Direitos da Criança: «Proteger a criança contra todas as formas de exploração e abuso sexual» deve ser um direito «muito falado», afirma Rute Agulhas

Coordenadora do Grupo Vita refere que o número de vítimas que procuram acompanhamento é motivo de preocupação e também sinal de credibilidade da iniciativa da CEP

Lisboa, 01 jun 2023 (Ecclesia) – A coordenadora do Grupo Vita afirmou que o número vítimas que procuram acompanhamento é sinal de preocupação e de credibilidade e defende que o direito à proteção das crianças contra a exploração e o abuso deve ser “muito falado”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, Rute Agulhas alerta para o facto das crianças e jovens estarem mais despertos para os “direitos de sobrevivência” do que para o direito à proteção contra “qualquer forma de violência”.

“Quando questionamos as crianças e até os jovens sobre os direitos que eles têm, ficamos preocupados porque percebemos que a maior parte fala dos direitos de sobrevivência (direito a ter uma casa, uma escola, ir ao médico, ter uma família), mas são muito poucas as crianças ou os jovens que falam no direito a ser protegido de qualquer forma de violência”, afirmou.

Rute Agulhas lembrou que há temas que não são “muito falados”, nomeadamente “o tema do abuso sexual ainda é um tema muito tabu, muito escondido”, e afirma que é necessário começar a abordar o tema da educação sexual e do abuso sexual desde os três ou quatro anos de idade.

“Defendemos que o tema da sexualidade, da educação sexual e da prevenção do abuso sexual, que são temas que se complementam, comecem a ser abordados logo desde os três/quatro anos de idade, no jardim de infância”, afirmou Rute Agulhas.

A coordenadora do Grupo Vita referiu que o conhecimento das crianças e dos jovens sobre a sexualidade tem origem muitas vezes de forma “distorcida” nas redes sociais ou pela “interação com os seus pares”, que “muitas vezes não têm melhor informação”, e é vivida num “conjunto de emoções que vão inibir qualquer processo de revelação”, nomeadamente por parte de quem é vítima.

Para Rute Agulhas, “Portugal tem feito um caminho importante em termos de sensibilização, a vários níveis”, nomeadamente “junto das escolas, nas famílias, mais recentemente na área do desporto e agora mais especificamente na área da Igreja”, lembrando que em causa está um direito das crianças consagrado de forma “muito explícita” e que é o foco da ação do Grupo Vita.

”O direito a ser protegido contra qualquer forma de mau trato, negligência, abuso sexual ou exploração sexual é um direito que vem consagrado de forma muito explícita na Convenção sobre os Direitos das Crianças”.

O Grupo Vita é um grupo de acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal, criado pela Conferência Episcopal Portuguesa, na Assembleia Plenária de abril deste ano, que iniciou a atender vítimas no dia 22 de maio através do número 915090000 e, na primeira semana, recebeu 16 pedidos de ajuda.

“É um número que nos deixa preocupados! Mas entendemos que é um sinal claro de que as pessoas estão a olhar para nós da forma como gostaríamos: apesar de ter sido uma iniciativa da CEP, nós somos independentes, somos profissionais que trabalham na área da violência sexual, sem qualquer dependência do processo de tomada de decisão da Igreja”, afirmou a coordenadora do Grupo Vita.

Para além do atendimento de vítimas e do consequente acompanhamento por especialistas de várias áreas, Rute Agulhas referiu que o grupo quer “contribuir para o aumento da literacia na área da violência sexual de crianças e jovens e adultos mais vulneráveis”, nomeadamente através do sítio da internet grupovita.pt.

“Pretendemos que seja um bom banco de recursos e as pessoas possam encontrar respostas, artigos para ler, vídeos para ver, podcasts para ouvir, pensando na forma como as pessoas se possam encontrar mais confortáveis para encontrar a formação”, afirmou.

O Grupo Vita está também a elaborar um manual de prevenção da violência sexual no contexto da Igreja Católica em Portugal e, a partir de setembro, pretende desenvolver um programa de prevenção primária específico “para ser utilizado com crianças e com jovens no contexto da Igreja Católica”.

A entrevista à psicóloga Rute Agulhas é emitida no programa Ecclesia deste dia 1 de junho,  às 15h00, na RTP2.

PR

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Agência ECCLESIA

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