Madeira: Procissão das Cinzas volta às ruas de Câmara de Lobos, com imagens que só uma vez por ano deixam «casas dos guardadores»

Tradição quaresmal termina na Paróquia de Santa Cecília

Foto: Paróquia De Santa Cecília

Câmara de Lobos, Madeira, 01 mar 2022 (Ecclesia) – O padre Paulo Sérgio, pároco de Santa Cecília, em Câmara de Lobos, Diocese do Funchal, adiantou à Agência ECCLESIA que a procissão das Cinzas volta às ruas esta quarta-feira, numa tradição “penitencial” de preparação para a Páscoa.

“Esta procissão é um momento quaresmal, um caminho de fé mas com ato penitencial, acontece em quarta-feira de Cinzas, inicia com uma hora de adoração às 17h00, no Convento de São Bernardino, depois as pessoas vão chegando com as imagens enfeitadas e, às 18h30, sai a procissão até à Igreja de Santa Cecília”, referiu.

O sacerdote vai viver pela primeira vez este “ato de fé”, uma vez que está há pouco tempo na paróquia e “no ano passado, não houve procissão devido as limitações impostas pela pandemia”.

“No ano passado convidei as pessoas a trazerem as imagens à igreja mas foi uma celebração diferente”, explica.

As imagens que incorporam a procissão estão em casa de paroquianos, “guardadores das imagens”, como são designados, e contam que tal acontece depois do Convento de São Bernardino “ter sofrido um incêndio e as pessoas salvaram” o espólio, cerca de 1920.

As pessoas têm uma espiritualidade franciscana muito marcada, antes de existir a paróquia as pessoas participavam das celebrações no Convento e esta procissão é uma marca na caminhada de fé dos paroquianos”.

As imagens de São Francisco de Assis, Santa Margarida Maria de Cortona, São Roque, Santa Rosa Viterbo, São Benedito, Santo Ivo, Rainha Santa Isabel de Portugal e São Salvador juntam-se à imagem do Senhor dos Passos que está na Igreja e compõem-se a procissão que sai à rua esta quarta-feira de Cinzas.

“As pessoas preparam as imagens nas suas casas, colocam-nas nos andores enfeitados com flores, cada família guardadora responsabiliza-se pela sua imagem, arranja familiares ou vizinhos para a levarem na procissão, chegada a paróquia de Santa Cecília acontece a celebração da Eucaristia com imposição das Cinzas”, assinala.

O padre Paulo Sérgio espera “celebrar com a comunidade e viver esta espiritualidade tão marcada”, tendo “grande expetativa” para ver como “fazem, como vivem e aprender a viver mais intensamente este tempo de preparação para a Páscoa”.

Fátima e a sua tia, Isabel Dinis, vizinhas do Convento de São Bernardino, são as “guardadoras” da imagem de São Benedito, tendo “já perdido os anos” a que a imagem faz “parte da família”.

Já dizia o meu avô que a igreja ardeu e as pessoas foram salvar os santos, guardaram nas suas casas e o nosso está aqui, desde que me lembro, era o que a minha mãe contava, já deve ser há mais de cem anos”.

A anciã aprendeu ainda com a mãe que “São Benedito era cozinheiro no convento” e “homem de muita simplicidade, visto ali como exemplo”.

Foto: Paróquia De Santa Cecília

Já a sobrinha Fátima, depois de ser emigrante 40 anos na Venezuela, cuida da tia Isabel e acolhe esta tradição com muito agrado e respeito.

“Somos vizinhas do convento de São Bernardino, quando chega o dia das cinzas enfeita-se o andor pomos flores, vestimos o santo, que é muito antigo, de madeira, e tem de ser com cuidado, depois levamos para a Igreja”, conta.

A imagem, devidamente colocada numa sala em casa, tornou-se uma presença no quotidiano da família.

“É uma presença habitual já e quando passamos por ele, benzemo-nos e até falamos com ele, agora temos pedido muito a paz, para nossa casa e para todo o mundo”, partilha Fátima.

A procissão das Cinzas, uma manifestação religiosa característica dos frades Franciscanos foi interrompida entre 1977 e 2001, retomando em 2002, uma tradição “que envolve muita gente”, acompanhada de banda de música, num percurso cerca de 40 minutos.

SN

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Agência ECCLESIA

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