Guarda: Tradição de sextas-feiras da Quaresma recorda os que já partiram

«Encomendação das Almas» alerta os viventes para rezar pelos familiares falecidos

Foto: Honorato Esteves

Guarda, 01 abr 2022 (Ecclesia) – Honorato Esteves, do Centro Cultural de Famalicão da Serra, na diocese da Guarda, disse à Agência ECCLESIA que a “encomendação das almas”, que acontece a cada sexta-feira da Quaresma, alerta os viventes para “rezarem pelos que já partiram”.

“As pessoas juntam-se à noite para a encomendação das almas, para recitar/cantar quadras em que se alerta os viventes para o facto de todos nós estarmos destinados a partir, como aqueles que foram nossos familiares e já não estão cá”, explica o entrevistado.

Uma tradição de Quaresma, de “iniciativa coral”, que acontece em várias localidades da diocese e que em Famalicão da Serra “tem vindo a persistir” com a ajuda do grupo de cantares do Centro Cultural.

As quadras são cantadas e depois interrompidas com oração, reza-se o Pai Nosso e a Avé Maria, o apelo diz mesmo para rezarmos e lembrar aos vivos que rezem pelas almas dos que já partiram, para não se esquecerem o que eles fizeram por cada um antes de partir, e que um dia vão querer que alguém se lembre deles”.

Honorato Esteves recorda que a Encomendação das Almas é “muito antiga”, foi “interrompida durante muitos anos” e que as novas gerações deixaram de cantar.

“As gerações mais novas deixaram de cantar, não é uma tradição atrativa, a sonoridade não entra no ouvido e até alguns dizem ser assustadora”, indica.

Na localidade o centro cultural de Famalicão da Serra tem tido um papel importante no “preservação desta tradição, com índole religiosa e etnográfica” e vai sendo mais conhecida, fruto da visibilidade que vai sendo dada pela Câmara da Guarda.

“Depende da vivência que cada um dá à sua própria fé, sempre que posso vou acompanhar o grupo, sou instrumentista, toco acordeão e concertina, e o grupo faz o percurso que se fazia antigamente, nos vários pontos em que se cantava, o caminho era iluminado com velas e candeeiros de petróleo mas o percurso é o mesmo”, recorda.

Foto: Honorato Esteves

Todas as sextas-feiras da Quaresma, depois da 10 da noite, o grupo faz um percurso “com simbolismo, parando em locais específicos, como as encruzilhadas”.

Honorato Esteves ajudou “na recolha da letra” e orgulha-se em que o grupo possa “manter viva uma identidade local, cultural e religiosa que vem dos antepassados” e que a “Igreja tem vindo a valorizar”.

Alinhada a esta tradição, “mas que não sofreu interregno é a tradição das Alvíssaras”, que acontece a cada sábado santo, véspera do Domingo de Páscoa, e que este ano vai acontecer.

“Um grupo que se reúne à meia noite de sábado santo, junto à capela para cantar, dando a boa nova a Nossa Senhora porque Cristo ressuscitou, vai acontecer este ano e são cânticos mais alegres, de felicitações de dar a boa nova”, conta.

Esta tradição de Quaresma integra o programa de rádio ECCLESIA deste sábado, 02 de abril, na Antena 1 da rádio pública, pelas 06h00, ficando depois disponível online.

SN

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