A Igreja de Antioquia

Após a morte por apedrejamento do jovem Estêvão em Jerusalém, a dispersão cristã para o norte, teve como resultado a fundação da Igreja de Antioquia, uma das criações mais felizes dos cristãos de origem grega que deixaram Jerusalém para evitar a perseguição. O cristianismo atravessou o mar e difundiu-se rapidamente na ilha de Chipre, mas a evangelização limitou-se aos judeus, entre os quais alguns receberam Jesus Cristo como Messias. Mas na Síria aconteceu qualquer coisa de novo e importante. Alguns cristãos de origem grega, os chamados helenistas, após longas caminhadas chegaram a Antioquia nas margens do rio Orontes, cidade servida por uma óptima estrada romana, centro de grande comércio, universitária, com sinagogas e principalmente templos pagãos, alguns deles com actos escandalosos nas cerimónias do culto. Os novos cristãos reuniram grupos de gentios de língua e origem grega ou romana e pregaram-lhes Jesus Cristo, o ressuscitado. Nasceu desta forma a primeira igreja entre os gentios. Foi um facto surpreendente e que gerou muitas dúvidas. Como é possível baptizar os pagãos sem antes terem passado pelo judaísmo? Os novos evangelizadores rompem com o círculo dos judeus e da mentalidade reinante na Judeia, deixam as tradições hebraicas – circuncisão, orações no templo, tradições sabáticas etc. – fazem-se pagãos com os pagãos, vivem como eles, comunicam-lhes a fé no Senhor ressuscitado. O Espírito Santo iluminou e fortaleceu esta igreja. Formaram-se pequenas comunidades domésticas, unidas entre si por uma grande caridade e alegria evangélicas, reuniam-se em assembleias plenárias e atraíam muitos jovens. Entretanto alguns grupos de judeus que receberam o evangelho reuniam-se entre si, unindo as tradições de Moisés com as dos apóstolos. Os grupos com pessoas mais idosas pertenciam aos judeus cristãos, os grupos mais jovens eram formados por pagãos, nascidos da pregação dos cristãos de Chipre e Cirene. As conversões multiplicaram-se, e a Igreja de Antioquia apresentou desde o início uma grande frescura espiritual, principalmente dos convertidos de origem pagã. Entre eles havia um jovem médico que recebeu a fé e será o autor do Livro dos Actos – São Lucas. Desta forma nasceu uma Igreja independente do judaísmo, autónoma, sem a vigilância dos rabinos de Jerusalém nem do grupo dos saduceus e fariseus. Levavam uma vida completamente cristã, fora do ambiente do Templo da cidade santa e de qualquer prática judaica. Os habitantes de Antioquia notaram e compreenderam que qualquer coisa de novo se passava na vida da cidade. Era uma religião diferente da sua, não adoravam os deuses pagãos, não incensavam a estátua do imperador de Roma, não praticavam no culto actos imorais. Quem eram eles, como se chamavam, donde provinham? «E foi em Antioquia que pela primeira vez os discípulos foram designados com o nome de «CRISTÃOS» (Act. 11, 26). Os fiéis que professavam a nova fé em Jesus, já têm um nome, não são mais pagãos, mas adoradores de Cristo e por isso «cristãos». Existe uma Igreja livre, com o direito de cidadania, orgulhosa do nome porque é chamada, com um grande futuro, à espera de grandes chefes que Deus lhes concederá em breve. Em Jerusalém, teme-se e alegra-se por aquilo que se passa em Antioquia. Para melhor informação envia-se um homem prudente, natural de Chipre, portanto com uma visão aberta ao futuro da Igreja e ao mesmo tempo em estreita relação com Pedro, Tiago e João, as colunas da Igreja. Chamava-se Barnabé, tinha um sobrinho adolescente, chamado Marcos, crescido em Jerusalém ao lado de Pedro e de seu tio. Será ele, mais tarde o companheiro de Paulo e de Pedro e escreverá o segundo Evangelho. «Quando Barnabé, viu o efeito da graça de Deus (em Antioquia) alegrou-se e exortava a todos para que permanecessem do fundo do coração unidos ao Senhor» (Act. 11, 23). De facto, Barnabé, «era um homem recto, cheio do Espírito Santo e de fé» (Act. 11, 24). Funchal, 15 de Abril de 2007 † Teodoro de Faria

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