Sociedade: Morte é encarada como «assunto tabu» e processo de luto é vivido sem preparação – Catarina Bragança Nobre, da Associação InLuto

Igreja Católica assinala no dia 2 de novembro a comemoração de todos os fiéis defuntos

Lisboa, 31 out 2024 (Ecclesia) – A psicóloga clínica Catarina Bragança Nobre, da Associação InLuto, considera que em Portugal a morte é encarada como um assunto tabu, o que muitas vezes provoca a impreparação para viver o processo de luto.

“Muitas vezes nós não queremos falar disso [morte], e a verdade é que, exatamente por isso, muitas vezes estamos muito impreparados para quando vivenciamos e experienciamos o processo [de luto]”, disse Catarina Bragança Nobre, em entrevista ao Programa Ecclesia, transmitido hoje, na RTP2.

A entrevistada integra a Associação Inluto – Associação Portuguesa de Cuidados Integrados no Luto, criada em 2021, que tem como missão “desenvolver a intervenção, formação e investigação na área do luto”, atuando também em escolas e hospitais com projetos.

Catarina Bragança Nobre dá conta que trabalhar com crianças “nem sempre é mais difícil do que trabalhar com os adultos”, referindo que a experiência da Associação InLuto indica precisamente o contrário, dado que quando se fala em luto implica sempre “crenças sobre a morte”.

“As crianças não estão tão cristalizadas naquilo que são as crenças sobre a morte e sobre o morrer. Então, nós temos uma oportunidade fantástica de desmistificar alguns conceitos, de falar abertamente sobre os temas, porque elas têm essa flexibilidade mental, têm muita curiosidade também, e, portanto, acaba por ser um trabalho muito bonito”, explica.

O trabalho da Associação InLuto nas escolas passa precisamente por desmistificar algumas questões sobre o processo de luto e por apoiar crianças que são sinalizadas e que se considera que que é pertinente um apoio psicológico mais individual.

“O luto tem o seu tempo e todos nós temos o nosso tempo de luto”, assinala Catarina Bragança Nobre, que refere que ao mesmo tempo este é um processo universal, porque todos, mais cedo ou mais tarde, vão passar por ele, e singular, na medida em que cada um tem a própria experiência.

Na entrevista, Catarina Bragança Nobre abordou ainda os conceitos de luto antecipatório e preparatório.

“Sei que existem alguns autores que, se calhar, falam com outra terminologia, mas a mim faz mais sentido adaptar o conceito de luto antecipatório para as pessoas que se estão a preparar para a morte daqueles que amam”, indicou.

Já o luto preparatório está relacionado com a própria morte, ou seja, quando alguém está num processo de fim de vida e tem plena consciência de que não resta muito mais tempo.

Em declarações à Agência Ecclesia, a psicóloga clínica frisou que luto não significa só perda por morte: “Falamos de todo o tipo de perda. Um divórcio, uma mudança de um país, a perda de um emprego. Tudo isso pode acarretar um processo de luto”.

A Igreja Católica celebra a solenidade litúrgica de Todos os Santos no dia 1 de novembro e a comemoração de todos os fiéis defuntos a 2 de novembro e, nesse âmbito, o programa ECCLESIA partilha ao longo desta semana experiências de acompanhamento em situações de luto e de fragilidade.

No dia 2 de novembro, o Papa vai presidir à Missa dos Finados no cemitério Laurentino, na periferia de Roma (Itália), onde também esteve em 2018 e rezou no “Jardim dos Anjos”, um espaço dedicado a crianças falecidas; em Portugal, os bispos diocesanos e os párocos celebram também nos cemitérios em

LS/LJ/PR

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Agência ECCLESIA

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