Francisco Gonçalves Domingos quis associar nascimento do Menino ao «sofrimento de tantas crianças»
Peniche, 04 jan 2024 (Ecclesia) – A igreja de Nossa da Ajuda, a matriz da Paróquia de Peniche (Patriarcado de Lisboa), construiu um presépio onde Jesus está sozinho, no meio de escombros, numa evocação à guerra na Terra Santa, com “um significado muito especial, muito único”.
“É mais forte, arrepia-nos, acaba por ser quase aterrador ver assim uma criança completamente desamparada, sozinha, sem ninguém, sem uma mãe, sem um pai, sem uma mão, é terrível. Assim a mensagem passou mais forte”, disse hoje Francisco Gonçalves Domingos, à Agência ECCLESIA.
O entrevistado, conhecido como professor Chico, realça que quem nasce no presépio é o Menino, “já foi assim no primeiro Natal e continua a ser o Menino”, e cabe a cada um, “uns mais, outros menos, fazer de pai, fazer de mãe”, de alguma maneira tornar-se presente, “junto daquela criança e de todas as outras crianças”.
Neste Natal, o autor quis associar o presépio à “guerra na Terra Santa”, território onde Jesus nasceu.
“Ao vermos tudo quanto nos envolve, tudo quanto nos rodeia, o nosso pensamento vai sempre para as crianças e como o Natal é o nascimento de uma criança muito especial quis fazer uma homenagem, evocar, o nascimento de Jesus associado ao sofrimento de tantas crianças que neste momento estão no palco das guerras”, explicou.
Já o pároco de Peniche salientou que é um “mundo em escombros onde nasce a luz”, anualmente o presépio pretende retratar uma realidade mais marcante, “às vezes, com sentido dramático da atualidade”, têm sempre esta “atenção a que o presépio seja a manifestação deste Deus que encarna na história dos homens”.
“Este ano face a todos os acontecimentos e cenários de guerra, e muito concretamente na Palestina, na terra onde Jesus nasceu, em Belém, no meio de escombros. Jesus é este rosto de ternura e de amor que ainda assim nos dá esperança”, acrescentou o padre Diogo Correia à Agência ECCLESIA.
Francisco Gonçalves Domingos que já construiu “centenas de presépios”, quando era catequista tinha ajuda do grupo e antes da reforma dos seus alunos de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), revela que, este ano, teve “muita dificuldade” em concretizar o projeto do presépio sozinho.
“Colocar o menino Jesus no meio do monte de escombros não é fácil, juntar os cacos é muito fácil, mas colocar o menino Jesus no meio daquela trapalhada toda é muito difícil. Tive sorte, um dos meus filhos e o meu neto ajudaram-me, estiveram ao meu lado porque não sei se seria capaz de chegar ao fim. Quando terminei ficámos arrepiados”, desenvolveu.
O professor Chico assume algum receio, quando implementou a ideia, mas destaca que as pessoas perceberam a mensagem: “Nunca tive tantos ecos como este ano”.
“Está a passar muito bem e ainda bem, ou então andaríamos todos muito, muito distraídos e valha-nos Deus, é proibido andarmos distraídos com tudo quanto nos rodeia. É longe mas toca-nos o coração, direta ou indiretamente, tem tudo a ver connosco e com a nossa vida”, salienta o agente pastoral.
O padre Diogo Correia sublinha que a representação do presépio na igreja matriz de Peniche tem cumprido a sua missão que “é de ser uma interpelação forte no coração dos homens”, por um lado o realismo do tempo atual, “da guerra, da ferida entre os homens”, e, ao mesmo tempo, existe a esperança “e só Jesus é que traz e as pessoas têm manifestado muito isso”, e tem causado “profundo impacto” nas partilhas que recebem.
O sacerdote adiantou que a representação do presépio na igreja de Nossa da Ajuda vai ser desmontada depois da festa do Batismo do Senhor, que se celebra, em Portugal, a 8 de janeiro, encerrando o tempo litúrgico do Natal.
CB/OC
Guarda: Presépio da Sé apresenta nascimento de Jesus em contexto de guerra