Cinema: Mundo Moderno, Poluição

 «Home – Lar Doce Lar» prova como é possível desenvolver ideias originais e com interesse. Tendo por centro da narrativa o tema da poluição, mostra o drama de uma família que vive à beira de uma auto-estrada desactivada, a partir do momento em que a mesma volta a ser percorrida por um trânsito intenso.

São diversos os elementos capazes de perturbar a vida familiar, até então totalmente pacífica. Por um lado são repostos os rails de protecção, há muito retirados em alguns metros, o que torna o acesso ao outro lado da estrada uma autêntica operação suicida. E é aí que se encontra o povoado mais próximo, único contacto com a civilização. Por outro lado o ruído torna-se uma obsessão, levando a que progressivamente sejam tapados os acessos da casa ao exterior, transformando-a num verdadeiro iglo sem saída aparente ou aberturas de ventilação. A somar há ainda o CO2, poluente por excelência.

O filme analisa com muito cuidado, e muitas vezes em tom de comédia, a influência que esta agressão vinda do exterior tem no comportamento familiar, produzindo conflitos onde antes apenas se via amizade e amor pela vida.

O tratamento inteligente do tema é acompanhado por um excelente conjunto de actores, de forma geral pouco conhecidos do nosso público, uma vez que o filme é europeu, co-produzido pela Suíça, França e Bélgica. Excepção evidente é a presença de Isabelle Huppert, muito bem integrada no trabalho dos restantes intérpretes.

A narrativa, bem ritmada, permite que se siga a acção com a maior leveza, mas a vertente temática, como acima se refere, é o principal centro de interesse, facilmente assimilável pela forma alegre como se expõe.

São filmes como estes que nos levam a pensar na falta de lógica da predominância de filmes americanos na programação. «Home» está mais perto da nossa mentalidade. As situações narradas são bem próximas de muitas que já vivemos ou poderemos vir a viver. Mas o filme estreia num número reduzido de salas e, mesmo nessas, serão certamente poucos os espectadores, por simples falta de marketing.

Francisco Perestrello

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