Presidente da República enalteceu «figura da Igreja» e textos de «intervenção política»
Lisboa, 05 mai 2022 (Ecclesia) – Frei Bento Domingues foi homenageado esta terça-feira pelos 30 anos de crónicas escritas no jornal ‘Público’ e relembrado pelo presidente da República como uma “personalidade cívica” e política, “no sentido mais nobre do termo”.
“Ele é uma personalidade cívica. Os seus textos são todos exemplos daquilo que é humanamente, que é culturalmente, como figura da Igreja, mas depois são formas de intervenção política”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, numa mensagem gravada em vídeo, tornada pública na homenagem promovida pelo jornal ‘Público’ e o jornal digital ‘Sete Margens’.
“Frei Bento Domingues é político no sentido mais nobre do termo, o serviço da polis, da comunidade, dos outros: dos mais explorados, oprimidos, dependentes, marginalizados, excluídos. Foi essa a vocação que escolheu, o caminho que escolheu e continua a escolher todos os dias”, acrescentou o chefe de Estado.
Frei Bento Domingues trouxe a Igreja “de dentro da sacristia” para a praça pública, recordou o antigo diretor–adjunto do ‘Público’, Jorge Wemans.
“A presença semanal da coluna do frei Bento tem permitido trazer para a praça pública a religião, como algo que inspira comportamentos, atitudes e culturas que fazem parte do espaço público. Não é algo remetido à sacristia ou remetido ou ao individualismo de cada um, mas com impacto na sociedade que somos. E vice-versa. Ele tem permitido ajudar as pessoas a perceber o quanto os problemas e debates públicos têm eco dentro do interior da Igreja católica. Este vem e vai de um homem que procura a felicidade de cada um, e de todos tem sido o contributo do frei Bento não para o ‘Público’, mas para a Igreja e a República portuguesa”, explicou o jornalista, em declarações à Agência ECCLESIA.
Para o homenageado, escrever semanalmente foi a oportunidade de “assumir a sua forma de ser cristão”.
“As pessoas perguntavam: o que faço pela Igreja? existo! A gente só pensa que faz coisas pela Igreja na missa, nos sacramentos, nas orações, nas idas a Fátima, mas não. O Evangelho deve impregnar a vida toda. No trabalho que fiz ao longo dos anos, no jornal ‘Público’, nunca ocultei, mas sempre proclamei a minha maneira de ser cristão, não quer dizer que fosse coincidente com os bispos e papas”, explicou frei Bento Domingues.
Convidada na homenagem, para comentar os ecos das crónicas do Dominicano, a enfermeira Carmen Garcia, também cronista no jornal diário, referiu que os escritos do religioso, em determinada altura da sua vida, “foram o fio” que a mantiveram ligada à Igreja.
“Frei Bento, que já não vai para novo, tem uma das vozes mais jovens dentro da Igreja Católica e isto não é um contrassenso. Conheço bem padres mais novos, muito diferentes de frei Bento. Eu gostaria que houvesse muitos frei Bento, ainda não encontrei tantos. Há alguns, de facto, mas não são tantos como gostaria que fossem”, regista.
O investigador e antigo sindicalista Carvalho da Silva reconhece uma “alegria, confiança e esperança” na escrita do dominicano, constituindo uma “referência muito forte”.
“A centralidade do ser humano nas suas dimensões e a busca que ele faz sobre o ser humano nas diversas expressões, dimensões, forma de marcar presença individual e coletivo. Os temas são de uma pluralidade enorme porque anda sempre em busca de ir ao cerne do ser humano e partir desses centro para partir para a observação da sociedade. É isso que lhe dá uma dimensão de pluralidade cultural, de interpretação do ponto de vista religioso e politico”, afirmou à Agência ECCLESIA.
O religioso assinou cerca de 1400 crónicas, escritas semanalmente, muitas das quais antologiadas em quatro volumes pelo jornalista António Marujo e pela irmã Júlia Mendes Dias, religiosa do Sagrado Coração de Maria, onde se conhece uma “teologia de fragmentos, imersa no quotidiano”.
“O que ali está é um pensamento que olha para a experiencia de Deus como uma experiência que tem tudo a ver e está imersa na vida quotidiana e é impossível separar o que é politica, fé, religião, cultura. Tudo se cruza no pensamento do frei Bento. Relendo as crónicas e de uma forma sistemática, percebe-se a grande consistência do pensamento, o que ele chama uma teologia de fragmentos, exposta aos bocadinhos, mas é de uma profundidade e consistência extraordinária. Deve-se vincar que o centro das suas crónicas é Jesus e é a partir dai que ele constrói o seu pensamento”, sublinha o diretor do 7Margens’.
HM/LS