Terra Santa: «A guerra nunca se justifica» – D. Américo Aguiar (c/vídeo)

Cardeal português admite que conflito é «útil para muitos», falando em circunstâncias estranhas

Fátima, 13 out 2023 (Ecclesia) – O cardeal português D. Américo Aguiar disse hoje em Fátima que a guerra entre Israel e Palestina surgiu num momento “estranho”, apelando ao fim da violência que ameaça as populações.

“A guerra nunca se justifica. A violência e a morte nunca se justificam”, referiu aos jornalistas, no final da peregrinação internacional do 13 de outubro, a que presidiu.

O bispo eleito de Setúbal citou o Papa para denunciar a “globalização da indiferença”, perante as várias guerras.

“Já estamos mais ou menos indiferentes à Ucrânia, ao Sudão, à República Centro-Africana e a tantos outros conflitos, que como diz o Papa Francisco são uma terceira guerra mundial aos pedaços”, advertiu.

O responsável português considerou que o novo conflito entre Israel e Palestina veio servir “outros cenários”.

“Foi o que me pareceu e o que senti. A certeza que tenho é que, no fim de tudo, quem apanha são os mesmos do costume: as crianças, os frágeis, os últimos, que infelizmente a esta hora estão a correr”, indicou.

D. Américo Aguiar entende que o tempo desta guerra é “estranho”, vendo-a com um “fait-divers” que retira a atenção da comunidade internacional sobre a Ucrânia.

“A circunstância não foi ocasional”, acrescentou, sem querer apontar o dedo à Rússia, por entender que “a paz não se constrói contra ninguém”.

O cardeal recordou que Israel emitiu uma ordem de deslocação para cerca de 1,1 milhões de pessoas no norte da Faixa de Gaza, em 24 horas, mostrando-se preocupado com as populações da região.

“A história da Terra Santa tem milénios, com desproporção de reações ao longo dos séculos”, admitiu.

Foto: Lusa

O responsável católico lamentou a falta de eficácia da intervenção das “organizações internacionais, as Nações Unidas, todos os órgãos de escape e de pressão que existem, desde a II Guerra Mundial”.

D. Américo Aguiar sublinhou que “todos estão a trabalhar” pela paz, do Papa à diplomacia da Santa Sé, admitindo que a situação “não é fácil”.

“Tenho conhecimento, direto, de que tudo está a ser feito, em muitos patamares, em muitos tabuleiros, para que a paz possa acontecer. Infelizmente, também sabemos, a guerra é útil para muitos”, afirmou.

O presidente das celebrações do 13 de outubro realçou a importância da oração dos mais de 120 mil peregrinos, na Cova da Iria, em prol da paz.

“Às vezes somos promotores da paz, outras vezes nem por isso, não podemos disfarçar que está tudo bem”, indicou o bispo eleito de Setúbal, reforçando o que afirmou na homilia desta manhã, sobre as pessoas que fogem da guerra.

O bispo de Santarém, em declarações à Agência ECCLESIA, disse hoje que acompanha a situação entre Israel e Palestina com “uma preocupação muito grande”, e vive “em comunhão com a humanidade” ao ver o que se está ali a passar, “uma situação em que reina o ódio de morte entre povos”.

“Não me ponho de um lado ou outro da barricada, é ver que não são aqueles valores que eu aprendo do Evangelho, que aprendo há dois mil anos a esta parte. Tenho uma fonte que me diz que não é aquilo. Quando vejo e lembro aquela passagem que Jesus chora a olhar para a cidade de Jerusalém, olho para isto e Deus continua a chorar porque Deus não quer aquilo, não quer este ódio, não é solução o que se está a passar”, desenvolveu.

D. José Traquina, que é o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana dos bispos de Portugal, acrescenta que a guerra entre Israel e Palestina “contraria aquilo que é a evolução da humanidade”, o desenvolvimento da humanidade.

“Aquilo envergonha-nos. Espero que surja o bom senso dos responsáveis, das pessoas envolvidas, e da sociedade mundial, para que os valores humanos venham ao de cima e que sejam outros registos a decidir solução para aquelas terras e não as armas”, acrescentou o bispo de Santarém, que participou na abertura do simpósio que estuda “100 anos de história(s)” que nasceram com Luiza Andaluz, fundadora da congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima.

PR/OC

Notícia atualizada às 18h00

 

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Agência ECCLESIA

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