A terceira realização britânica de Woody Allen vem confirmar a adopção de um novo estilo, que desde “Match Point” se tem vindo a afirmar como uma nova carreira, mesmo que sejam muitos os pontos comuns com as fases anteriores. A participação do cineasta como actor deixou de ser essencial e, no seu filme agora estreado – “O Sonho de Cassandra” – tornou-se mesmo uma decisão acertada, uma vez que seria difícil cruzar o humor muitas vezes patético de Allen com a consistente interpretação de Colin Farrell e Ewan McGregor. Além de nome de um barco “O Sonho de Cassandra” é uma obra fria e calculada, com uma trama policial laboriosamente preparada na primeira meia hora de narrativa. Woody Allen, cineasta de inegável inteligência, deixa que o seu humor se exprima de uma forma discreta, mas bem incisiva. E se a componente policial não acarreta grande mistério, não deixa de levantar curiosidade quanto à forma como será resolvida a grande embrulhada que, pouco a pouco, se vai montando. Curiosa a forma como o crime é abordado. Sempre claramente reprovado, mesmo envolvendo as personagens que mais simpatia podem colher por parte do público, foge-se a uma solução inteiramente convencional, seguindo-se uma saída com algo de imprevisível mas capaz de pôr em relevo o cinismo de todo o esquema anteriormente montado. Woody Allen é mestre em inverter as simpatias e situações, virando o sentido dos acontecimentos em meia dúzia de planos. É muito elevada a qualidade da realização e não menor é o valor do argumento, do mesmo autor. A direcção de actores, exemplar, tira o melhor partido do talento de Colin Farrell e Ewan McGregor, bem como dos secundários. Depois do Reino Unido chegou a vez de Espanha contar com este cineasta, que realizou em Barcelona “Vicky Cristina Barcelona” que está em fase de pós-produção. Esperemos, para ver se o ambiente latino lhe permitiu manter o estilo ultimamente adoptado ou se percorrerá outros caminhos imprevisíveis. Francisco Perestrello