coisas da vida) e, de olhos tristes e magoados de cansaço, estendem a mão.

O Povo de Coimbra e os seus visitantes estão hoje à espera que a sua Rainha, exercendo aqui o ministério profético que lhe cabe pelo seu reconhecido estatuto de santidade, lhes faça ecoar, mais no coração que nos ouvidos, uma mensagem que sirva, ao mesmo tempo, de alento aos que vão tendo dificuldades em desamarrar o seu barco da margem escarpada e íngreme da sua penosa condição, e de estímulo aos que, remando, tantas vezes contra a corrente, aceitam, com coragem, o desafio de quererem assumir-se, neste mundo e neste tempo, como sinais vivos do amor, do perdão, da justiça e da paz.

De que outra mensagem poderíeis ser portadora, que não desta, Rainha Santa? Quem, como vós, abriu a sua vida por inteiro ao sopro renovador do Espírito que vem do Alto, não pode ser portadora de outra mensagem que não seja a que se fundamenta nos valores perenes que, na plenitude dos tempos, nos foram transmitidos pelo Verbo feito carne, Aquele cujo nome está acima de todos os nomes, o único que tem palavras de vida eterna. É na vossa vida, Senhora, alimentada sempre no desejo de cumprir a inspiração renovadora do Espírito, que podemos ler a mensagem que pretendeis fazer ecoar nesta hora e neste lugar. E, com a necessária permissão da vossa majestade de Rainha, eu atrever-me-ia a relevar apenas um dos muitos aspectos da vossa presença como mulher e como soberana que pode servir de sinal luminoso para quantos, neste tempo de conturbada mudança, pretendam seguir as vossas pegadas de anunciadora da harmonia, da verdade sem disfarces e do bem sem fronteiras.

Todas as crónicas que até nós chegaram, a começar pela mais antiga, mandada lavrar por D. Salvado Martins, vosso valido e confidente espiritual, são unânimes em registar o subido conceito em que tínheis a instituição familiar, como comunidade que respeita e promove o amor humano, como lugar propício para o crescimento equilibrado da vida, como meio onde se faz a aprendizagem da partilha e da tolerância como regra de comportamento social, e até mesmo como espaço onde se aprende e se pratica o evangélico preceito do perdão.

Que mensagem poderia ser mais actual do que esta que hoje nos trazeis, Rainha Santa? Num tempo em que, perversamente, são postos em questão os próprios fundamentos naturais da família, em todas as épocas estruturada na base da relação duradoira de um homem e de uma mulher que se amam, que se respeitam, que se complementam e que se entreajudam na fatigante caminhada da vida, que mais adequada proposta de reflexão poderíes fazer a todos, mas de modo particular a quantos têm agora a responsabilidade de fazer leis justas, leis que, também neste campo fundamental da organização estrutural da sociedade, promovam, sem enviesamentos nem disfarces de falsa tolerância, a dignidade natural do ser humano, criado, complementar mas distintamente, homem e mulher? É que, invertidos os valores, incluindo o valor sagrado da iviolabilidade da vida humana, e prevertidos os princípios fundamentais da organização familiar e social através de leis ultrajantes e iníquas, feitas à revelia da consciência e baseadas num falso conceito de liberdade – porque só há liberdade de facto quando se busca ardentemente a verdade – , é de temer que estejamos perante os sinais não apenas de uma saudável mudança nas linhas de rumo de um País ou de um Continente, mas, como aconteceu em semelhantes circunstâncias de outras épocas da história, diante da iminente derrocada de uma inteira civilização.

Rainha e Senhora! A mensagem da vossa vida, do vosso exemplo de esposa dedicada, de mãe e avó extremosa e atenta, de mulher que soube desempenhar a sua nobre missão de rainha sem deixar de estar perto do povo, de se interessar pelos que mais sofrem e pelos que mais precisam, é uma mensagem que pode e deve iluminar (e oxalá iluminasse!) todos aqueles que neste tempo e neste espaço que partilhamos, se assumem como homens e mulheres de boa vontade.

É em nome de todos eles, em nome de todos nós, em nome deste Povo de Coimbra e de Portugal, que vos aclama como Rainha, que vos admira como Mulher e como Mãe, que vos venera como Padroeira e como Santa – é  em nome de todos que o mais humilde e desvalido dos vossos vassalos, efusiva e calorosamente, vos saúda. Sede bem-vinda, celeste mensageira! Salvé, Rainha Santa!

Largo da Portagem, 8 de Julho de 2010
A. Jesus Ramos

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