Ecumenismo: João Maria Carvalho sentiu esperança «corpórea», no Vaticano, diante de «novas formas de dizer o cristianismo» (c/vídeo)

Jovem, de 24 anos, cantou o «Cântico das Criaturas» de São Francisco de Assis em vigília ecuménica na Praça de São Pedro

Foto: Ricardo Perna

Lisboa, 09 out 2023 (Ecclesia) – João Maria Carvalho, que cantou no Vaticano, diante do Papa, o ‘Cântico das Criaturas’, disse que a esperança foi “corpórea” naquele acontecimento e que Francisco quer dar voz a “novas formas de dizer o Cristianismo”.

“Há comunidades que estão a dizer, em voz alta, em voz baixa e em silêncio, as suas feridas e estão vivê-las em conjunto. Esse é um motivo de maior esperança. E sentir que o Papa quer por nome a isso, quer que ganhe nome e seja ouvido, seja considerado, que estas experiências comunitárias, com a criatividade do espírito, possam dizer o cristianismo, é muito bonito”, explicou à Agência ECCLESIA o jovem de 24 anos, que integra a Comunidade da Casa Velha, Ecologia e Espiritualidade.

“Sente-se que os leigos se estão a mexer. É impossível não olhar, não ouvir, não dar conta desse movimento, e o acolhimento desse movimento que o Papa tem tido, tem sido um sinal de que as coisas podem mudar, como nos dizia a encíclica ‘Laudato Si’”, acrescenta.

João Maria Carvalho foi convidado a cantar o ‘Cântico das Criaturas«, no original de São Francisco de Assis, durante a vigília ecuménica que, a 30 de setembro, juntou 3 mil jovens e líderes religiosos das confissões cristãs, na Praça de São Pedro, para rezar pela Assembleia Sinodal, que decorre no Vaticano.

O jovem, que cantou sozinho naquele final de tarde, explica que a esperança, “e a esperança que só se vive da fraternidade”, se sentiu naquela praça, perante a Basílica de São Pedro.

É uma esperança que se toca no silêncio que partilhamos, nos cânticos que cantamos juntos. Tudo isso é a esperança a falar, no silêncio, na música, nos gestos, nos testemunhos dos que foram falar na vigília. A esperança toca-se, sente-se e é corporal”.

João Maria Carvalho, que lê com “muita humildade e desamparo” aquele momento durante a vigília, desafia à utilização das palavras «irmão» e «irmã»: “É talvez a palavra mais radical que alguém pode chamar a alguma coisa, e é o que torna este poema tão diferentes dos que vieram antes e depois”.

“Quando começo a chamar irmão ou irmã parece que algo se altera. Vivo na pele a experiência de manos e manas, a experiência de teias que nos ligam, com um fundo comum a todos, que nos lembra o verso de São Francisco – ‘louvado sejas pela irmã morte’. Na verdade o que é fonte da nossa alegria, é também fonte das nossas feridas e a Igreja, no reconhecimento das feridas – o sínodo é um querer dar voz a todas as feridas, todas as alegrias, comoções, é também um lugar onde esta fraternidade vem ao de cima. Está ai a minha esperança neste tempo”, indica.

O jovem, que leciona língua portuguesa a estudantes estrangeiros, diz que a vigília ecuménica foi semente mas também fruto.

“É, por um lado, uma semente com muitos séculos, mas também uma semente que se colca agora, porque houve uma vontade do Papa de colocar esta semente na vigília, neste tempo preciso. É também já um fruto porque ali já se realizou qualquer coisa e se acreditamos no que é uma oração, é qualquer coisa que já é ativa, que já ativa qualquer coisa em nós. Foi uma semente, mas é também já um fruto”, salienta.

João Maria destaca a comoção ao ver “crentes de tantas formas diferentes” juntos a rezar, e que o lugar de divisão, dada a reforma protestante, “se tornou o lugar do encontro”.

“A vigília juntou crentes de tantas formas diferentes – foi comovente ver Igrejas que vem da Antioquia, parece que andamos atrás no tempo. Há algo de histórico, e, simultaneamente, parece que há-de vir muito para a frente neste encontro de Igrejas que partilham uma fé no mesmo Cristo, mas que a vão dizendo e manifestando de maneiras diferentes e que ali se encontram para rezar juntas. Acho que isso me comovente e mostra como a diferença só trás riqueza”, sustenta.

O programa 70×7  (RTP2) destacou este domingo a vigília, que decorreu no Vaticano, e o momento de oração do encontro ‘Também Somos Terra’, que se quis associar ao momento ecuménico convocado pelo Papa Francisco.

LS

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Agência ECCLESIA

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