Santa Sé nega «manto de silêncio» sobre caso de pedofilia nos EUA

Porta-voz do Vaticano defende que foram tomadas as medidas adequadas

O porta-voz do Vaticano, Pe. Federico Lombardi, veio a público defender Bento XVI das acusações de ter escondido um caso de pedofilia nos EUA.

A imprensa norte-americana acusava o antigo Cardeal Joseph Ratzinger de não afastar o Pe. Lawrence Murphy, que terá abusado de 200 alunos surdos.

Respondendo ao “New York Times”, o Pe. Lombardi considera que não existe qualquer relação entre a aplicação da Instrução Crimen sollicitationis, do antigo Santo Ofício, e a não denúncia de abusos de crianças às autoridades civis.

“Contrariamente a algumas declarações que circularam na imprensa, nem o Crimen nem o Código de Direito Canónico proíbem a participação de abuso de crianças às autoridades policiais”, assegura o porta-voz do Vaticano.

A Santa Sé admite que o “trágico caso” do Pe. Murphy, da arquidiocese de Milwaukee (EUA), “envolveu vítimas particularmente vulneráveis que sofreram terrivelmente com o que ele fez”.

“Ao abusar sexualmente de crianças com deficiências auditivas, o Pe. Murphy violou a lei e, mais importante, a confiança sagrada que as vítimas tinham nele”, pode ler-se.

Após reconhecer a existência dos casos, o director da sala de imprensa da Santa Sé precisa que “durante os meados da década de 1970, algumas vítimas do Pe. Murphy denunciaram os seus abusos às autoridades civis, que o investigaram nessa altura; contudo, de acordo com as notícias da imprensa, a investigação foi abandonada”.

“A Congregação para a Doutrina da Fé só foi informada do caso cerca de vinte anos mais tarde”, assegura o comunicado.

Segundo revela a Santa Sé, só em finais dos anos de 1990, depois de terem passado mais de duas décadas da denúncia dos abusos aos responsáveis diocesanos e à polícia, a Congregação para a Doutrina da Fé se deparou pela primeira vez com a questão de como tratar canonicamente o “caso Murphy”.

“A Congregação foi informada do assunto porque envolvia sedução no confessionário, o que constitui uma violação do Sacramento da Penitência”, revela a nota publicada esta Quinta-feira, sublinhando que a questão canónica apresentada à Congregação “não estava relacionada com eventuais procedimentos civis e criminais contra o Pe. Murphy”.

Nesses casos, o Código de Direito Canónico não prevê sanções automáticas, mas “recomenda que seja feito um julgamento, não excluindo mesmo a maior pena eclesiástica, que é a demissão do estado clerical” (Cânone 1395, n.º 2).

O director da sala de imprensa da Santa Sé explica que a decisão da Congregação para a Doutrina da Fé a este respeito levou em consideração o facto de “o Pe. Murphy ser idoso, estar em condições de saúde precárias, viver em isolamento e não terem surgido durante mais de 20 anos alegações de abuso”.

Nesse sentido, a Congregação, na altura presidida pelo Cardeal Joseph Ratzinger, sugeriu que o Arcebispo de Milwaukee “resolvesse a situação mediante, por exemplo, a restrição do ministério público do Pe. Murphy e a exigência de que ele aceitasse a total responsabilidade pela gravidade dos seus actos”.

O Pe. Murphy morreu “aproximadamente quatro meses depois”, sem registo de quaisquer incidentes, conclui a nota do Pe. Lombardi.

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Agência ECCLESIA

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