Francisco cumpre missão de paz, condenando quem explora recursos naturais e compromete futuro da população
Kinshasa, 03 fev 2023 (Ecclesia) – O Papa encerrou hoje uma viagem de quatro dias à República Democrática do Congo (RDC), onde repetiu apelos à paz e ao fim da exploração, por interesses internos e exteriores, que compromete o futuro do país africano.
“Não podemos habituar-nos ao sangue que, há décadas, corre neste país, ceifando milhões de vidas, sem que muitos o saibam. Que seja conhecido tudo o que acontece aqui”, disse, no primeiro discurso pronunciado em Kinshasa.
Numa intervenção particularmente crítica, Francisco dirigiu-se diretamente à comunidade internacional: “Tirem as mãos da República Democrática do Congo, tirem as mãos da África! Chega de sufocar a África!”.
A capital congolesa acolheu todos os eventos da visita, devido à impossibilidade de cumprir a etapa prevista em Goma, no leste da RDC, atingida por uma onda de violência.
A multidão acompanhou Francisco, na primeira visita de um Papa ao maior país da África subsaariana desde 1985, num clima de festa e de contestação social: várias intervenções dos católicos congoleses, bispos e leigos, apelaram a eleições livres e transparentes ou criticaram a intervenção do Ruanda no leste da RDC.
Quase dois milhões de pessoas acompanharam a Eucaristia de quarta-feira, que teve como intenção central a oração pela paz e a justiça social.
A Missa a que o Papa presidiu esta quinta-feira, no Estádio dos Mártires, ficou marcada pelo momento em que Francisco pediu um grito uníssono de “não à corrupção”, que lançou os participantes num grito de vários minutos que só a muito custo seria interrompido, pela organização, para que a homilia pudesse continuar.
Simbolicamente, Francisco encontrou-se com um grupo de vítimas da violência no leste da República Democrática do Congo (RDC), condenando a “exploração sangrenta e ilegal da riqueza” do país, com impactos na vida de milhões de pessoas.
As vítimas falaram do seu sofrimento, com relatos, na primeira pessoa, de violações, canibalismo forçado, escravatura sexual e outros atos de crueldade extrema.
A este momento seguiu-se o encontro com organizações Sociocaritativas da Igreja Católica, perante as quais o Papa pediu mais atenção para a realidade africana.
“Como gostaria que os meios de comunicação dessem mais espaço a este país e à África inteira! Que se conheçam os povos, as culturas, os sofrimentos e as esperanças deste jovem continente do futuro”, declarou.
Num país em que os católicos representam quase 50% da população, com mais de 100 milhões de habitantes, Francisco dedicou particular atenção ao clero, membros de institutos de Vida Consagrada e aos bispos, com mensagens de esperança para o futuro e apelos ao compromisso social da Igreja, sem ceder a pressões do poder político.
O Papa prossegue entre hoje e domingo a sua quinta visita ao continente africano, numa “peregrinação ecuménica pela paz”, no Sudão do Sul, acompanhado pelo primaz da Igreja Anglicana, Justin Welby, e o novo moderador da Igreja da Escócia (Presbiteriana), Iain Greenshields.
OC
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