Entre redes

Jornalistas e Igreja falam de duas realidades distintas, com tempos e linguagens diferentes e, sobretudo, com objectivos por vezes distantes A “notícia”, em Igreja (como junto de outras instituições de dimensão internacional), pode ser uma palavra geradora de ambiguidades. Não pelo conteúdo, pela sua construção técnica, antes pela experiência dos que a vivem ou de pessoas ou organizações que dela são protagonistas ou com ela estão relacionadas. O que levará responsáveis da Igreja Católica (aqui tomada como estudo de um caso) a tardarem comentários ao que vem a público, a reservarem para determinado momento a divulgação de decisões já tomadas ou a “esconderem” o que não acham que tem interesse? Com que eficácia se produzem comunicados quando não sintonizam com os tempos dos meios de comunicação social ou quando não respondem a questões por eles colocadas? Porque surge, por vezes, em aparente ou explícita tensão a relação entre a Igreja e o mundo dos media? As questões cruzam-se nos diálogos entre profissionais da comunicação e agentes pastorais que, na Igreja Católica, procuram pistas para melhor percorrer o caminho dos media. Não há dúvida que falamos de duas realidades distintas, com tempos e linguagens diferentes e, sobretudo, com objectivos por vezes distantes. O mundo mediático, sobretudo o que está envolvido por lógicas empresariais, procura audiências, pessoas em massa a quem possa vender anúncios de publicidade; a Igreja Católica, esquece multidões para atender a preocupações de uma pessoa singular e fazer com que aconteça nela, em específico, o Evangelho. A comunicação social não coloca limites à criatividade, aos meios possíveis e impossíveis e aos recursos humanos e económicos para saber mais, para ter a história mais completa, para chegar primeiro do que o concorrente; o cristianismo traz como premissa fundamental o “deixar tudo” – mesmo que sem perceber muito – para seguir Cristo, a confiança no que é Senhor de todas as histórias e no que diz que os “primeiros serão os últimos”. E quando o mundo mediático reclama clareza no que acontece entre mulheres e homens que são sujeitos e objectos de comunicação, os que partilham o ideal cristão podem não estar preocupados em saber ou revelar tudo o que acontece, podem não colocar tudo a circular na rede. Porque em causa estão histórias de vida sustentadas por uma dimensão espiritual e de relação com Deus, em comunhão entre pessoas e instituições, que é mais determinante do que acontecimentos esperados ou inesperados. Ao direito, legítimo, de informar ou não informar também se acrescentam as consequências de tal atitude. Porque a sociedade presente é de informação, onde o conhecimento se deixa fragmentar pelo que passa na comunicação social e o sentido da vida é influenciado pelo que percorre os fóruns mediáticos, distancias dos meios de comunicação social podem colocar progressivamente no isolamento pessoas e mesmo instituições. Como em cada época, à Igreja é pedido o discernimento para descobrir os areópagos de cada tempo, de cada grupo, de cada sociedade. Neles é necessário marcar uma presença dialogante: a que sabe ouvir e a que tem coisas para dizer. Quando não se quer dizer nada, será bom afirmá-lo ou que se fala no dia seguinte. Estando entre redes, a Igreja Católica não pode correr o risco de ficar emaranhada em qualquer uma delas: a dos media, impiedosa diante do direito de informar, e a eclesial, que pode não descobrir a acção que lhe é pedida em cada momento da história. Paulo Rocha, Director da Agência Ecclesia Ler também Mais jornalismo sénior Vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar

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