Sociedade: Bispo de Setúbal lamenta que vida de migrantes «esteja prisioneira de um pingue-pongue partidário»

«Todos somos corresponsáveis pela sorte destes irmãos», defendeu D. Américo Aguiar, em conferência sobre «Mais inclusão, menos desigualdade», da Associação dos Ex-deputados à Assembleia da República

Setúbal, 29 mai 2024 (Ecclesia) – O bispo de Setúbal lamentou esta terça-feira, no âmbito da conferência ‘Mais inclusão, menos desigualdade’, no Feijó, que a vida dos migrantes “esteja prisioneira de um pingue-pongue partidário”

“Lamento que muita gente com responsabilidades não ouça os meus colegas de painel. Quando ouvimos, parece tudo tão óbvio, mas constatamos que não são ouvidos. E assim constatamos que a vida destes nossos irmãos esteja prisioneira de um pingue-pongue partidário, e não é só em Portugal, infelizmente”, afirmou o cardeal D. Américo Aguiar.

“Estamos a assobiar para o lado”, acrescentou.

O bispo sadino falava nos dados apresentados pelos oradores do painel que reforçaram a ideia de que a questão da emigração, vista em contexto, não terá o impacto que se procura fazer crer, referindo que há soluções já testadas que só não são implementadas por falta de vontade política, informa a Diocese de Setúbal.

“Todos somos corresponsáveis pela sorte destes irmãos, e quanto mais sentirmos que somos parte do assunto, uns ficarão zangados, mas todos sairemos a ganhar”, defendeu.

A iniciativa da Associação dos ex-deputados da Assembleia da República realizou-se na Biblioteca Municipal José Saramago, ao final da tarde, num painel composto ainda por Mónica Ferro, antiga deputada e diretora do Fundo das Nações Unidas para a População, e Rui Pena Pires, professor universitário e sociólogo, com foco na inclusão dos migrantes, na emigração e imigração.

D. Américo Aguiar afirmou que “a pessoa humana tem de ser o foco” da ação de cada um, nomeando a Doutrina Social da Igreja como exemplo.

O cardeal começou por salientar desde logo a urgência em “colocar a pessoa integral no centro” da ação, mencionando que “não chega dar de comer às pessoas”.

“Há quem diga que basta dar pão, há quem diga que basta teto, há quem diga trabalho…. Mas tem de ser tudo”, frisou.

Seguiu-se o “bem comum”, com o bispo de Setúbal a alertar que quando alguém decide em função do próprio benefício, do grupo em que está inserido e da própria geografia, “algo não vai correr bem”.

D. Américo Aguiar ressaltou ainda a subsidiariedade como um princípio que “tem dificuldades em sobreviver, porque o nível superior não tem possibilidade de se sobrepor ao nível inferior”.

“Quando isso acontece, depois tudo toma contornos estranhos”, indicou.

Por fim, o cardeal sublinhou a importância da “caridade”, que segundo o bispo, “é o mesmo que a solidariedade, só que levada ao limite de dar a vida por aquilo em que se acredita, como Jesus fez”.

De acordo com a Câmara Municipal de Almada, a iniciativa “Mais inclusão, menos desigualdade” insere-se no “compromisso cívico da associação em relação à qualidade social e à dimensão da cidadania” da democracia.

LJ/OC

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