Brasil: Bispos assinalam 200 anos de independência num país que tem uma «economia que mata»

Mensagem da CNBB ao povo brasileiro sobre o momento atual foi divulgada no fim da assembleia do episcopado

Aparecida, 02 set 2022 (Ecclesia) – A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil afirma que a fome é o aspeto “mais cruel e criminoso” da atualidade e quer proteger a “jovem democracia” de um país que tem uma “economia que mata”, e onde há “manipulação religiosa”.

“Ao comemorarmos o bicentenário da Independência do Brasil, é fundamental ter presente que somos uma nação marcada por riquezas e potencialidades, contudo, carente de um projeto de desenvolvimento humano, integral e sustentável. Vítimas de uma economia que mata, celebramos as conquistas desses 200 anos de independência conscientes de que condições de vida digna para todos ainda constituem um grande desafio”, afirma o episcopado brasileiro.

Na “Mensagem da CNBB ao povo brasileiro sobre o momento atual”, divulgada hoje em Aparecida, no fim da Assembleia do episcopado, os bispos afirmam que “é necessário o compromisso autêntico com a verdade, com a promoção de políticas de Estado capazes de contribuir de forma efetiva para a diminuição das desigualdades, a superação da violência e a ampliação do acesso a teto, trabalho e terra.

Comprometidos com essas conquistas e inspirados pela cultura do diálogo e do encontro, podemos ser uma nação realmente independente e soberana”.

A CNBB afirma que “é motivo de preocupação a manipulação religiosa e a disseminação de ‘fake news’ que têm o poder de desestruturar a harmonia entre pessoas, povos e culturas, colocando em risco a democracia”.

“A manipulação religiosa, protagonizada por políticos e religiosos, desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com o Evangelho e com a verdade”, sublinham.

Os bispos brasileiros lembram que a “corrupção, histórica, contínua e persistente, subtrai o que pertence aos mais pobres”, a importância da “Lei da Ficha Limpa, que proíbe que condenados por órgãos colegiados se possam candidatar a cargos políticos” e valorizam “mecanismos de controlo que garantam a ética na política”.

“Mesmo com todos esses desafios, a dinâmica da democracia coloca-nos, mais uma vez, num processo eleitoral. Tentativas de rutura da ordem institucional, veladas ou explícitas, buscam colocar em xeque a lisura desse processo, bem como, a conquista irrevogável do voto”, afirmam

Pelo seu exercício responsável e consciente, a população tem a capacidade de refazer caminhos, corrigir equívocos e reafirmar valores. Reiteramos nosso apoio incondicional às instituições da República, responsáveis pela legitimação do processo e dos resultados das eleições”.

Os bispos brasileiros pedem a toda a sociedade brasileira que participe “ativa e pacificamente das eleições, escolhendo candidatos e candidatas, para o executivo (presidente e governadores) e o legislativo (senadores e deputados federais, estaduais e distritais), que representem projetos comprometidos com o bem comum, a justiça social, a defesa integral da vida, da família e da Casa Comum”.

A Mensagem ao povo brasileiro, o episcopado denuncia a “complexa e sistémica crise” do país, “os alarmantes descuidos com a Terra”, a “violência latente, explícita e crescente”, e afirma que “o desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para todos” é um dos dramas sociais da atualidade, sendo “a fome certamente o mais cruel e criminoso, pois a alimentação é um direito inalienável”.

A “Mensagem da CNBB ao povo brasileiro sobre o momento atual” foi publicada no fim da Assembleia do episcopado, que reuniu no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, entre os dias 28 de agosto a 2 de setembro.

PR

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Agência ECCLESIA

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