Sem-abrigo: «Não basta retirar a pessoa da rua, tornando o fenómeno menos visível» – presidente da Comunidade Vida e Paz

Instituição do Patriarcado de Lisboa promoveu jornadas no seu 35.º aniversário, assinalando Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

Lisboa, 17 out 2024 (Ecclesia) – O presidente da Comunidade Vida e Paz (CVP) defendeu hoje, nas Jornadas da Comunidade Vida em Paz, em Lisboa, que o foco das intervenções deve ser a “capacitação da pessoa para a sua autonomização”, rejeitando que o problema das pessoas em situação de sem-abrigo seja “essencialmente, uma questão de habitação”.

“Não, a questão da habitação é naturalmente importante, mas o foco tem que estar na capacitação da pessoa para a sua autonomização. Não basta retirar a pessoa da rua, tornando o fenómeno menos visível. É fundamental que, paralelamente à sua retirada das ruas, as pessoas sejam tratadas e capacitadas”, referiu Horácio Félix, na sessão de abertura do evento.

Segundo o responsável, esta é a visão, aquilo que a instituição defende e a forma que tem de “enfrentar os desafios decorrentes da dinâmica social, que está sempre em alteração”.

A Torre do Tombo recebeu hoje, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, as Jornadas ‘Motivar para a Mudança’, da Comunidade Vida e Paz, que celebram os 35 anos da Instituição Particular de Solidariedade Social, tutelada pelo Patriarcado de Lisboa.

“Hoje, a história da Lisboa atual é incontornável não contar, não se cruzar, não ter presente a Comunidade de Vida e Paz”, afirmou o patriarca de Lisboa D. Rui Valério, em declarações à Agência ECCLESIA.

Para D. Rui Valério, “a Comunidade de Vida e Paz é um laboratório de esperança”, no qual “as pessoas encontram verdadeiramente um lugar, uma circunstância de reconstruir vidas” e isso, invocando o Papa Francisco, é um dos atuais “sinais de esperança” para a comunidade e para a cidade de Lisboa.

O patriarca de Lisboa sublinhou a importância de perceber que a IPSS “almeja e persegue sempre a reconstrução, a recriação de uma história, a recriação e a reestruturação de uma vida”.

“Quando se propõe a um sem-abrigo para que ele seja acolhido e aceite ser acolhido numa das nossas comunidades, o horizonte é sempre para a sua reestruturação a fim de ele próprio recomeçar uma nova etapa da sua existência e da nova vida”, salientou.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

Segundo D. Rui Valério, “não se trata somente de responder com uma dádiva a uma necessidade, seja ela de cariz alimentar ou de vestuário ou de saúde, mas trata-se exatamente de transmitir e fornecer aqueles elementos estruturais fundamentais para que a pessoa se reconstrua, para que a pessoa reviva uma nova etapa na caminhada da sua vida”, algo que a CVP “tenta transmitir”.

Também a diretora da Comunidade Vida e Paz, Renata Alves, assinalou que “há 35 anos que a instituição procura combater a exclusão social, que vai desde “o ir ao encontro das pessoas em situação de sem-abrigo através das equipas voluntárias de ruas e equipas técnicas” até à possibilidade de “desenhar um projeto de vida para cada pessoa”.

“O foco está essencialmente na pessoa e a partir daí temos a oportunidade de convidar as pessoas a fazerem um programa ou a fazerem a reinserção social connosco nas nossas respostas”, referiu.

À Agência ECCLESIA, a diretora da CVP deu conta que desde a pandemia que a IPSS tem “verificado um aumento de pessoas em situação de sem-abrigo e em situação de vulnerabilidade social”.

“Isso tem sido um enorme desafio, por um lado porque as pessoas estão a passar imensas dificuldades e estão a sentir-se sozinhas e, na verdade, as instituições também, porque carecem de ter apoios suficientes para conseguir garantir a continuidade dos serviços e dar resposta às necessidades que as pessoas apresentam”, explicou a responsável.

Renata Alves considera que os desafios são inúmeros quanto à sustentabilidade da instituição, uma vez que 50 % das receitas da CVP provêm de acordos com o ministério da Saúde e com o ministério da Segurança Social e de protocolos que a instituição estabelece com os municípios.

Os restantes 50% é a própria IPSS que tem de garantir, contando com o apoio da sociedade em geral e dos benfeitores, sejam eles empresas ou individuais.

“Por isso, é de facto muito importante também que instituições como a nossa possam ter apoio e aqui apelo sempre aos responsáveis políticos para que continuem a apoiar as instituições para que elas consigam desenvolver um bom trabalho”, ressaltou.

A diretora da instituição assinala que a CVP tem conseguido manter a atividade e garantir respostas às pessoas, mas que tem que se “reinventar constantemente”.

LJ/OC

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