Igreja: Sínodo «vai-se sedimentando lentamente» e «é preciso deixar que os processos acabem», afirma o Papa

«Na administração normal da Igreja faltavam as mulheres», defende Francisco em entrevista

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 06 set 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse que “é preciso deixar que os processos acabem”, referindo-se ao Sínodo dos Bispos 2021/2023, dedicado à sinodalidade, lembrando a “teologia do caminho”, para o facto de não estarem todos na mesma fase desse processo.

“Em todos os processos existem os que estão bem no processo, os que vão mais à frente, os que vão mais atrás. É preciso deixar que os processos acabem, e aí vai-se sedimentando lentamente, muito lentamente, um conceito”, explicou à TVI/CNN Portugal, que divulgou esta segunda-feira a segunda-parte da entrevista ao Papa.

Em resposta às diferentes reações que o Sínodo dos Bispos 2021/2023 está a provocar na Igreja Católica, nomeadamente nos bispos, Francisco salientou que “o Espírito Santo vai suscitando maneiras de amadurecer a Igreja”, e, referiu a “teologia do caminho, uns vão à frente a correr e outros para atrás”.

“O bom pastor, aquele que tem a função de pastor, o bispo, tem de se saber mover por entre o povo de Deus, tem de estar com os que estão mais à frente, tem de estar no meio e tem de estar atrás. Um pastor que está apenas num sítio não serve, tem de falar com os que estão mais adiantados para marcar o ritmo, ajudá-los para que não se percam, e estar no meio para sentir o cheiro das pessoas, do povo, e estar atrás com os que estão mais renitentes à mudança e acompanhá-los”, desenvolveu.

‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’, é o tema do processo sinodal, convocado pelo Papa, que está a decorrer até outubro de 2023; dividido em três fases, a primeira fase do processo sinodal terminou agora, com o envio das sínteses nacionais das Conferências Episcopais para a secretaria do Sínodo do Bispos e vai começar uma fase continental, antes do encontro mundial, no Vaticano.

No contexto deste caminho, o Papa referiu-se ao exemplo das mulheres que trabalham em diversos organismos da Cúria Romana, salientando que “é um processo cultural, um processo de justiça”.

“Na administração normal da Igreja faltavam as mulheres. Há secretárias do Sínodo dos Bispos, a vice-governadora do Vaticano é uma mulher, e porque não propor também mulheres na eleição de bispos”, desenvolveu, partilhando da sua experiência pessoal que “os relatórios mais maduros que recebia para conferir a ordenação como sacerdotes aos seminaristas eram elaborados por mulheres dos bairros onde eles iam trabalhar na paróquia”.

“A entrada das mulheres não é uma moda feminista, é um ato de justiça que culturalmente tinha sido posto de lado: ‘Queres fazer algo pela Igreja? Torna-te freira’. Não, pode ser leiga. Isto já vem dos últimos 20, 30 anos e que lentamente se vai implementando”, acrescentou.

Neste contexto, referiu-se ainda ao exemplo do Conselho da Economia, que tinha seis cardeais e seis laicos, todos homens, e, há três anos, nomeou “nos seis cargos dos laicos, cinco mulheres e um homem”, e “começou a funcionar melhor”, “porque a mulher sabe administrar noutro tipo de coisas, tem uma maneira de executar as coisas diferente porque raciocina de outra maneira, tem maternalidade, que é diferente”.

Recordando a viagem que fez a Fátima, pelo centenário das aparições, em 2017, o Papa que é “mariano” disse que o santuário português deixou-o “mudo”.

“Fátima é a Virgem do silêncio, para mim. Não sei quanto tempo estive ali, nem me apercebi, mas estar na presença da Virgem, estar simplesmente, nada mais…”, acrescentou, na entrevista à CNN Portugal.

CB/PR

 

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Agência ECCLESIA

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