Missionária da Boa Nova alia a coordenação do Instituto com o serviço de enfermagem
Porto, 01 fev 2022 (Ecclesia) – Isabel Sousa, missionária da Boa Nova e enfermeira, contou à Agência ECCLESIA como alia as duas dimensões na sua vida e, desde novembro de 2020, numa “experiência diferente”, está ao serviço da linha Saúde 24, que a faz entrar no “mundo real”.
“Há telefonemas, por exemplo de adolescentes com questões na área da sexualidade, que me fazem entrar no mundo real, muitas vezes nós, consagrados, vivemos entre pares, família e amigos. alguns com filhos nestas idades, mas ali é estar tão presente, ouvir realidades e dificuldades que nunca me chegariam de outra forma”, explica a missionária à Agência ECCLESIA.
Foi no mês de março de 2020 que Isabel Sousa decidiu “colocar-se à disposição” para integrar a equipa da Saúde 24; em novembro foi contactada, fez uma formação e começou a fazer oito horas semanais.
“Em tempo de pandemia, no ano 2020, estava em Portugal, tinha assumido a coordenação do Instituto das Missionárias e isso levava-me a ter de passar 90% do tempo no nosso país, mas sentia que era necessário dar alguma coisa, num tempo tão difícil”, recorda.
Quando foi chamada disse “um sim cheio de medo” e justifica que sabia fazer enfermagem “tu a tu” mas ao telefone seria uma novidade; na sua cabeça pairavam “muitas perguntas e dúvidas” mas atualmente sente que foi a “decisão certa”.
Tem sido um crescimento enorme, em termos humanos e profissionais, mas da minha fé também, as experiências diferentes que ouço porque quem se abeira da Linha Saúde 24 tem um problema diferente”.
O ambiente é difícil, “são muitas chamadas em cada turno”, os colegas “não se conhecem, nem há relação” mas Isabel Sousa, com mais de 20 anos de enfermeira, já se vai habituando ao formato.
“80% das chamadas que atendemos são casos de Covid mas há todas as outras áreas, desde a mulher que está a começar em trabalho de parto, a uma pessoa que precisa de uma ambulância; outras vezes percebemos que a pessoa está completamente sozinha, que não consegue dizer o telefone, a medicação que toma, não há um vizinho que ajude, que não conhece e torna-se muito difícil, ali a vontade era pegar nas minhas pernas e ir lá, mas essa é a barreira porque atendemos gente de norte a sul do país e ilhas”, explica a consagrada.
A entrevistada resume que ali “o que podem fazer é triar, avaliar e dar alguns cuidados e encaminhar depois”.
“Há situações em que o trabalho da Saúde 24 termina ali, mas para mim não, às vezes perceber que as pessoas não têm meios para ir, seja família ou meio económico, depois continuamos com estas pessoas na mente, que terá acontecido, pergunto-me no fim do dia… Só consigo digerir isto a dizer: ‘olha Senhor eu fiz até aqui agora é a tua parte”, partilha.
Esta inquietação de ajudar o outro e “mudar o mundo” já vinha desde o tempo de adolescência quando Isabel Sousa conheceu um missionário.
“Na minha adolescência tinha a interpelação de mudar o mundo, queria começar por África, porque naquela altura chegavam notícias quentes de Angola e Moçambique, e numa aula de Educação Moral e Religiosa Católica ouvi uma experiência de um missionário e ali fez-me sentido, o que quero fazer tem um nome”, recorda.
Isabel Sousa, natural de Felgueiras, foi estudar Enfermagem para o Porto e nas “aventuras de encontrar um quarto, perto da universidade e a bom preço”, chegou à casa das Missionárias da Boa Nova.
“Nessa altura disse que tinha esta vontade de ir para África e ali fui ouvindo as suas experiências e as suas formas de trabalhar, percebendo se era o meu caminho, tive um orientador espiritual e foi um tempo de discernimento, a par com o curso”, assume.
“Com as dúvidas próprias da decisão” Isabel Sousa assumiu a consagração, fez a formação e já esteve em missão em Moçambique.
A experiência de consagrados, contada na primeira pessoa, é o mote do programa de rádio ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública, de 31 de janeiro a 04 de fevereiro, pelas 22h45, ficando depois disponível online.
SN
