Nove confissões religiosas consideram que o Parlamento oferece «a morte aos doentes em sofrimento severo e fim de vida como porta de saída»
Lisboa, 09 dez 2022 (Ecclesia) – O Grupo de Trabalho Inter-Religioso Religiões-Saúde (GTIR) afirmou em comunicado enviado à Agência ECCLESIA que a Assembleia da República criou uma “cultura de descarte” e “rompeu o dique da vida”
“A Assembleia da República, com a insistente obsessão pela eutanásia, rompeu o dique da vida”, afirmam nove confissões religiosas que, em maio de 2018, assinaram a Declaração conjunta “Cuidar até ao fim com compaixão”.
Fazem parte do Grupo de Trabalho Inter-Religioso Religiões-Saúde é formado pela Aliança Evangélica Portuguesa, Comunidade Hindu Portuguesa, Comunidade Islâmica de Lisboa, Comunidade Israelita de Lisboa, Igreja Católica, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons), Igreja Ortodoxa da Sérvia, União Budista Portuguesa e União Portuguesa dos Adventistas do Sétimo Dia.
Para o GTIR, “o exemplo do Canadá, da Bélgica ou dos Países Baixos, revela que os lóbis da morte, e novas maiorias circunstanciais, depressa fizeram deslizar a legislação da eutanásia para a oferecer a novas situações de grande vulnerabilidade física, psíquica, social e económica”.
A assembleia da República insiste com a eutanásia, mas não parece ter refletido sobre a rampa deslizante de outros países”.
Para as nove confissões religiosas, “com a aprovação do suicídio assistido e da eutanásia, a Assembleia da República parece oferecer a morte aos doentes em sofrimento severo e fim de vida como porta de saída, criando, ao mesmo tempo, as condições para uma cultura de descarte dos mais frágeis”.
“O século passado, século das grandes guerras e de grandes dificuldades ao nível médico e de cuidados, respondeu ao sofrimento com a invenção dos cuidados paliativos; o século XXI, século do bem-estar, da qualidade de vida, da medicina de excelência e de grandes recursos ao nível dos cuidados e da farmacologia, oferece a morte”, lembra o documento.
As confissões religiosas reafirmam “a convicção comum de que a vida humana é inviolável e indisponível”, de acordo com a Constituição, por ser “um dom de Deus e “porque é humana e, por isso, é digna”
Estamos convictos que o futuro e a modernidade não estão na oferta da morte a pedido, mas na construção de sociedades compassivas e capazes de não empurrar ninguém para fora do barco da vida, mas de acompanhar até ao fim, minorando o seu sofrimento. E os Cuidados Paliativos fazem parte dessa aposta”.
As confissões religiosas lembram que o princípio “não matarás” é “património ético da humanidade e fio condutor da civilização”.
“’Matar’ não pode ser um direito e muito menos o pode ser o ‘dever de matar’, porque só a vida é fonte de direito”, lembra o documento.
A Assembleia da República aprovou hoje em votação final global um diploma sobre a regulação da prática da eutanásia, que será agora apreciado pelo presidente da República Portuguesa.
PR