Homilia do arcebispo de Évora na Missa Crismal

Saúdo-vos a todos com a alegria cristã de nos reunirmos em nome do Senhor, para celebrarmos a Missa Crismal, em Quinta-feira Santa. Bendito seja Deus por cada um de nós. Bendito seja Deus pelo Presbitério Eborense e por todos o que o acompanham no Amor Fraterno da oração e do serviço.

Louvo o Bom e Belo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo nosso presbitério e consagro cada um dos seus membros, pelas mãos maternais de Maria, ao Amor do Eterno Pai, na unidade do Espírito Santo.

Louvo o Senhor pelos Presbíteros chegados este ano ao nosso presbitério: Reverendo Padre Marco Roscini, da Associação Mater Dei, ordenado em Vila Viçosa em 13 de junho de 2021; Reverendo Padre Tiago Neves Carlos, ordenado na Sé de Évora em 8 de dezembro de 2021; e o Reverendo Padre Daniel Jamba oriundo da Diocese do Lubamgo, que veio efetuar os seus estudos universitários em Psicologia na Universidade de Évora. Reside em Santana de Portel, colaborando como Vigário Paroquial com o Rev. º Padre José Mombo Lelo, Pároco da Unidade Pastoral de Portel.

É com grande alegria e sentido de gratidão que agradeço ao Senhor o dom da vida e do ministério dos três presbíteros que celebram este ano as suas bodas de prata sacerdotais:

  • Reverendo P. Manuel José Tobias Vieira, Pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima em Évora, Assistente Diocesano da Pastoral da Saúde e Capelão do Hospital do Espírito Santo, ordenado em 07 de dezembro de 1997
  • Reverendo Padre Ivan Hudz, Pároco das Paróquias de Alcáçovas, Torrão e S. Romão do Sado e Coordenador dos Capelães dos Imigrantes Ucranianos de Rito Bizantino, ordenado em 20 de setembro de 1997;
  • Reverendo Padre Luís Filipe Cardoso Fernandes, Pároco “in solidum” de S. Bartolomeu, em Vila Viçosa, Bencatel, Santa Catarina de Pardais, Santiago Maior e Capelins-Montes Juntos Capelão da S.C.M. de Vila Viçosa e Assistente Espiritual Regional do CNE, ordenado em 13 de julho de 1997.

Peço ao Senhor pelo eterno descanso do Rev. º Padre Joaquim Soares, falecido na sua casa em Lixa-Porto. Nasceu a 27 de março de 1927 em Felgueiras e foi ordenado a 21 de agosto de 1955 em Évora. Foi Pároco em Campo Maior e em várias comunidades da Diáspora emigrada e colaborou na Diocese do Algarve como Pároco de Ferragudo e Algoz 12 anos, e cooperou com Monchique 2 anos.

No Evangelho que acabámos de acolher, Jesus assume-se como o “Hoje” de Deus, Ele é o cumprimento pleno das promessas do Pai. N’Ele repousa a fidelidade daquele que prometeu enviar o Seu Ungido “a anunciar a boa nova aos infelizes, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a proclamar o ano da graça do Senhor e o dia da acção justiceira do nosso Deus”.

Jesus é o Sacerdote eterno! Ungido pelo Espírito, foi enviado pelo Pai, na plenitude dos tempos, “a evangelizar os pobres, a amar os contritos de coração”, como “médico da carne e do espírito, mediador entre Deus e os homens”, como nos ensina a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, Sacrossanctum Concílio, no seu número 5.

Com Cristo, iniciaram-se os Novos Tempos, um “Ano da Graça”, que é o          tempo da eterna redenção e Libertação Universal, o Kairós da redenção.

O anúncio messiânico de salvação que Jesus assume como cumprimento das promessas messiânicas, implica a salvação do homem todo e de todos os homens. O mesmo Espírito de Deus que O ungiu, desceu sobre a Igreja em Dia de Pentecostes, constituindo a Igreja como Comunidade de Discípulos Missionários e testemunhas da Esperança. Assim, como Cristo é o enviado do Pai, a Igreja é enviada por Cristo, como portadora da Boa Nova da Salvação e “Sacramento Universal de Salvação”.

 

 

«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu»

Eis o sentido da celebração de hoje com a bênção dos óleos e a renovação das promessas sacerdotais.

A centralidade da liturgia presidida pelo Bispo na igreja Mãe, a Catedral, sublinhado pelo Concílio Vaticano II (cf. SC 41), manifesta-se hoje de modo icónico. Anualmente na Missa Crismal, os presbíteros renovam as promessas sacerdotais, consagra-se o azeite com as essências aromáticas da Confirmação, o óleo do crisma o qual serve também para a ordenação dos Bispos e dos Presbíteros, para a dedicação das igrejas e do altar, para a unção explicativa pós-batismal dos neófitos e benzem-se o azeite da unção pré-batismal dos catecúmenos e o azeite para a unção dos enfermos.

 

Perante estes sinais, percebemos com clareza que o ministério presbiteral apresenta, não como uma função, uma tarefa, ou uma posição, mas como um serviço a tempo inteiro e exclusivo, constituindo mediante a ordenação sacramental. A sacramentalidade é, o sinal mais específico do presbítero. Eis o grande mistério pelo qual, os presbíteros foram feitos ministros: a participação no único sacerdócio de Jesus Cristo, no mistério de um amor oblativo, pela sua entrega sem limites até à morte e morte de Cruz. Eis o Servo de JHWH, o Cordeiro Pascal que levamos nas entranhas do nosso ministério Presbiteral.

Por isso, o presbítero é chamado a centrar-se de modo especial na Eucaristia. Esta é o centro de cada comunidade paroquial.  Para que todos possam alcançar a plenitude da vida cristã, deverá igualmente cuidar do sacramento da Reconciliação, da visita ao Santíssimo sacramento, da visita às famílias, em particular aos doentes… Na realidade são muitas as atividades a que os Presbíteros são chamados. Aos Presbíteros, em especial aos párocos, incumbe o dever de promover com zelo, através do acompanhamento de proximidade a caminhada cristã das novas gerações, dos adolescentes e jovens, e das diversas vocações; sempre por meio do seu exemplo de vida, transparecendo a sua identidade, vivendo em coerência com ela. O Presbítero é apontado como homem que ama a Igreja, como perito da comunhão e construtor da comunidade, alguém em plena unidade com a Igreja particular e a Igreja Universal, sabendo que “não é possível encontrar a justa solução dos grandes problemas, senão pela via da Sinodalidade”, como reconhecia Eusébio de Cesareia no longínquo Séc. IV (Uvita Constantini 1,51).

Por experiência, sabemos que aos párocos não faltam dificuldades pastorais, angústias e cansaços, nem sempre retemperados com imprescindíveis períodos de retiro espiritual, de atualização teológico-pastoral e do justo repouso. A cultura contemporânea, erosiva e amolecedora, descentra o presbítero da sua essencial dimensão mistérico-sacramental, fazendo-o cair nos perigos do ativismo, do funcionalismo, e da planificação mais empresarial do que pastoral, tornando-se assim dono e protagonista da Igreja, esquecendo-se que a Igreja é de Cristo e ao Padre  importa somente ser seu instrumento.

 

Na Igreja – mistério, comunhão e missão, apresentada desde as suas origens por toda a Patrística como povo de Cristo e sacramento universal de salvação, como sintetiza para o nosso tempo a Constituição Dogmática a Lúmen Gentium, descobre-se a razão fundamental do sacerdócio ministerial. Pela ordenação sacramental, foi-lhes confiada uma missão nova e específica para agir in persona Christi Capitis et in nomine Ecclesiae (na pessoa de Cristo Cabeça e em nome da Igreja).

Através do ministério da Palavra evangelizadora, que convida à conversão e à santidade; da Palavra cultual, que dá graças pela misericórdia de Deus; pela Palavra sacramental, a qual é fonte da graça, o presbítero prolonga o mistério de Cristo no próprio exercício do ministério, tornando-se o ministro do mistério. O desafio colocado à nossa espiritualidade é, pois, a peregrinação interior do Mistério ao ministério vivido, fonte que jorra para a vida, sempre renovada no dom recebido pela ordenação sacramental.

Porque o mistério de Cristo implica o ministério da Igreja, nunca faltem presbíteros totalmente identificados com Cristo, o Bom Pastor que dá a vida pelos seus, amando-os até ao fim. O presbítero não é um simples coordenador ou animador competente, mas é o pastor próprio da comunidade paroquial. A todos os Presbíteros e a todos os párocos, com afeto, admiração e gratidão, dirijo um renovado convite: sede homens de fé: do mistério ao ministério! Dizei ‘não’ ao individualismo na vida e na ação pastoral. Não nos isolemos, porque perdemos o sentido do presbitério e o sentido diocesano, lentamente autocentramo-nos e esterilizamo-nos. O pragmatismo gerador de sucessos pessoais é enganador. A sinodalidade é desde sempre o caminho da Igreja e só a unidade é evangélica. O autocentrismo termina sempre na esterilidade. Não em “nome de Cristo”, colocando-me no seu lugar, mas tudo com Cristo, sendo Ele o único Senhor da Igreja e pelo Espírito Santo o Seu Pastor.

 

Como nos dizia o Cardeal Teólogo de saudosa memória, na sua homilia de 5 de abril de 2007: «numa sociedade dispersa como a atual, é importante que o sacerdote seja identificado como “pastor”, principalmente nesta sociedade, à qual se pode aplicar a frase de Jesus, «são como ovelhas sem pastor». Como sabiamente explica, ser pastor não indica, apenas, mais um sector de actividades do sacerdote, na complexidade da sua missão no mundo contemporâneo. É qualidade que se exprime e concretiza em toda a sua acção, garantia da unidade vital entre o que somos e o que fazemos, no exercício do nosso ministério. A atitude do pastor revela os critérios e os ritmos das diversas tarefas e atitudes, define a missão e a maneira como nos vêm.  Um pastor ama sempre e faz tudo com amor: quando acolhe, quando escuta e consola, quando orienta, quando se alegra com os que estão felizes e partilha a dor dos que sofrem; quando é exigente e quando é compreensivo e tolerante; quando ensina, todos e cada um a discernirem, no concreto das suas vidas, os caminhos do Reino de Deus. Para um pastor a autoridade não é individual, mas colegial, é expressão da condução da Igreja pelos caminhos e critérios da comunhão eclesial. Ela é, no sacerdote pastor, expressão da sua fidelidade à Igreja, é uma obediência, em que a fidelidade à Igreja é credencial da sua autenticidade. Suscitar vocações sacerdotais é algo que nos deve mobilizar a todos, mas antes de acções específicas a desencadear, há que viver este testemunho das nossas vidas de autênticos pastores, sacramentos de Cristo Bom Pastor.

Com o querido Papa Francisco, rezemos somos uma Igreja Particular empenhada na vivência do Sínodo 2021-2023. Três verbos nos dinamizam: encontrar, escutar, discernir, por isso rezemos.

Espírito Santo!

Eis-nos aqui, diante de Vós, reunidos em vosso Nome.

 

 

Nosso defensor,

Vinde,

ficai connosco;

tomai posse do nosso coração.

Mostrai-nos o destino,

caminhai connosco,

conservando-nos em comunhão.

Aí de nós, pecadores, se cairmos na confusão!

Não o permitais.

Iluminai a nossa ignorância,

libertai-nos da parcialidade.

Senhor que dais a vida,

em Vós, a unidade,

convosco, a verdade e a justiça;

em marcha até à vida sem ocaso: nós vos suplicamos.

Vós que soprais onde e como desejais,

a todos dando a possibilidade de passar, com Jesus, ao Pai: nós vos adoramos,

agora e sempre. Amém.

Basílica Metropolitana de Évora, 14-04-2022

D. Francisco José Senra Coelho, Arcebispo de Évora

 

 

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