Celebrar e testemunhar a alegria da gratidão e da esperança

Homilia de D. António Francisco dos Santos na Missa Crismal QUINTA-FEIRA SANTA MISSA CRISMAL Catedral de Aveiro, 5 de Abril de 2007 “Celebrar e testemunhar a alegria da gratidão e da esperança” 1. Saúdo-vos, irmãos sacerdotes, com as palavras de João, o discípulo de todas as horas: “a graça e a paz vos sejam dadas por Jesus Cristo, … que nos ama e que pelo seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai”(Ap 1, 5-6). A Missa Crismal situa-nos no limiar da celebração da Páscoa e constitui para nós um momento e um sinal de graça e de bênção. Na manhã de Quinta-feira Santa, esta celebração esperada em cada ano exprime a nossa comunhão “de sacerdotes do Senhor” e “ministros do nosso Deus”. Uma comunhão ministerial e fraterna onde se insere e afirma a nossa missão pastoral ao serviço da Igreja diocesana, a Igreja de Jesus Cristo em terras de Aveiro. Nesta manhã de Quinta-feira Santa, a primeira que vivo convosco e para vós, quero celebrar e testemunhar a alegria da gratidão e da esperança. 2. A Palavra de Deus proclamada revela-nos a fonte da vocação e do ministério e abre-nos para os horizontes sempre novos da missão. Somos ungidos do Senhor e por Ele enviados a anunciar a boa nova, a proclamar a redenção e a levar ao mundo o óleo da alegria e os cânticos de louvor. “Somos sacerdotes do Senhor que connosco firmou uma aliança eterna” (Is 61, 1-8). Quantos os virem, terão de os reconhecer como linhagem que o Senhor abençoou (Cf Is 61, 9). Esta palavra profética de Isaías traduz-se hoje, no coração do vosso bispo, numa palavra e num testemunho de gratidão pelos sacerdotes que Deus ungiu e envia diariamente a servir com infatigável esperança e generosa dedicação a Igreja de Aveiro. Obrigado, irmãos sacerdotes. Hoje é dia de acção de graças na nossa Igreja Catedral e na nossa Igreja Diocesana. Vós sois dádiva de Deus a esta Igreja que nunca se cansará de vos agradecer e de para todos e para cada um de vós implorar a bênção e a graça para que sejais sempre pastores segundo o Coração de Cristo, o Bom Pastor. É importante todo o trabalho pastoral que realizam mas é essencial para a Igreja e para o mundo sobretudo o que somos — sacerdotes de Jesus Cristo. Lembro com particular afecto e fraterna comunhão os sacerdotes ordenados no último ano: Padres José Carlos Gabriel Pereira e João Paulo Soares Henriques; os sacerdotes em datas jubilares, o que celebra 50 anos de ordenação: Padre António Fragoso Tavares; e os que celebram 25 anos: Padres José Manuel Marques Pereira e Zbigniew Cfielezowski (Francisco). O nosso olhar confiante e o nosso gesto crente de gratidão eleva-nos até junto de Deus, recordando os sacerdotes que faleceram neste ano: Cón. Joaquim da Cruz Vaz, Padres José Dias Martins da Silva, Manuel Augusto Marques, Albino Rodrigues de Pinho e Diác. Arnaldo Almeida. Fazemos memória de gratidão e de sufrágio dos dois primeiros bispos desta Diocese e de todos os sacerdotes e diáconos, religiosos e leigos que a serviram. A sua memória é caminho percorrido, exemplo de vida e testemunho de santidade. As suas vidas são incentivo à fidelidade, escola de generosidade e fermento de esperança. Lembramos com dedicada gratidão os pais e mães dos sacerdotes que já partiram rumo à bem-aventurança e rezamos por quantos se encontram doentes, sustentos insubstituíveis e firmes da nossa total doação. Jesus foi à sua terra, a Nazaré, na Galileia e aí lhe entregaram o Livro de Isaías. Ao abrir o Livro e proclamar a Palavra de Deus, Jesus pôde concluir:”Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4, 21). Só pisando, também, nós, o chão sagrado desta nossa terra somos capazes de compreender o sentido e a verdade de tantas palavras proféticas, de tantos gestos heróicos, de tantas vidas despojadas, do dom do ministério sacerdotal e da beleza do reino de Deus que vós fazeis crescer. Esta Catedral e o espaço geográfico e humano da nossa diocese são este chão sagrado onde somos chamados a anunciar Jesus Cristo, no qual a Palavra de Deus se cumpre em plenitude. Mas a nossa missão alarga-se aos horizontes do mundo e o nosso ministério é sempre universal e missionário. Lembramos aqui todos os membros do nosso presbitério em missões diversas fora da Diocese, desde o Brasil à África com quem nos sentimos em permanente comunhão. A Igreja que somos vincula-nos a todas as Igrejas unidas numa íntima comunhão com o Papa Bento XVI, com todos os Bispos e sacerdotes do mundo. 3. Olhando as frentes vastíssimas da missão e as exigências prementes do ministério, sentido o peso excessivo da vossas tarefas e actividades pastorais e desejando em permanência estar próximo, ser irmão e fazer crescer a comunhão e a unidade, quero convidar-vos a relerdes à luz desta Missa Crismal o texto da oração de consagração desse dias em que a Igreja implorava sobre nós o Espírito Santo que pela imposição das mãos do Bispo ordenante recebemos. Só o Espírito de santidade nesse dia recebido fará da nossa vida exemplo para todos, da nossa pregação palavra do Evangelho a frutificar, do exercício quotidiano do ministério um modo e um sinal onde o povo se regenera, se reconcilia, se anima, se fortalece e se alimenta pelos sacramentos. Tudo isto só se obtém, continua a oração consecratória, se unidos em comunhão presbiteral e eclesial invocarmos em prolongada e persistente oração a misericórdia de Deus em favor do povo a nós confiado e em favor do mundo inteiro. Não permitamos, caríssimos padres, que o tempo que tudo envelhece, a rotina que tanto desgasta, o desânimo que fragiliza, a solidão que avilta, o medo que anula tantos rasgos de generosidade ou o individualismo que nos isola dos outros e desmorona a comunhão, nos retirem a alegria da primeira hora, desvirtuem o encanto de sermos “sacerdotes do Senhor” ou maculem a beleza que se espelha no rosto ungido dos “ministros do nosso Deus”. Em cada um de nós deve transparecer a alegria, o encanto e a beleza do sacerdócio de Cristo. 4. Ao dom e à graça recebidos no momento da ordenação juntam-se agora o valor e a bênção de uma experiência pastoral e de um ministério de entrega à Igreja e ao mundo que tem a idade do tempo que passou, as marcas dos trilhos dos caminhos percorridos, os sofrimentos de horas de incompreensão e de projectos não cumpridos, as alegrias inúmeras de ver crescer na fé, na esperança e no amor de Jesus, o Salvador, um povo de irmãos. Quero agradecer-vos e assumir este itinerário por vós já realizado ao serviço deste Povo de Deus a que o Espírito agora me envia, e que alguns dos irmãos do Presbitério diocesano servem desde o dia primeiro da nossa Diocese. A sedimentar este caminho estão particularmente aqueles a quem a doença atingiu e as provações da vida mais fazem sofrer. Quero que sintam a presença da oração de todos nós e a proximidade da minha solicitude fraterna. 5. Se, por vós, celebro e proclamo a alegria da gratidão, porque o Senhor nosso Deus nos chamou a sermos “seus sacerdotes”, quero convosco ser incansável semeador da esperança de que novas vocações, generosas e decididas, hão-de surgir na nossa Diocese. Animado pela esperança cristã convido-vos, irmãos sacerdotes, a revelardes ao mundo, como presença viva do Espírito, a graça, a alegria e a beleza que Deus inscreveu na nossa vida de padres; a anunciardes Jesus Cristo com uma fé ardente e com um infatigável entusiasmo; a encarardes sempre a vossa missão como um serviço; a procurardes uma percepção atenta e constante das verdadeiras prioridades pastorais; a respeitardes os ritmos de vivência cristã e do aprofundamento do sentido da fé das comunidades, dos grupos e das pessoas. Vivamos atentos à voz de Deus. Sejamos solícitos discípulos de Jesus, o Mestre. Deixemo-nos iluminar pelo discernimento e pelas intuições do Espírito. Procuremos a lucidez da sabedoria e a coragem da humildade que nos coloca no coração do mundo para aí plantarmos a loucura da Cruz e a alegria da Páscoa. Este é também o milagre e o mistério que a Eucaristia, a Reconciliação e todos os sacramentos diariamente celebrados operam nas comunidades e nas pessoas que amamos e servimos. A nossa missão consiste em falar de Deus ao mundo e não em queixarmo-nos do mundo a Deus. O padre que é homem de Deus dado à Igreja e ao mundo nunca pode ser um paladino do lamento e do pessimismo mas uma sentinela da esperança, da fé e da vida. Pertence-nos como dom e como missão oferecer à sociedade e ao mundo um olhar de esperança sobre os acontecimentos, realidade e situações, um sinal de luz sobre a alegria e sobre a dor, um gesto de perdão sobre o pecado e sobre o medo e palavras e sacramentos de amor, de acolhimento e de vida aos que procuram Cristo e a tantos que se sentem famintos de Deus. Pensemos emtantos outros que estão no limiar do regresso à comunhão da Igreja à espera que lhe franqueemos as portas do nosso coração, que são sempre portas de verdade e de fidelidade mas também de compaixão e de perdão. Cumpre-nos, sermos nas nossas comunidades pontes que consolidam o diálogo fraterno e suavizam tensões. Importa sabermos testemunhar a urgência e a profundidade de uma vida de oração para que a nossa entrega ao anúncio do Evangelho sejam reflexo do Divino que nos habita. Lembro-vos, irmãos sacerdotes, uma oportuna exortação de São Francisco de Assis que diz assim: Onde há amor e sabedoria não há medo nem ganância. Onde há paciência e humildade não há ira nem perturbação. Onde há pobreza e alegria não há cobiça nem avareza. Onde há paz e meditação não há desassossego nem dissipação. Onde o temor de Deus guarda a casa o inimigo não encontra portas. Onde há misericórdia e perdão não há excesso nem dureza de coração (São Francisco de Assis, Exortação 27) 6. Às Comunidades cristãs da nossa diocese e a todos vós irmãos e irmãs, diáconos, consagrados, seminaristas, leigos e leigas convido-vos a este testemunho de comunhão eclesial de estima fraterna, da colaboração constante e da oração assídua com e pelos nossos sacerdotes. A vida dos sacerdotes, o seu testemunho apostólico, a sua alegria de servir, o dinamismo do seu trabalho pastoral e o surgir de novas vocações para a vida sacerdotal dependem muito do modo como as comunidades os acolhem e da intensidade, da estima, da oração que os envolve. Renovamos hoje as nossas promessas sacerdotais. Façamo-lo com verdade e com alegria. Deus não falta. Deus antecede-nos no caminho. Coragem. Vamos juntos. Com Cristo ao leme. Só com Ele seremos santos como Deus é santo e servidores fiéis e felizes do seu Povo. 7. Lembrai-vos, Mãe de Jesus Sacerdote e Mãe da Igreja “sinal de esperança segura e de consolação”, dos sacerdotes que o vosso Filho concedeu à sua Igreja. Vós sois a Senhora do Cenáculo, da Cruz e da Páscoa. Acompanhai-nos com a bênção de Mãe para que sejamos sempre fiéis e generosos e convosco possamos proclamar com a alegria da gratidão e a certeza da esperança: A minha alma glorifica o Senhor”. + António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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Agência ECCLESIA

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