D. António Carrilho saúda presença do Cardeal Ivan Dias na Madeira

E assinala a importância da «fé cristã na história da cidade» do Funchal Eminência Reverendíssima, Senhor Cardeal Ivan Dias: é com imensa alegria que, em meu nome e de todo o Povo cristão da Madeira, vos saúdo e dou as boas vindas. Sentimo-nos honrados com o privilégio desta vossa visita e auguramos as maiores Bênçãos para o vosso ministério, à frente da Congregação para a Evangelização dos Povos. Bem-haja, Senhor Cardeal, por ter aceite estar connosco nesta data tão significativa para a Cidade e para a Diocese do Funchal. Saúdo, com igual júbilo, as Excelentíssimas Autoridades presentes, nomeadamente todo o Executivo Camarário – o Sr. Presidente do Município, Vereadores e outros mais directos colaboradores – e todo o bom povo da nossa querida Cidade. Que a comemoração dos seus 500 anos de existência contribua para avivar a memória dos valores e tradições e para criar novos projectos a bem do desenvolvimento, bem-estar e boas relações entre os seus habitantes e com aqueles que nos visitam. O Senhor ama a Cidade O Salmo 87 lembra que “o Senhor ama a cidade por Ele fundada” (vv. 1-2). E o belo Salmo 127, cantado nas subidas para Jerusalém, garante: “se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigiam as sentinelas” (v.1). O Senhor ama, guarda e protege não apenas a emblemática urbe de Jerusalém, mas nela, e através dela, envolve em solicitude amorosa todas as cidades e gentes. O Senhor ama a Cidade do Funchal: os que aqui nascem, vivem, trabalham; os que se tornam navegadores e construtores da sua própria história, aqui, neste anfiteatro natural admirável, que por si só constitui um hino à Criação. Quando passam 500 anos da sua fundação, como não enaltecer o Deus de todas as graças, pelos inumeráveis dons que, na Sua Providência, tem derramado sobre a nossa cidade? – É o que queremos fazer com esta Eucaristia e Te Deum. Tradição espiritual cristã Hoje, basta acompanhar a toponímia urbana para pressentir como a Fé cristã tem integrado e sustentado o processo histórico de desenvolvimento da própria cidade. De São Gonçalo a São Martinho, da Senhora do Socorro à Senhora do Monte, de Santa Catarina a Santo António: assim se foi tecendo uma identidade que bebe na tradição espiritual cristã grande parte dos seus valores e que sabe encontrar aí um sentido de pertença e de esperança. Na Carta Régia de Fundação, o rei D. Manuel I declara esperar “na ajuda de Nosso Senhor”, para que o projecto da Cidade chegue a bom porto. A memória destes 500 anos permite-nos alargar o nosso olhar à vastidão do que foi vivido e exemplificar essa ajuda de forma muito concreta. Embora a elevação da Cidade seja em poucos anos anterior à criação da Diocese do Funchal (1508, 1514), pesaram já então factores de ordem religiosa. Não só a evangelização da Ilha oferecia garantias de prosseguir com vitalidade, como se pretendia fazer destas terras uma espécie de plataforma missionária para a Evangelização dos Povos, desígnio que veio a ocorrer rapidamente e que constitui uma das páginas mais extraordinárias da nossa história funchalense e insular. No ano de 1521, elegeu-se por sortes o Apóstolo São Tiago Menor como patrono da Cidade. Quem queira perceber como realmente a Fé e a Cultura se enlaçam e caminham a par, revisite os emocionados votos que, em séculos diferentes, o Funchal foi repetindo perante a imagem de São Tiago. Nas horas mais difíceis, quando toda a esperança parecia soçobrar no peso da aflição, da fome ou da doença, quantas vezes os governantes se voltaram para a imagem de São Tiago e disseram: “Senhor, até aqui guardamos esta cidade como pudemos. Não podemos mais, agora tendes vós a vara. Sede vós o guarda das nossas vidas!” E a verdade é que o milagre maior acontecia, que é sempre aquele que o Espírito escreve através do dinamismo e do empenho dos homens. Sementes de fé e cidadania Nestes 500 anos quantas histórias maravilhosas de santidade nos iluminam; quanta obra inflamada de misericórdia e do génio da caridade – no impulso do Evangelho fundaram-se hospitais, tratou-se a peste, socorreu-se a fome, proveu-se aos órfãos e aos idosos; quanto serviço silencioso e apaixonado no campo da educação – criaram-se escolas e dinâmicas pedagógicas, numa aposta clara na pessoa humana; quanto engenho e criatividade no campo da cultura, espelhados na beleza das nossas igrejas, no magnífico Museu Diocesano, e também em projectos editoriais, em produção de arte e pensamento que tanto enobrece a nossa cidade do Funchal! O Cristianismo, podemos dizer, tem sido constante sementeira de cidadania. Especial referência merece, a este propósito, a recente celebração dos 500 anos da Misericórdia do Funchal, sob o lema “500 anos da Misericórdia, 500 anos de Solidariedade”, uma verdadeira história da Cidade feita na experiência da Caridade, cem os olhos e o coração abertos às exigências do tempo presente, a novos compromissos e a novos desafios. Sabedoria da hospitalidade A 12 de Maio de 1991 a cidade do Funchal teve a alegria de receber o Papa João Paulo II – um feliz acontecimento, que quisemos avivar na nossa memória, colocando uma coroa de flores no monumento, que lhe foi dedicado, e expondo, aqui junto à Sé, o Papamóvel que então foi utilizado. A recordação da mensagem, que o Papa deixou, abre comovidamente as portas do nosso coração para a tarefa do futuro. Assinalada como a primeira cidade europeia fora da Europa, o Funchal tem consigo a missão de continuar esta abertura ao mundo e o dever de aprofundar a sabedoria da hospitalidade. A proclamada “civilização do lazer” necessita de “assegurar um verdadeiro enquadramento ético e espiritual”, para que se torne propícia ao homem na inteireza do seu Ser e das suas aspirações. Ora, nós só seremos capazes de assegurar este espírito humanista aos que nos visitam, se formos nós próprios os primeiros a vivê-lo. Celebrar os 500 anos passados coloca-nos, assim, com mais intensidade perante a urgência do nosso presente comum e a generosa e exigente construção do amanhã. 500 anos da Paróquia Aqui nos encontramos nesta Catedral – a chamada “igreja grande” mandada construir por D. Manuel I, em 1493, e elevada a Sé do Funchal, aquando da criação da Diocese, em 1514. Para aqui foi transferida a sede da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Baixo ou do Calhau, logo no ano de 1508, comemorando-se também agora os 500 anos desta Paróquia da Sé. Damos, por isso, graças a Deus, por tantas gerações de madeirenses que aqui passaram, celebrando a sua fé, recebendo os sacramentos, pedindo a protecção divina, louvando a Deus pelas Suas maravilhas. À Senhora do Monte Os nossos olhos voltam-se, finalmente, para a Senhora do Monte, a cujo Patrocínio e Protecção a Cidade está confiada, desde o trágico aluvião de 1803. Do alto da cidade a Senhora continua a proteger-nos e de lá desceu, nesta feliz ocasião, a sua pequena imagem tão querida dos madeirenses e que aqui está, diante de nós, nesta celebração. À Padroeira nos dirigimos, com muito amor e gratidão, implorando para a sua Cidade as maiores Bênçãos e Protecção: Senhora do Monte, rogai por nós! Funchal, 21 de Agosto de 2008 † António Carrilho, Bispo do Funchal

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