Viseu: Homilia de D. António Luciano no Domingo de Páscoa

Foto: Diocese de Viseu

O Senhor Ressuscitado é a nossa Páscoa, a nossa vida, a nossa paz e a nossa esperança.

Eis o dia que fez o Senhor. Exultemos e alegremo-nos n’Ele. Este é o dia em que o Senhor Jesus Ressuscitou, venceu a morte e o pecado e nos trouxe a vida nova em abundância. Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado!

Queridos irmãos e irmãs, no centro das leituras do Domingo de Páscoa está o anúncio da Ressurreição de Cristo e a sua experiência na nossa vida.

Os verbos ver, acreditar, anunciar e testemunhar são muito importantes para percorrer o caminho da fé.

A noite que fez surgir a Luz, que dissipou a escuridão das trevas do erro, do pecado e da morte, chama-se Jesus Cristo Ressuscitado. A Vigília Pascal, que celebrámos na noite Santa da Páscoa, apresentou-nos o fogo, a luz e a água como dons pascais.

O fogo que se acendeu e foi benzido deu origem ao Lume Novo onde foi aceso o Círio Pascal, porque a Luz que brilhou na escuridão da noite é Cristo Ressuscitado.

Ele é a Luz que ilumina a terra inteira e brilha no dia novo da Páscoa como Luz do mundo e esperança de todos os povos.

A água, sinal de vida nova benzida na Vigília Pascal, lembra-nos a fonte de água viva, o rochedo espiritual que é Cristo de onde brota o amor divino que nos lava, purifica e mata a sede de infinito.

A manhã do primeiro dia da semana, em que a Igreja celebra todos os anos a grande festa da Páscoa, compreende o maior acontecimento da história da humanidade e da história de Deus com os homens.

A festa da Páscoa gera vida nova e destrói o egoísmo enraizado no homem velho. Páscoa significa passagem: da morte à vida, do pecado à graça. Cristo passou pelo túmulo para nos ensinar o que é preciso saber perder para ganhar a vida eterna.

 

O túmulo do Senhor está vazio…

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu e foi ter com Simão Pedro e com o discípulo predileto de Jesus e disse-lhes: “Levaram o Senhor e não sabemos onde O puseram”.

Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro para se certificarem. O discípulo amado, João, chegou primeiro, mas esperou por Pedro. O discípulo amado é o da primeira hora e é também o que foi fiel até ao fim. Entretanto, chegou Simão Pedro, que o seguira. Pedro, o que negou o mestre, é chamado a entrar em primeiro lugar no sepulcro. A negação transformou-se em amor…

Entrou no sepulcro, “viu e acreditou” (cf. Jo, 20,1-9). Acreditar é a maior experiência de amor, é um dom pascal. É o início da fé pascal, porque acredita no Evangelho, nas palavras de Jesus. Acredita no Ressuscitado e torna-se seu discípulo e testemunha.

O sepulcro vazio é sinal de que a vida do Ressuscitado tem uma dimensão divina, que não se limita a um espaço, mas está presente em toda a parte. É preciso ver e acreditar que Cristo Ressuscitou, como aconteceu com Maria Madalena, as mulheres e os discípulos. Cristo está presente no meio da comunidade reunida: “Onde dois ou três se reunirem em meu nome, Eu estou no meio deles”.

É este o caminho novo, a sinodalidade. Os discípulos de Jesus Ressuscitado devem caminhar juntos na comunhão, estar juntos, sempre reunidos em nome do Senhor, na participação da mesma fé e compromisso. Todos, e não só alguns, na missão de sair do nosso conforto, do nosso comodismo para irmos pelo mundo anunciar a Ressurreição de Cristo. Eis o desafio e a urgência da evangelização, que nos chama e convida a ser discípulos missionários.

Desde aquele primeiro dia da semana, a Ressurreição de Jesus tornou-se o acontecimento de palavra comunicada, de uma vida anunciada com alegria, de anúncio privilegiado da fé, da verdade da Palavra por excelência, que a Igreja é chamada a anunciar e a testemunhar, como fez Pedro no discurso narrado nos Atos dos Apóstolos.

 

Ser testemunha da Ressurreição é ser testemunha da esperança

Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n’O, suspendendo-O na Cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos”. (cf. At 10, 34a,37-43).

O anúncio Pascal de Pedro anuncia aos ouvintes: “Procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui” (Mc 16, 6). São Pedro afirma que Jesus mandou-os pregar e testemunhar que Jesus é o Filho de Deus, que veio ao mundo para nos salvar.

Na casa de Cornélio, um pagão convertido, Pedro recorda que a adesão a Jesus não é uma adesão a um projeto, a uma ideia, nem a uma teoria. Trata-se de uma adesão a uma pessoa, Jesus Cristo, que passou a vida a fazer o bem. Jesus morreu e ressuscitou para nos dar a vida nova para remissão dos nossos pecados.

Pedro expõe as três verdades fundamentais da fé e o anúncio do Querigma: “Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré. Eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz, e Deus ressuscitou ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se” a todo o povo. Quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados. Jesus Cristo é o homem novo a razão de ser da pregação e do testemunho de São Pedro.

 

Aspirai às coisas do alto e sede fermento novo a levedar a massa

Este é o dia glorioso em que Cristo triunfou na alegria de uma nova primavera. “Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo se encontra sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com cristo em Deus”. Aspirar às coisas do alto significa aspirar às coisas do futuro. Cristo é a vida nova, porque é de ontem, de hoje e de amanhã. A ressurreição de Jesus compromete aqueles que acreditam, fazendo dos batizados participantes do mistério pascal de Cristo, cuja vida está a partir daquele momento “escondida com Cristo em Deus”.

 

Ver o sepulcro vazio é uma grande experiência da fé, que nos faz renascer

A ressurreição é obra divina, é obra só de Deus, a cruz no fundo é obra humana. Podemos construir muitas cruzes para nós e para os outros.

Encontrar o Ressuscitado significa também tornar-se testemunha da sua Ressurreição. O encontro com o Ressuscitado produz frutos de conversão. O perdão dos pecados é fruto e testemunho da ressurreição e faz-nos renascer de novo.

A passagem do medo à alegria de encontrar o Ressuscitado é fazer a experiência da ressurreição na nossa própria vida. O relato do Evangelho coloca Maria Madalena, de manhãzinha, ainda escuro, diante do sepulcro. Viu a pedra retirada e acreditou.

Também Pedro fez a experiência. “Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário enrolado à parte. Viu e acreditou”.

A vida de Cristo Ressuscitado deve levar os cristãos a empenharem-se cada vez mais na vida da Igreja, para a ajudarem a transformar-se na nossa Casa, a transformar a sociedade num mundo melhor com mais valores humanos, cívicos, morais e cristãos.

A paz esteja convosco! Esta saudação de Cristo veio trazer a paz à terra. Que todas as guerras do mundo acabem, cresçam a paz e a tranquilidade em todos os povos e nações.

A Mensagem do Domingo de Páscoa seja portadora de paz, de alegria, de esperança e de amor, para derrubar todos os muros, libertar dos medos, afastar dos males e oferecer a todos a saúde, o trabalho e o pão.

Afastem-se do mundo as guerras, a inveja, o ódio, o ciúme, a violência, a idolatria e todos males que destroem a dignidade da pessoa humana e empobrecem o mundo em que vivemos.

Sejamos construtores da paz e da concórdia que Cristo Ressuscitado ofereceu aos seus discípulos. A paz é o primeiro dom de Cristo Ressuscitado, dom Pascal oferecido aos discípulos. A paz é um dom de responsabilidade assumido na relação com Cristo Ressuscitado.

Rezemos a Cristo Ressuscitado para que conceda a paz ao mundo, e, à Igreja, a força e a caridade para cuidar dos mais necessitados.

Viver a Páscoa é viver e renascer no compromisso de construir um mundo melhor onde todos sejam respeitados e amados. “Enraizados em Cristo”, com a proteção da Rainha do Céu, a Senhora da Alegria, alegremos e exultemos no Senhor, que venceu o pecado e a morte, e Ressuscitou.

Renascidos em Cristo, façamos da visita Pascal um dom de Cristo Ressuscitado, levando a cada família o amor e a paz. Partilhemos o pão e o folar da Páscoa no convívio e sentados à mesma mesa.

Desejo Santas Festas Pascais para vós e vossas famílias, para os presos, os doentes e os abandonados da sociedade.

Que Nossa Senhora conceda a alegria e a paz a todos aqueles que hoje cuidam e servem com alegria os seus irmãos mais necessitados. Ámen!

 

Viseu, 31 de março de 2024

D. António Luciano dos Santos Costa, bispo de Viseu

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