Igreja: Patriarca de Constantinopla pede cessar-fogo imediato na Ucrânia e no Médio Oriente

Bartolomeu demarca-se das posições do patriarca ortodoxo de Moscovo e considera «heresia» qualquer ideologia para justificar a guerra

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Lisboa, 16 mai 2024 (Ecclesia) – O patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa) apelou hoje a um cessar-fogo imediato na Ucrânia e no Médio Oriente, criticando o Patriarcado Ortodoxo de Moscovo pelo seu apoio à guerra.

“Não podemos concordar de forma alguma com a ideologia do mundo russo [russkiy mir] e com as orações que o patriarca [Cirilo] faz, não pela paz, mas pela vitória das armas russas. Eu disse esta manhã que esta ideologia é puro nacionalismo e é uma heresia”, disse Bartolomeu, em conferência de imprensa, após ter celebrado a Divina Liturgia na Igreja de Nossa Senhora da Vitória, em Lisboa.

O responsável ortodoxo condenou o ataque da Rússia contra “um Estado independente e soberano”.

Mais de metade dos ucranianos fazem parte da Igreja Ortodoxa, dividida em dois patriarcados.

Em janeiro de 2019, Bartolomeu reconheceu nova Igreja na Ucrânia como “autocéfala” (independente), decisão rejeitada por Moscovo; com a concessão da chamada “autocefalia”, a Igreja da Ucrânia passou a ser a 15ª Igreja Ortodoxa.

Esta decisão levou o Patriarcado de Moscovo a romper relações com o Patriarcado Ecuménico de Constantinopla.

“Amamos a Igreja da Rússia, uma filha do patriarcado ecuménico, de quem recebeu a sua autocefalia no século XVI, e amamos, temos estima pelo patriarca Cirilo”, referiu Bartolomeu

O patriarca ecuménico é considerado como ‘primus inter pares’ entre as várias Igrejas ortodoxas, embora não tenha jurisdição sobre as mesmas, ao contrário do que acontece com o Papa, no caso dos católicos.

“O patriarcado ecuménico está ao lado da Ucrânia, a vítima que está a sofrer e está a sofrer injustiças”, disse Bartolomeu, em resposta aos jornalistas.

O responsável mostrou-se “desiludido” com o apoio da Igreja ortodoxa da Rússia ao ataque iniciado a 24 de fevereiro de 2022.

“A Federação Russa, o presidente Putin, começou o ataque, a invasão, de repente, de um Estado independente e soberano”, apontou.

O patriarca de Constantinopla lamentou que existam “milhares de vítimas, não só entre os soldados dos dois lados, mas entre as pessoas inocentes, incluindo muitas crianças e bebés, mortos de forma continuada”.

A intervenção recordou ainda que “muitos hospitais, igrejas e escolas foram destruídas, com aldeias e cidades reduzidas a ruínas”.

“Esta é uma grande tragédia dos nossos dias”, sustentou.

Bartolomeu mostrou-se ainda preocupado com os menores – “fala-se em 20 mil crianças” – que foram levados da Ucrânia e estão na Rússia e na Bielorrússia, “contra a sua vontade”, pedindo o seu “regresso imediato” ao país natal.

O responsável ortodoxo agradeceu a ajuda “ativa” dos países ocidentais à Ucrânia, permitindo que o país “resista” ao ataque russo.

“Desejamos e rezamos por uma cessar-fogo em breve e uma solução pacífica, viável para o problema”, apelou.

A intervenção evocou ainda as cerca de 35 mil pessoas que morreram, até hoje, na Faixa de Gaza, e a “fome” na região.

“Estamos profundamente entristecidos pela situação no Médio Oriente, o berço do Cristianismo”, assumiu.

Bartolomeu disse que o presidente turco enviou uma carta ao Papa, a descrever de “forma dramática” a situação em Gaza e que Francisco terá ficado comovido, com esse relato.

“Rezamos também por um cessar-fogo imediato no Médio Oriente, por uma solução pacífica e justa, com base nos princípios do direito internacional”, concluiu.

Esta é a primeira visita de um patriarca ecuménico de Constantinopla a Portugal, tendo Bartolomeu participado no 1ºFórum Global KAICIID para o Diálogo, que decorreu em Lisboa.

Questionado sobre a sua intervenção nesse encontro, o patriarca sublinhou a importância de “viver com o que é essencial” e respeitar a natureza como “dom de Deus”, em vez de a ver como um “mero objeto”.

O responsável destacou que a crise ecológica tem “repercussões sociais sérias” e afeta “sobretudo os marginalizados, os pobres, todos os que são negligenciados”.

“Não podemos obter nada sozinhos, cada um por si. É preciso cooperação, colaboração, não só dos líderes políticos, mas das comunidades religiosas e da sociedade civil”, declarou.

OC

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Agência ECCLESIA

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