Ele Vive nos nossos corações

Daniela Sofia Neto, Diocese de Coimbra

Vivemos tempos sombrios, marcados pela incerteza, como uma névoa densa sobre a humanidade. Este tempo da Quaresma e da Páscoa oferece-nos uma reflexão sobre o modo como vivemos os nossos dias e aquilo a que damos importância. À semelhança de Cristo na sua Via Sacra, também os nossos caminhos são percorridos com a dor da Cruz que cada um de nós carrega. São claros os resquícios de uma crise global provocada pela pandemia COVID-19, com uma forte indeterminação quanto ao futuro e que nos abalou física e psicologicamente de modo profundo. A instabilidade política faz-se sentir, desde protestos e manifestações que consequentemente mostram o descontentamento dos povos a eleições com sentimentos agridoces que espelham tensões e polarizações em torno da preservação da democracia. Vemos todos os dias imagens de conflitos armados que ceifam tantas vidas e as notícias que lemos falam-nos de tensões geopolíticas que não sabemos o que futuramente nos trarão. As desigualdades económicas são igualmente avassaladoras, mostrando disparidades na distribuição da riqueza e ameaçando sobretudo as pessoas mais frágeis e vulneráveis. As mulheres, crianças e as minorias são também as principais vítimas de violência e de homicídios, nos seus próprios lares e portos de abrigo, até às ruas. O mundo grita “socorro”, com fenómenos climáticos que representam uma ameaça para a existência global, fazendo transbordar uma preocupação sobre a resiliência das comunidades e dos ecossistemas. Enquanto uns experienciam a ansiedade de alcançar o sucesso, outros passam por ela pela esperança de apenas (sobre)viver. Tantas pessoas vivem alienadas e desconectadas da realidade, não permitindo que se olhe para esta névoa de concomitante(s) crises(s). Vivemos mais solitários, vazios e isolados do que nunca, apesar de a tecnologia ser uma potenciadora de redes sociais (mas não é e nunca será o mesmo). Sofremos perdas, passamos por depressões e deceções. Apercebemo-nos das nossas próprias limitações e fraquezas. E tanto mais que há para dizer sobre uma verdadeira crise de Direitos Humanos, que urge combater com Justiça e Paz. Afinal, “somos pó e ao pó voltaremos”. Esta mensagem, que ecoa na Quarta-Feira de Cinzas e que marca o início da Quaresma é um lembrete poderoso da efemeridade da vida e convida-nos a refletir sobre o que realmente importa: gratidão, amor e generosidade. Devemos olhar para este caminho que Jesus percorre com uma Cruz pesada com esperança e redenção. Ele não esquece os oprimidos e os vulneráveis. Ensina-nos a viver despojados dos nossos bens e a olhar para o nosso interior, mostra-nos como seria belo sabermos perdoar e o valor da reconciliação, mesmo diante de adversidades. A Via Sacra de Jesus deve ser como uma chamada a viver os Seus ensinamentos com coragem, compaixão e solidariedade na construção de um mundo mais harmonioso, justo, compassivo e empático. Ele Morre, por amor e Ressuscita. Também nós temos estes momentos nas nossas vidas. A nossa Ressurreição é quando nos erguemos das cinzas perante dificuldades e encontramos forças para seguir em frente. Quando cometemos erros e temos a coragem para os reparar e com eles aprender. Esta é a verdadeira Páscoa e a mensagem que nos transmite: Ele está vivo, Ele Vive em cada um de nós, Ele Vive nos nossos corações. Que possamos sempre renascer e abraçar o mundo com empatia e amor. Que sejamos pedras vivas na construção de um Mundo melhor. Que tenhamos a coragem de seguir o Seu exemplo ao amar o próximo como ele amou e que não percamos a força e a inspiração em cada passo deste caminho. No fim de contas, Ele Ressuscitou e deixou-nos a sua mensagem de Amor.

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Agência ECCLESIA

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