Moçambique: «Cabo Delgado está a tornar-se uma situação de conflito prolongado e esquecido», alerta coordenadora do Centro Missionário da Arquidiocese de Braga

Igreja de São Paulo, junto ao Seminário Conciliar de Braga, acolhe Vigília de Oração pela paz em Cabo Delgado

Braga, 03 out 2024 (Ecclesia) – A coordenadora do Centro Missionário da Arquidiocese de Braga alertou hoje para a importância de lembrar o conflito na província de Cabo Delgado, em Moçambique, que se iniciou em 2017.

“Nós percebemos que Cabo Delgado está-se a tornar uma situação de conflito prolongado e esquecido. É o conflito esquecido, já ninguém fala, porque efetivamente, talvez não mexa com tantos interesses, ou se calhar mexe demasiado com interesses económicos, e não se fala”, afirmou Sara Poças, em declarações à Agência ECCLESIA.

A Igreja de São Paulo, junto ao Seminário Conciliar de Braga, acolhe hoje, pelas 21h15, uma Vigília de Oração pela Paz em Cabo Delgado, fazendo memória dos 7 anos do início dos ataques.

Segundo a responsável do Centro Missionário da Arquidiocese de Braga, o objetivo da iniciativa é “chamar a atenção” da comunidade internacional para a guerra naquela região e manter o assunto na “ordem do dia”.

Foto: Centro Missionário da Arquidiocese de Braga

A Arquidiocese aproveitou a presença do Bispo de Pemba em Braga para assinalar o 7ºaniversário do início dos ataques em Cabo Delgado, algo que faz todos os anos, devido à ligação missionária de 10 anos que tem com aquela diocese de Moçambique.

“Fez-nos sentido antecipar um pouco este marcar dos ataques e fazer esta vigília pela paz, que, na verdade, já teríamos pensado em fazer alguma iniciativa. Então, foi um pouco também o reforço dessa vontade e aproveitar também o impacto de cá estar o D. [António] Juliasse, que tem vivido toda esta situação na primeira pessoa”, explica a coordenadora do Centro Missionário da Arquidiocese de Braga.

O bispo de Pemba, D. António Juliasse, está de visita a Braga hoje e sexta-feira, onde se vai encontrar com sete seminaristas da diocese que estão a estudar na cidade.

A Arquidiocese de Braga tem um equipa constituída por sacerdotes e leigos na Paróquia de Santa Cecília de Ocua, que apadrinhou no âmbito do acordo de cooperação com a Diocese de Pemba.

O trabalho dos missionários é sobretudo, pastoral, diz Sara Poças, que acrescenta que como a Igreja de Moçambique é uma igreja ministerial, “todos os leigos nas comunidades estão muito envolvidos”.

A “missão de Ocua tem mais ou menos o tamanho da nossa Diocese de Braga. Portanto, não é assim tão fácil chegar a todo lado, mas o trabalho que vamos fazendo, essa equipa missionária vai fazendo, é visitar as comunidades para celebrar os sacramentos”, indica, mencionando também que existem alguns projetos sociais que vão realizando, decorrentes das necessidades sentidas.

Sara Poças relata que nos primeiros seis anos de conflito, os ataques estavam muito concentrados no norte de Cabo Delgado, no entanto este ano, em fevereiro, os insurgentes passaram no território da missão da Arquidiocese de Braga, no sul da província, quase na fronteira com Nampula.

Apesar de a equipa missionária ter conseguido sair a tempo, “algumas pessoas acabaram por morrer”, refere a coordenadora do Centro Missionário da Arquidiocese de Braga.

“Entretanto, as coisas neste momento estão relativamente tranquilas”, salienta.

Sobre o balanço da presença de missionários da Arquidiocese de Braga, Sara Poças dá conta que “têm sido 10 anos de muitas alegrias” e “também muitos desafios”.

“Também temos a certeza de que enquanto houver condições iremos permanecer na missão, porque em época de desafios, em que o desafio é maior e o medo e a incerteza, percebemos que nesta época, desde fevereiro, também tem sido importante este trabalho de sermos presença, de sermos igreja presente no meio do povo com quem já temos trabalhado há 10 anos”, destaca.

A responsável informa que em outubro, no Dia Mundial das Missões (20), vão ser enviadas duas leigas para Moçambique, juntamente com o sacerdote que já lá se encontrava, que vai continuar em missão pelo menos mais um ano.

LJ

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Agência ECCLESIA

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