Sínodo: Diaconado feminino tornou-se «relativamente irreversível, não ainda suficientemente maduro»

«Nunca houve um exercício tão vasto de sinodalidade, de democraticidade na Igreja», afirma João Duque, referindo que a transparência e a descentralização eclesial são desafios a implementar

Foto João Cláudio Fernandes

Lisboa, 03 nov 2024 (Ecclesia) – O teólogo João Duque afirmou que o Sínodo sobre a sinodalidade foi uma ocasião de “maior democraticidade na Igreja”, valorizou a decisão do Papa enviar às comunidades as conclusões e disse que o diaconado feminino é “relativamente irreversível”.

“Parece-me que o caminho se tornou relativamente irreversível, não ainda suficientemente maduro”, disse o pró-reitor da Universidade Católica Portuguesa  (UCP) em entrevista à Renascença e à Agência ECCLESIA, referindo-se ao acesso das mulheres ao ministério diaconal.

O documento conclusivo da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos afirma, no número 60, aprovado com 258 votos a favor e 97 contra, que “não há nenhuma razão para que as mulheres não assumam papéis de liderança na Igreja” e refere que “a questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal também permanece em aberto”, sendo “necessário um maior discernimento a este respeito”.

“O importante deste documento é declarar que não há razões, impedimentos”, afirma João Duque.

Para o teólogo da UCP, a questão do diaconado feminino é uma questão que “não vai poder ser adormecida”, lembrando o “envolvimento cada vez mais forte das mulheres na vida da Igreja”, nomeadamente num “nível de liderança já muito significativo”.

“Não me parece que seja uma questão só do papado, é uma questão do sistema como tal e tem de haver muita segurança”, afirmou o presidente do Centro Regional de Braga e diretor-adjunto da Faculdade de Teologia da UCP.

Numa análise às conclusões do Sínodo dos Bispos, que decorreu em duas assembleias sinodais e promoveu dois momentos de consulta às comunidades, João Duque disse que “nunca houve um exercício tão vasto de sinodalidade”, de “democraticidade na Igreja”, o que “vale já por si”, salientado também a “transformação da linguagem nos documentos”.

A rapidez da nossa cultura exigiria, eventualmente, uma decisão mais rápida, mas talvez seja avisado não a tomar”.

Para o pró-reitor da UCP, um dos “pontos em que mais se avançou” refere-se à descentralização e ao papel das conferências episcopais, agrupadas por zonas continentais, que pode “levar à delegação de certas decisões, nomeadamente as decisões disciplinares e, eventualmente, rituais mais litúrgicos”, não sendo necessária uma “decisão central homogénea”.

“Eu penso que a questão do celibato, se fosse abordada regionalmente, pelo menos por continentes, eventualmente em alguns continentes, a obrigação já não se existiria como tal. Acredito que essa transformação mais, diríamos, das estruturas globais de governo da Igreja possa vir a permitir decisões parciais que, depois, acabam por ter impacto nas outras regiões”, sustentou.

João Duque disse que a “transformação eclesiológica” que aconteceu com a realização do Sínodo sobre a sinodalidade aponta para a “recuperação de uma tradição importante, que é a articulação da unidade na diversidade e não na uniformidade”, e valorizou o “gesto inédito” do Papa de remeter às comunidades as conclusões da assembleia sinodal.

Para o teólogo, o facto do Papa não escrever um documento a partir da reflexão sinodal e assumir como magistério pontifício as conclusões formuladas e votadas pela Assembleia Sínodo significa que promove uma “infalibilidade a partir de baixo, a partir de toda a população”, que “pode ter até um impacto no próprio paradigma da noção de poder e até de governo”, significando a “conclusão do processo sinodal”.

Acho que o Papa Francisco interpretou muito bem o sentimento eclesial e esse gesto é um gesto claro de superação de uma matriz que, em rigor, já não se adequava, não digo aos nossos tempos, mas à nossa forma mesmo eclesial de ver as coisas”.

João Duque considera que o Sínodo sobre a sinodalidade gerou uma “nova forma” de viver em Igreja, cujo seguimento vai “depender muito das lideranças eclesiais”, apontado a “justiça relativamente a todos os que trabalham na Igreja” e a transparência como transformações “muito concretas” a implementar.

A questão da transparência e a questão da prestação de contas, desde as paróquias às dioceses, é algo que tem de entrar na nossa dinâmica quotidiana”.

Para João Duque, as conclusões do Sínodo dos Bispos podem também levar à transformação da Conferência Episcopal Portuguesa “num órgão com capacidade de decisão para as diversas dioceses em Portugal”.

O Sínodo dos Bispos teve por tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023 e a segunda entre os dias 2 e 27 e outubro de 2024.

Henrique Cunha (Renascença) e Paulo Rocha (Ecclesia)

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Agência ECCLESIA

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