Vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar

Ficou claro que os McCann sabiam que o que existe «só existe quando os media conferem existência» “Vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar”, escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen . Esta expressão, lida hoje, remete para o poder dos media, “a” realidade dos nossos dias. Os media “controlam” a vida. A das pessoas e a das instituições. Não perceber ou não aceitar isto como verdade é não ter consciência do tempo em que vivemos. De facto, muito do que existe, só existe porque os media conferem existência. E o inverso também será verdadeiro? O que existe nos media, existe de facto? Muitas vezes, em defesa dos media, diz-se que afinal estes só “espelham” o real. Será verdade se incluirmos nos espelhos os que “esticam” ou “encolhem” quem neles se reflecte, tal como os que encontramos nas feiras. Esses espelhos reflectem a realidade distorcendo-a. Ou seja, reflectem mas deformam! Todos nós, os consumidores, temos de estar atentos a este jogo de espelhos e de interesses percebendo claramente o seguinte: Vemos o que nos querem mostrar, ouvimos o que nos querem dizer, lemos o que nos querem escrever, mas não podemos ignorar que tudo resulta de uma estratégia consciente e determinada. Os media têm o poder de acender e apagar a memória… com um clique se faz luz ou se remete à escuridão do esquecimento. Os últimos anos foram ricos em “factos” que mereceram a atenção dos media. Depois do processo “Casa Pia”, que ainda não acabou, ainda que disso não se fale, o país flutua entre ondas de emoção e sentimentos opostos. Ora se apoia o candidato a pai adoptivo da “Esmeralda”, ora se mostram as razões do pai biológico. Como que orientados por um maestro de orquestra, lá vamos nós afinando as emoções e projectando os sentimentos. Nestes últimos dias o país, e o mundo, oscilam em vagas de opiniões contraditórias em relação ao caso “Madeleine”. Sem juízos de valor e ainda sem se saber o que verdadeiramente terá acontecido, um facto é evidente, a ideia que o casal McCann tem dos media. Ficou claro que eles sabiam que o que existe só existe quando os media conferem existência. Neste caso, veremos se o criador ficará refém da sua criatura. Importa perceber que os media seguem as suas próprias estratégias mesmo aparentemente “servindo” as estratégias de outros, e nunca de forma inocente ou sem consequências, sejam elas políticas, económicas , religiosas ou sociais. Na verdade, hoje os media tendem a confiar em fontes com origens em interesses muito distintos, preterindo a investigação sempre mais dispendiosa, mais exigente e incompatível com a voracidade do tempo. É hoje claro e aceite que os media são um negócio sujeito às regras de mercado e é assim que devem ser vistos, lidos e entendidos. Não vem por isso mal ao mundo, até porque a vida de todos nós se passa num imenso cenário global, sendo por isso necessário conhecer bem o papel que nos cabe desempenhar. Ninguém, nem nenhuma instituição, se pode alhear desta realidade evitando ou ignorando o relacionamento com os media. Um relacionamento com regras claras no respeito pelos papéis de cada um é recomendável. Como também é recomendável para todos nós consumidores, uma atitude mais formada e informada, por isso também mais distanciada, nos momentos em que “Vemos, ouvimos e lemos” e não possamos ignorar. Jacinta Oliveira Profissional de Comunicação

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Agência ECCLESIA

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