O culto eucarístico fora da Missa

Padre Armindo Janeiro, Diocese de Leiria-Fátima

O culto eucarístico fora da Missa tem as suas raízes no contexto teológico que se desenvolveu entre os séculos IX e XII. Embora houvesse ainda uma visão unitária da Eucaristia, centrada na celebração da Missa e na comunhão dos fiéis, o certo é que já se notavam alguns sinais de desintegração e fragmentação da realidade eucarística. A participação na Eucaristia decrescia e a reflexão teológica mudava de perspectiva.

A teologia eucarística do século IX deixou de se ocupar da celebração eucarística enquanto tal, para se centrar na presença de Cristo no sacramento do pão e do vinho, esforçando-se por aprofundar a realidade e a natureza desta presença. Há uma tendência para contemplar o sacramento eucarístico em si mesmo sem o relacionar com o acontecimento da história da salvação do qual ele é sinal salvífico eficaz. Assim se reduzia a teologia eucarística à teologia da presença real. O evento celebrativo é visto como um processo ritual ordenado à produção da presença eucarística (M. Augé).

Contemplando a mesma Eucaristia, a mentalidade greco-cristã (Padres da Igreja) viu-a como memória da acção salvífica de Jesus Cristo, já a mentalidade germano-cristã, depois do século IX, vê a Eucaristia a partir do pão e do vinho, que são como o véu que cobre e esconde; debaixo do véu está o corpo de Cristo. Esta leitura teológica irá manter-se até ao II Concílio do Vaticano (1962-1965).

É pois normal que semelhante concepção tenha dado origem a expressões próprias, como o culto eucarístico fora da Missa. Sinal da nova sensibilidade devocional é o facto de, a partir do século XI, a Reserva eucarística, antes conservada na sacristia, passar para a nave da igreja, guardada primeiro em “pombas eucarísticas” penduradas nos altares e depois, em tabernáculos de parede ou em sacrários colocados sobre o próprio altar.

Entre os séculos XII e XIII, surgiu também o rito da elevação da hóstia e do cálice, realizado após as palavras de consagração. Nesta época ganhou grande importância a visão do pão e do vinho consagrados, não tanto para serem comungados, mas mais para serem vistos. Embora pareça acentuar a importância da celebração, na verdade distorce o seu significado: a presença real de Cristo é desejada não para ser recebida em alimento, mas para ser vista.

E dá-se uma contradição: por um lado aumentam as práticas da piedade eucarística, por outro diminui a frequência da comunhão eucarística, a tal ponto que o IV Concílio de Latrão, em 1215, decretou que, atingida a idade da razão, os fiéis deviam confessar-se uma vez por ano e receber, ao menos na Páscoa, o sacramento da Eucaristia.

Uma etapa decisiva no desenvolvimento do culto eucarístico fora da Missa ocorreu no século XIII com a instituição da festa de Corpo de Deus, por Urbano IV, em 1264. À volta desta festa, que rapidamente se tornou muito popular entre os fiéis, desenvolveram-se outras formas devocionais, tais como procissões e exposições com o Santíssimo Sacramento.

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Agência ECCLESIA

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