LOC traça cenário negro de Portugal

Quase metade das famílias já viveu ou vive abaixo do limiar da pobreza

Quarenta e um por cento dos portugueses enfrenta sérios riscos de cair na pobreza, que afecta dois milhões de portugueses. E quase metade das famílias já viveu ou vive abaixo do limiar da pobreza, realidade a que já nem escapa quem tem trabalho. O alerta foi deixado ontem em Guimarães pela Liga Operária Católica (LOC), que traçou um quadro negro da realidade portuguesa.

“Ao contrário do que acontecia até há algum tempo atrás, ter um emprego já não é garantia de que não se entra na pobreza. Pelo contrário, são cada vez mais os trabalhadores portugueses que enfrentam riscos elevados de serem apanhados pela pobreza que afecta 18 por cento da totalidade da população portuguesa” –  afirmou Glória Cardoso.

A dirigente da LOC falava no seminário subordinado ao tema “pobre apesar do trabalho”, que encerra hoje no Centro Cultura de Vila Flor, em Guimarães. Numa intervenção que traçou o diagnóstico da pobreza proveniente do trabalho, em Portugal, Glória Cardoso vincou que a pobreza registada entre quem se encontra a trabalhar subiu 20 por cento no nosso país. «São já 12 por cento, os trabalhadores que vivem em situação de pobreza, quando ainda há poucos anos eram 10 por cento», referiu, precisando que é considerado pobre quem tem rendimentos abaixo dos 380 euros mensais.

O cenário português, que é bem mais grave que a realidade europeia – na União, 8 por cento dos trabalhadores são considerados pobres –, tende a agravar-se por força dos «baixos salários». É que «41 por cento dos trabalhadores portugueses por conta de outrém recebem salários entre 300 e 600 euros», sublinha Glória Cardoso, notando que «o risco de pobreza entre quem trabalha aumentou».

A dirigente da Liga Operária Católica refere que, por força da legislação que prevê a atribuição de apoios sociais, «há muita gente a trabalhar, essencialmente por conta própria, que é pobre e que passa mais dificuldades do que muitos desempregados». Mas Glória Cardoso também não esquece que o subsídio de desemprego tem um limite temporal e adverte que o risco de pobreza entre quem vive daquele apoio social é de 32 pontos percentuais.

O diagnóstico apresentado no seminário internacional que colocou em debate a pobreza entre quem trabalha deu também conta que «40 por cento das famílias portuguesas já passou pela pobreza ou vive nela». «É uma taxa muito elevada», acrescentou a dirigente da LOC, precisando que a pobreza afecta, sobretudo, famílias numerosas e/ou monoparentais, desempregados, pensionistas e trabalhadores precários.

Apostar na educação, na formação profissional e na subida dos ordenados foram as vias apontadas por Glória Cardoso para se combater a pobreza, que apontou ainda a necessidade de «democratizar as empresas». É que quando os rendimentos se tornam insuficientes para uma sobrevivência digna, «as despesas de saúde são as primeiras a ser cortadas», revelou aquela responsável, apontando ainda a alimentação como uma das áreas onde mais se corta.

O diagnóstico sobre a pobreza em Portugal revelou ainda que «a região do Tâmega é a mais pobre da Europa», que «4,9 por cento dos trabalhadores da região Norte ganham menos do que 300 euros por mês» e que «20 por cento dos portugueses têm os ordenados mais baixos da União Europeia».

Dramático estado da pobreza
O presidente da Câmara Municipal de Guimarães responsabilizou ontem os vários governos pelo «dramático estado de pobreza» que o país regista e que, «como sempre acontece, afecta, sobretudo, os mais frágeis». O autarca vimaranense revelou-se também particularmente duro para com as grandes empresas, que foram acusadas de «passar por cima da dignidade dos trabalhadores, para exibirem lucros chorudos» e de «sugarem aquilo que é o esforço dos que trabalham arduamente».

António Magalhães ressalvou que «se é verdade que o elevado índice de pobreza que o país e a região atravessam, em muito se deve à crise internacional, não é menos verdade que os sucessivos governos não podem isentar-se de responsabilidades». «Nem sempre Portugal tem sido bem governado e uma parte das culpas pelos elevados índices de pobreza são também nossas», disse o edil socialista, que falou na sessão de abertura do seminário internacional subordinado ao tema “Pobre apesar do trabalho”.

O seminário sobre a pobreza que afecta quem trabalha está a decorrer no Centro Cultural de Vila Flor, em Guimarães, e é promovido pela Liga Operária Católica e pelo Movimento de Trabalhadores Cristãos.

A realização colocou em debate a pobreza que afecta os trabalhadores portugueses e europeus e tem como grande objectivo definir sugestões de acção que levem as organizações de trabalhadores a desencadear estratégias de combate à pobreza, aos baixos salários e à precarização do trabalho é o grande objectivo da reunião internacional.

Com Diário do Minho

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Agência ECCLESIA

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